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Quarta, 27 Setembro 2017 13:27

Corrupção, intolerância e exclusão vão continuar em Angola -- Isaías Samakuva

O presidente da UNITA, maior partido na oposição em Angola, considerou hoje que a corrupção, a intolerância e a exclusão "vão continuar" nesta nova fase do país, afirmando que "as eleições terminaram, mas o regime não mudou".

Isaías Samakuva que falava em Luanda durante a abertura da quarta reunião ordinária da Comissão Política do Comité Permanente do seu partido, após as eleições gerais de 23 de agosto e a investidura na terça-feira do novo Presidente de Angola, João Lourenço (MPLA), referiu igualmente que os problemas do país "não serão resolvidos numa só legislatura" de cinco anos, por serem "problemas estruturantes".

"Os problemas continuam e vão continuar, as violações dos direitos humanos continuam e vão continuar, o país continua e vai continuar com uma profunda crise de valores, com um Estado predador, uma constituição atípica, uma economia prostituída, uma dívida pública insustentável ", disse hoje o líder da UNITA, que também anunciou a sua saída da liderança do partido, que ocupa desde 2003.

"Nenhum partido político, nenhum grupo social poderá resolver por si só os problemas de Angola, perante um sistema de Governo bicéfalo dirigido por quem não tem e não respeita a cultura de separação de poderes, do Governo limitado e da prestação de contas, são problemas estruturantes cuja solução exige o saber e empenho de todos", adiantou.

Para o líder da União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), segundo partido mais votado nas eleições de 23 de agosto, vencidas pelo Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), o país precisa agora "de amplos diálogos".

"Entre gerações, diálogos entre povos, nações ou etnias que habitam o mesmo território e partilham recursos, diálogos entre ricos e pobres, letrados e iletrados, precisamos resgatar a cidadania, construir o futuro e afirmar Angola", explicou.

O político defendeu que Angola constituiu um Estado, mas não construiu ainda uma nação, argumentando mesmo que o país, independente há 42 anos e em paz desde 2002, apenas fez uma transição constitucional, faltando uma transição democrática.

"Fizemos algumas pessoas milionárias, mas não aprendemos ainda a produzir riqueza de forma sustentável e honesta. Constituímos vários governos, nomeámos vários ministros, mas não aprendemos ainda a praticar os fundamentos da boa governação", apontou.

O grande obstáculo que impede a construção da nação e a concretização da justiça e da paz social é, no entender do presidente da UNITA, "a captura das instituições do Estado pelo partido/Estado, a partidarização do Estado".

"É no fundo um dos grandes problemas que Angola vive, por isso um dos grandes desafios do nosso partido na legislatura que deverá iniciar em breve é a despartidarização do Estado, este desiderato implica naturalmente uma reforma", advogou.

Na abertura do encontro para análise da vida interna do partido pós-eleições e o novo ambiente político do país, com novo presidente empossado na terça-feira, Isaías Samakuva recordou ainda que os angolanos depositaram o seu voto nas urnas para "mudança das suas vidas e não da vida dos ministros e deputados apenas".

"Os angolanos querem acabar com a corrupção que causa pobreza, querem acabar com a educação de péssima qualidade, com a falta de saneamento básico e com as promessas que se repetem e que não se cumprem", acrescentou.

Ainda de acordo com o presidente da UNITA estão criadas as condições objetivas para que o próximo Governo inclua as aspirações de todos na sua agenda, dialogue com todos, potencie sinergias, sublinhado que o combate a corrupção e a impunidade deve ser vinculativo.

"Não basta afirmar que a corrupção e a impunidade serão combatidas, é imperativo que se comece a combater em atos concretos, de forma oficial, solene e vinculativa", conclui.

João Lourenço tomou posse como terceiro Presidente de Angola na terça-feira, em Luanda, mas os partidos políticos da oposição não se fizeram representar, por contestarem os resultados oficiais divulgados pela Comissão Nacional Eleitoral.

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