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Terça, 03 Outubro 2017 19:09

"Angola perdeu oportunidades quando tinha muito dinheiro", diz economista

Economistas antecipam cenário ruim para governação de João Lourenço. E não acreditam em mudanças profundas na Sonangol, apesar de novos nomes na petrolífera na era pós-José Eduardo dos Santos.

Antes de deixar o poder, José Eduardo dos Santos fez mexidas na petrolífera estatal angolana Sonangol. Por meio de um decreto - que entrou em vigor no dia em que tomou posse o novo chefe de Estado, João Lourenço - o ex-Presidente exonerou três administradores executivos da empresa, além de aprovar um novo estatuto orgânico.

Só que mudar os quadros da Sonangol não implicará, necessariamente, mudanças significativas nos rumos da governação da empresa, explicou à DW África o investigador e economista angolano Manuel Alves da Rocha.

"Não sei se devemos falar em novos desafios para a Sonangol. A presidente do conselho de administração da empresa foi nomeada há dois anos. Ela tem um mandato de quatro anos, que toda a agente pensa que vai cumprir", disse o especialista do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola CEIC-UCAN.

O ex-Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, exonerou por decreto três administradores executivos da Sonangol, Paulino Jerónimo, nomeado em junho de 2016 como administrador e presidente da comissão executiva, César Paxi e Jorge de Abreu.

Além disso, Eduardo dos Santos aprovou o novo estatuto orgânico da petrolífera estatal, já após ter cessado funções. A Sonangol passa a funcionar com dois órgãos, o conselho de administração, atualmente liderado por Isabel dos Santos, e um conselho fiscal.

O economista descarta que as alterações recentes nos quadros na petrolífera angolana Sonangol, mesmo com um novo Presidente no país, tenham impacto profundo, já que os programas de Isabel dos Santos à frente da empresa deverão ser mantidos.

Segundo Alves da Rocha, a Sonangol tem um programa de reformas compatível com o tempo de nomeação da presidente do conselho de administração, Isabel dos Santos, na petrolífera. Ou seja, "não estamos a considerar nenhuma alteração nos próximos dois anos, devido ao fato de haver um novo Presidente da República", explicou Alves da Rocha.

A petrolífera Sonangol, liderada por Isabel dos Santos, também aprovou um estatuto que exclui a figura do presidente da comissão executiva, embora ela se mantenha como importante liderança da empresa.

"Oportunidades perdidas"

"Angola perdeu oportunidades quando tinha muito dinheiro", por isso, segundo o Alves da Rocha, é difícil falar agora em mudanças significativas para a petrolífera Sonangol e consequentemente para a economia do país, que depende do petróleo, mesmo com um novo Presidente no poder.

"As receitas de exportação entre 2013 e 2016 foram de 580 mil milhões de dólares e, nessa altura, o país tinha condições para falar nas mudança do ambiente macroeconómico, nas reformas estruturais de mercado, nas reformas sociais  e na diversificação da economia porque havia dinheiro”, explicou.

João Lourenço herda um cenário económico bem diferente do qual governou seu antecessor. Em agosto deste ano, as reservas internacionais angolanas caíram para cerca de 15 milhões de dólares, metade do valor contabilizado antes da crise de 2014, indicam dados do Banco Nacional de Angola (BNA). 

O economista Precioso Domingos antevê um cenário difícil para a população."O que estou no fundo a antever é uma tendência de aumento dos preços. No caso de Angola, por não haver produção local, há diretamente aumento dos preços, que devem subir mais do que já vinham subindo. Antevê-se, portanto, um aumento do custo de vida em Angola, infelizmente”.

"Milagre económico"

Por sua vez, o Presidente eleito João Lourenço afirmou durante toda a sua campanha eleitoral que queria ser o homem do milagre económico de Angola - e impulsionar a economia. Só que as taxas de pobreza em Angola continuam expressivas e a inflação deteriora a vida da população.

Problemas que o Presidente eleito do MPLA não deverá conseguir resolver até o final de sua legislatura em 2022, afirma o economista Alves da Rocha.

Segundo esse especialista, depois do ‘boom’ do petróleo, “perdeu-se uma oportunidade histórica” para reformas profundas e sustentáveis. A economia angolana já teve o seu milagre, entre 2002 e 2008, disse, por isso não vê condições para que se volte a ter um novo período com uma taxa média anual de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 12% ou 12,5%.

"A opção doutrinária e ideológica do MPLA criou uma burguesia nacional com muito dinheiro e fortuna, mas sem resultados na estruturação de um tecido económico, empresarial e produtivo que garantisse proteção contra crises externas", conclui.

DW África

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