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Quinta, 21 Setembro 2017 01:12

Não votei nem vencido e muito menos derrotado - Votei esperançado.

Votei esperançado numa Angola diferente, mais inclusiva, mais solidária, menos desigual, menos injusta, que depois deste pleito me parece estar mais próxima.

Por Reginaldo Silva

Se na nossa vida, a esperança, mais tarde ou mais cedo, tem um dia em que vai mesmo morrer, quando perdermos a capacidade física de consumir oxigénio, na vida dos países, a esperança nunca morre, até prova em contrário, depois de já nos terem prometido várias vezes o fim do mundo.

E na vida de um país que tem 42 anos nem sequer podemos falar em "esperanças idosas", como cantou Teta Lando.

Votei pois esperançado numa "solução política" que me parecia (e continua a parecer) ser a mais realista e eficaz, se estivermos realmente interessados em resolver os problemas do povo, para além da retórica.

Votei com a esperança de termos finalmente um parlamento equilibrado na sua relação com o Executivo, sabendo à partida que era quase impossível ao MPLA perder estas eleições devido ao atípico "modelo aritmético simples a uma volta" que foi desenhado e aprovado em 2010. 

Numa eleição a seis, de facto seria muito difícil ao MPLA, no mínimo, não obter uma maioria simples (menos de 50% dos votos) na competição com os seus desafiadores, o que de acordo com a Constituição lhe garantia a eleição dos dois primeiros nomes da sua lista de deputados para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, mas depois no parlamento iria criar o espaço para uma governação mais consensual, que é de facto aquilo Angola está a reclamar.

Se não estava nas nossas contas o MPLA perder as eleições, também não estava ganhar com mais uma maioria qualificada, que acabou por acontecer de acordo os contestados resultados proclamados pela CNE, que foram certificados pelo Tribunal Constitucional na conclusão de mais um polémico processo eleitoral.

Em matéria de turbulências e incidentes o pleito de 2017 ultrapassou generosamente pela negativa tudo quanto já tínhamos tido conhecimento nas disputas anteriores, a confirmar que temos efectivamente um problema grave de transparência/credibilidade com a gestão do sistema eleitoral. 

Votei esperançado de que em nome da própria estabilidade seria desejável que o MPLA continuasse a governar nos próximos cinco anos, mas já num contexto parlamentar marcado pelo equilíbrio, que era aquele que correspondia ao desejo manifestado até pela própria Igreja Católica quando em Fevereiro último defendeu a necessidade de Angola precisar de uma oposição suficientemente forte para ser capaz de pressionar o Executivo a dar o melhor de si em prol do bem de todos.

No final de mais este desafio continuo convencido que as reformas estruturais que a economia angolana precisa de implementar com urgência em nome da transparência e do combate à corrupção, vão ser novamente adiadas por falta de vontade política.

Numa situação de equilíbrio o futuro Executivo de João Lourenço teria, certamente, outras condições, muito melhores, muito mais estimulantes, para mudar o rumo do país e da governação.

Tendo como referência bastante animadora os paradigmáticos resultados de Luanda que, lamentavelmente, com mais dois milhões de eleitores elege o mesmo número de deputados que círculos provinciais que têm pouco mais 100 mil, saio destas eleições não só esperançado, mas ainda mais convencido do que em 2012, que Angola já tem efectivamente espaço/vontade mais do que suficiente para dar corpo a uma solução política marcada pelo equilíbrio, que é o que vai acontecer mais tarde ou mais cedo.

Depois de todas as peripécias que marcaram a fase de apuramento e com todas as informações que nos chegaram e continuam a chegar no rescaldo do escrutínio, como é evidente também faço parte dos angolanos que não acreditam que os resultados certificados pelo TC correspondam aos votos que os eleitores depositaram nas urnas a 23 de Agosto.

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