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Segunda, 09 Outubro 2017 12:41

Bajú e revú são todos angolanos

De um tempo a esta parte foram introduzidas no dicionário sociopolítico angolano duas novas palavras, por via das quais passaram a ser adjectivados os actores políticos, activos ou passivos, dependentemente das suas opções e/ou pronunciamentos políticos.

Por Carlos Calongo

Tratam-se das palavras “bajú" e "revú”, diminutivos de bajulador e revolucionário, que na forma originária existem, faz tempo. Mais do que a existência das referidas palavras, o conceito funciona como uma espécie de “gentílico político” dos cidadãos, de acordo com a sua postura política, e prova a característica de evolução constante atribuída à linguagem.

E antes de avançarmos para outros elementos desta reflexão, impõe-se uma passagem ao significado dos termos que são assim definidos pelo dicionário.

Bajulador: Etimologicamente a palavra é originária do latim bajulo, bajulatum ou bajulare, que significa “levar nos braços” ou “levar às costas”, no sentido de “ajudar alguém”. Na língua portuguesa, bajular é um verbo transitivo directo utilizado no sentido de praticar a adulação ou o lisonjeio com o propósito de conquistar algo em troca, como uma recompensa.

A bajulação – acto de bajular – é normalmente caracterizada pelo exagero dos elogios ou carinhos.

O bajulador (indivíduo que põe o verbo em movimento) é tido como um aproveitador e oportunista, pois utiliza falsos sentimentos para conquistar os seus objectivos. Por esta razão, o termo “bajular” é considerado pejorativo e tem como sinómos os termos adular, bajoujar, embandeirar, lisonjear, etc.

Em inglês, o verbo “bajular” pode ser traduzido para to flatter. Quanto à palavra Revolução (do latim revolutìo,ónis: acto de revolver), é uma mudança abrupta no poder político ou na organização estrutural de uma sociedade que ocorre num período relactivamente curto de tempo. O termo é igualmente apropriado para descrever mudanças rápidas e profundas nos campos científico-tecnológico, económico e comportamental humano.

Em francês, révolucionnaire é um adjectivo, ou seja, está relacionado com a revolução, em especial as revoluções políticas. Também se entende como revolucionário, o que introduz novidades ou grandes alterações, que ou quem é partidário ou participante de uma revolução. Chegados aquí, em rigor, não sei se tem alguma elevação chamar alguém de bajulador pelo simples facto de, por sua convicção, defender posições e realizações relacionadas com o partido governante, que para além de ser o MPLA, passou a ser, também, o partido da posição.

Vai soando a crime, manifestar satisfação pelas realizações ( existem à mão de semear) do Governo angolano e dos seus membros, que não se pode olvidar, governam Angola desde a independência. No extremo oposto, é considerada revú, a pessoa que se identifica com os partidos da oposição, ou para este caso, basta que, da interpretação  das suas posições políticas, retire-se a ideia de estar em sentido contrário ao partido que governa. Transportando o assunto para o campo da matemática, é o mesmo que dizer que uma operação é contrária à outra, o que na língua portuguesa designa -se por antónimo.

Penso andarmos a perder tempo com tais “miudices”, visto que o País não tem tempo para perder, sob pena de ver passar a locomotiva do crescimento e desenvolvimento económico, que todos almejamos como um bem comum. Uma nota curiosa é que, na sua maioria, os chamados revús, são jovens no alto da irreverência que caracteriza as pessoas da referida faixa etária, pelo menos os de rostos visíveis.

Isso remete-nos a certo momento da história de Angola que regista vários exemplos de jovens envolvidos com as mais sublimes causas da angolanidade, tais como  Agostinho Neto, Loy, José Eduardo dos Santos, Brito Sozinho, Nvunda, Mbinda, Imperial Santana, Paiva Domingos da Silva, Amadeu, Valódia, Deolinda, Inga, os irmãos Pinto de Andrade, só para citar estes.

Porém, a interpretação mais indicada ao objecto desta reflexão deve ser aquela em que as motivações, sejam elas dos revús ou bajús, estejam cobertas de razões bastante (passe o pleonasmo propositado), para que se possa de facto entender o âmago das suas manifestações e ou reivindicações. Á guisa de exemplo, não se pode aceitar como actos revolucionários, a  ncitação de sublevação à ordem e instituições estaduais existentes, sobretudo por via das redes sociais.

Assim como não se aceitam os discursos inflamados que em véspera das eleições de 23 de Agosto, instigavam a permanência dos eleitores em volta das assembleias de voto, em contradição com o disposto no número 1, alíneas a) e b) do artigo 109º da Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais. Igualmente não de podem aceitar discursos alinhados com a tese de que, durante o tempo de governação, o partido no poder e os seus dirigentes, não fizeram nada que tenha a chancela positiva, ou que tudo tenha sido positivo, até por que, muitos dos “pregadores” de tais teses, são usuários de equipamentos sociais empreendidos pelo Governo, como são as centralidades, as estradas, as universidades, hospitais, etc.

Por assim dizer, não ligar para o conteúdo objectivo dos argumentos produzidos  seja pelos revús ou bajús, olvidando o seu valor positivo, é um exercício que pode arrastar ao extremo até o mais sensato dos cidadãos. E é isso que se deve evitar, os extremos, pois, independentemente do perfil político ou ideológico do cidadão, cada razão tem a sua razão, e esta deve ser escutada, compreendida e atendida à medida do que dela se pode extrair como positivo, desde que incorpore como ideia central a prossecução do bem comum. (Jornal de Angola)

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