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Domingo, 17 Setembro 2017 21:27

Começou a guerra entre João Lourenço e José Eduardo dos Santos

Tal como se antevia as primeiras “altercações” entre JLo e JES giram em torno da composição do novo Governo – objecto de barganha – e do esquema protocolar a adoptar no dia da tomada de posse

Começaram os primeiros choques e desinteligências entre os presidentes cessante e eleito de Angola, José Eduardo dos Santos e João Lourenço, o que a prosseguir acabará por colocá-los praticamente em barricadas diferentes. E tal como o Correio Angolense antevia, na primeira linha dos desaguisados estão dois assuntos incontornáveis – a composição do novo Governo e o esquema protocolar a adoptar para o dia da tomada de posse, aprazado para a próxima quinta-feira, 21.

Na passada sexta-feira, 15, o Bureau Político do MPLA analisou os dois assuntos. Apreciou o calendário de investidura do Presidente da República, do Vice-Presidente, dos deputados à Assembleia Nacional e do Executivo; e tomou, por outro lado, conhecimento dos departamentos que vão compor os órgãos auxiliares do novo Presidente, João Lourenço. Já se sabe, em princípio, que a filosofia perseguida será a de “desengordurar” o Executivo, diminuindo-se, o mais possível, o número de pastas ministeriais; mas a declaração produzida no final da reunião de cúpula do “Maioritário” não entra em detalhes sobre isso, nem quanto a nomes.

Contudo, a apreciação do assunto pelo BP não foi tão pacífica quanto se faz transparecer para consumo da opinião pública. Este jornal soube que a querela que já se antevia em relação a quem competiria o papel leonino na elaboração do desenho departamental e na indicação de nomes para o Executivo acabou por acontecer. Fonte familiarizada com a questão confidenciou a este jornal que José Eduardo dos Santos, usando a prerrogativa que lhe é conferida pelos estatutos do partido nessa matéria, sentiu-se fortemente compelido a intervir na composição do futuro Executivo.

Mais a mais porque os nomes escolhidos por João Lourenço não são de todo satisfatórios para o líder do MPLA e Presidente cessante. “Os nomes que saem da boca de JLo prenunciam um desastre”, indicou, de modo enfático, a fonte.

"O que fica evidente em meio a tudo isso é que, provavelmente, o Secretariado do Bureau Político do MPLA terá sido compelido a passar a limpo e a negociar a composição do futuro Governo, tendo diante de si duas listas: a do presidente cessante, que de acordo com os Estatutos do MPLA tem mandato para o fazer, e a do novo Presidente, que tem necessidade de colocar as suas impressões digitais no novo Executivo."

O que fica evidente em meio a tudo isso é que o Secretariado do Bureau Político do MPLA terá sido compelido a passar a limpo e a negociar a composição do futuro Governo, tendo diante de si duas listas: a do presidente cessante, que de acordo com os Estatutos do MPLA tem mandato para o fazer, e a do novo Presidente, que tem necessidade de colocar as suas impressões digitais no novo Executivo. Contudo, nessa controversa matéria em que não transpiram nomes nem cargos, uma coisa para já parece ser incontornável, prenunciando meia-vitória por parte do novo Presidente da República. Na barganha havida, João Lourenço pode ter tido “luz verde” para mudar a equipa económica do Executivo e o Conselho de Administração da maior empresa do país, a Sonangol. Só não se também o que terá tido de dar em troca nessa barganha.

Mas, conforme já se avançou, há desinteligências igualmente no que diz respeito ao dia da investidura. As equipas de transição de JES e JL – que tratam da passagem de pastas – não se estão a entender em relação ao esquema protocolar que será adoptado na cerimónia. Até onde o Correio Angolense sabe o pomo de discórdia começa no número de chefes de Estado e de Governo a convidar para a investidura. A equipa da administração cessante está a “barrar” sobretudo convites a países que andaram distantes do presidente José Eduardo dos Santos. Curiosamente ao que consta, é que as ordens de pagamentos para o “transporte” dos convidados, emitidas pela administração cessante, estão a ser negadas pelos bancos correspondentes.

Mas mais significativo ainda é o facto de José Eduardo dos Santos, pelos vistos, nessa cerimónia pretender ser tratado com determinados privilégios que “gozava no seu tempo”, mesmo depois do juramento de posse pelo novo Chefe de Estado. Por outro lado, assegura a fonte, ele faz questão de sentar-se numa cadeira distintiva, relegando João Lourenço a uma posição de subalternizado.

“Caso contrário”, refere a fonte deste jornal, “José Eduardo dos Santos pondera não assistir à cerimónia. E se assistir, seja como for, sairá antes do novo Presidente da República”, quando as normas de etiqueta do cerimonial presidencial prescrevem que prevaleça o contrário: o Chefe de Estado é o primeiro a sair.

No entanto, com o tempo a correr veloz para o dia em causa – na verdade já só faltam cinco dias –, pensa-se que até lá a poeira irá assentar e o bom senso prevalecerá, quanto mais não seja por estarem em causa questões que, embora formais, têm o seu peso em matéria de Estado.

Para já, num exercício de descompressão para fugir ao forte assédio a que tem sido sujeito nos últimos dias na emblemática zona de Alvalade, o novo casal presidencial irá aguardar pelo dia da investidura numa casa que é propriedade do Ministério da Defesa e localizada no Morro da Luz. Quanto ao Presidente cessante, este já desovou há muito o Palácio da Cidade Alta, tendo-se mudado para aquela que é a sua residência privada de pós-mandato – a mansão do Miramar.

Correio Angolense

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