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Sexta, 28 Novembro 2014 16:48

UNITA pode abandonar o Parlamento

Em causa estão supostos desentendimentos com o MPLA, em termos de decisão a julgar pelo desequilíbrio que os separa em termos numéricos.

A UNITA pondera abandonar a Assembleia Nacional(AN) em protesto contra a alegada hostilização que tem estado a sofrer, durante as sessões de trabalho, por parte da bancada parlamentar do MPLA, que detém a maioria dos deputados, apurou O PAÍS de fonte familiarizada com o assunto.

A fonte, um influente membro do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA (CPCP) confidenciou que nos últimos tempos esta força política tem sido vilipendiada pelos seus colegas do MPLA, e que as suas propostas, sugestões ou iniciativas parlamentares tem sido inviabilizadas, e as poucas que foram discutidas foram aceites “ in extremis”.

Segundo ainda a mesma fonte, para além destas alegações, esta segunda maior força política do país mostrase também agastada pelo facto de ser acusada e insultada constantemente como tendo sido ela a promotora do conflito armado pós-independência que o país viveu durante 27 anos.

Segundo a fonte, “ os nossos compatriotas do MPLA nos ofendem, nos insultam, nos humilham, tratam-nos de todos os nomes feios, como fôssemos nós os mentores da guerra”, desabafou, dizendo que todos os movimentos de libertação participaram na guerra fratricida pós-independência e todos têm culpa no cartório e “ deviam pedir desculpas ao povo angolano”, disse.

A fonte acrescentou ainda que o outro aspecto que pode influenciar a sua saída do Parlamento, tem a ver com os supostos casos de intolerância política atribuída a militantes do MPLA contra partidários seus, cujos actos registamse um pouco em todo o país.

A UNITA aponta o dedo acusador a alguns administradores municipais e governadores de províncias, como sendo os incitadores de actos de vandalismo, exemplificando com os do Namibe, Rui Falcão, do Bié, Boavida Neto, e do Huambo, Kundy Paihama, respectivamente.

Emprego

Outra questão que a UNITA alega também é a suposta discriminação e impedimento de ingresso e/ou promoção de cidadãos ou funcionários que se identificam como militantes seus na administração pública, cuja situação, segundo a fonte, é constatada em todo o país, embora as autoridades contrariem os argumentos deste partido.

No rol das reclamações do partido liderado por Isaías Samakuva, figuram também alegados casos de segregação por parte de órgãos de comunicação social públicos, acusados de parcialidade na abordagem dos factos políticos a favor do partido no poder.

Os órgãos de imprensa sob tutela do Estado, baseando-se ainda nas informações da fonte, têm estado a manipular os discursos dos dirigentes da UNITA, sobretudo do seu presidente, atribuindo-lhe declarações não proferidas por si, citando um texto recente publicado no Jornal de Angola, no dia 26 de Novembro.

Tribunais

A UNITA alega estar também indignada com alguns órgãos de justiça, sobretudo Tribunais aos quais recorreu para dirimir vários casos, mas a resposta tem sido o silêncio. Alguns destes são de natureza criminal e foram apresentados há muito tempo, mas, segundo a fonte, até agora esses órgãos ainda não se pronunciaram.

Dos vários casos, a fonte citou os que envolveram a morte dos seus dirigentes no Londuimbali (Huambo), no Cacuaco, Kikolo e ainda o recente atentado contra o seu deputado Liberty Chiyaka, em Março deste ano, em Luanda, cujo autor foi identificado pela própria UNITA como sendo José Luís Caetano, que se alegou pertencer a os serviços secretos angolanos.

Decisão em JaneiroEntretanto, face à situação, a direcção desta força política pensa em convocar uma reunião na segunda semana de Janeiro de 2015, para analisar toda essa situação e encontrar uma decisão se “ continuará ou abandonará temporariamente o Parlamento”, explicou a fonte.

Mas o eventual abandono divide opiniões entre os membros do Comité Permanente da Comissão Política, órgão decisório do partido. A maioria defende a saída, mas um grupo restrito prima pela manutenção, privilegiando o diálogo com os órgãos competentes do Estado para se limpar com esta nuvem negra.

Este grupo integra os principais colaboradores do líder do partido, Isaías Samakuva, que, como ele próprio, segundo a fonte, prima por um diálogo aberto e franco com o MPLA, Sociedade Civil e Igrejas para a manutenção da paz. “ O presidente sempre defendeu o diálogo para se manter a paz viva e construirmos o Estado Democrático e de Direito”, disse a fonte.

Sobre o assunto, O PAÍS contactou o secretário para a Informação e marketing da UNITA, Lourenço Bento, na ausência do seu porta-voz, Alcides Sakala, esse afastou essa possibilidade, mas disse haver “ um abuso em termos de equilíbrio no Parlamento e é com base nesse equilíbrio que a bancada maioritária faz o que entende em termos de decisão”. Contudo, o responsável afastou qualquer intenção da UNITA abandonar o Parlamento, dizendo que o assunto nem sequer foi abordado na última reunião do Comité Permanente da Comissão Política (CPCP) realizado em Agosto do ano em curso.

Samakuva desdramatiza declarações

Isaias SamakuvaEm conferência de imprensa realizada esta terça-feira,25, o líder da UNITA, Isaías Samakuva, desdramatizou as declarações por si proferidas em Portugal, em relação à nova independência para Angola, durante a digressão que o levou também à Bélgica, Holanda, França e Cabo Verde.

Segundo Samakuva, a questão de uma nova independência para Angola não é da sua iniciativa, mas “ uma sugestão de alguns mais velhos” do interior do país, que manifestaram esse desejo durante uma visita de campo por si efectuada em algumas províncias.

Esses mais velhos, acrescentou Samakuva, “ dizem que os níveis de corrupção e desgovernação aumentaram, há mais perseguições e assassinatos do que no tempo da PIDE”, sublinhou, afirmando que existem “em Angola governantes que se comportam pior do que no tempo colonial”.

O político da UNITA reiterou que houve má fé e que as suas declarações sobre uma nova independência foram ridicularizadas por aqueles que denominou de “ intelectuais de estômago” que lhe terão atribuído tal pronunciamento. “ Eu não disse isso”, declarou.

Isaías Samakuva disse ser uma situação constante dos órgãos públicos manipularem os seus pronunciamentos, e enquadrou esta atitude “numa estratégia bem montada” para denegrir a sua imagem e a do partido que dirige.

Depois de considerar de positivo o balanço da sua actividade levada a cabo na Europa, Samakuva que respondia a jornalistas, disse não ser contra os detentores de riquezas em Angola, “ mas pela forma duvidosa e ilícita como obtém esse dinheiro”.

Para o líder da UNITA, os actuais ricos no país deviam dar também oportunidades a outras pessoas para que, de forma honesta, obtenham esse dinheiro, “ mas esse dinheiro está num grupo restrito de cidadãos”, cujos nomes evitou citar.

À pergunta sobre a posse de condomínios na Camama, erguidos com o dinheiro de proveniência duvidosa, Samakuva respondeu não possuir qualquer propriedade imobiliária revelando que gostaria de ter. “ É falso. Tomara que fosse meu o tal Condomínio que dizem que fica nas imediações do 11 de Novembro”.

Sobre o paradeiro do dinheiro proveniente da exploração ilegal de diamantes nas áreas controladas anteriormente pela UNITA, na época de guerra, afirmou que o mesmo foi utilizado na gestão da vida das populações sob seu controlo, tendo sido aplicado em programas de saúde, educação e outros.

Isaías Samakuva reconheceu que a UNITA controlava a maior parte das áreas extractivas de diamantes e geria como podia, porque naquela altura “havia um Estado dentro do outro Estado e nós não reconhecíamos o Governo do MPLA”, declarou.

Revelou que uma parte desses diamantes eram comercializados a pessoas que estão no Governo, na altura em que o seu governo se chamava de Terras Livres de Angola (TLA). Anunciou relatar em livro toda a história sobre os famosos “ diamantes de sangue”.

O PAÍS

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