Quarta, 24 de Abril de 2024
Follow Us

Sexta, 31 Outubro 2014 12:25

Carlos Feijó em recuperação política

Carlos Feijó está a recuperar poder e influência que perdeu com o seu afastamento do último cargo público que exerceu, ministro do Estado e chefe da Casa Civil (AM 700), mas conjectura-se que a relação “menos boa” com MH Vieira Dias “Kopelipa” desfavorece um eventual regresso pleno à política.

Informações seguras indicam que Carlos Feijó, agindo instruído pelo Presidente, José Eduardo dos Santos (JES), foi o mentor e promotor da solução encontrada para resolver a questão da substituição do governador de Luanda (AM846), cujo protelamento vinha contribuindo para empolar (AM881) tensões internas.

Decorreu também de uma sugestão sua a criação da Comissão de Reestrutução do Governo da Província de Luanda, à qual foi cometido o cargo de estudar/adoptar um novo modelo de administração de Luanda, como grande área metropolitana. No funcionamento da comissão está-lhe reservado papel considerado preponderante.

O coordenador da comissão é o ministro do Estado e chefe da Casa Civil, Edeltrudes Costa, mas há outros governantes na sua composição. A evidência visa aparentemente estabelecer uma equivalência entre o estatuto da comissão e o perfil institucional dos seus responsáveis.

Mas a figura-chave da mesma é, de facto, Carlos Feijó.

2. No seguimento da substituição de Bento Bento e do anúncio da criação da Comissão de Reestrutução, JES mandou convocar os administradores dos municípios de Luanda e membros da referida comissão, com o fim de serem postos ao corrente do desígnio de dotar Luanda de um novo modelo de organização administrativa. A exposição principal foi confiada a Carlos Feijó.

O novo governador provincial, Graciano Domingos, é igualmente uma figura conotada com Carlos Feijó. Passa a ser um tecnocrata, sem inclinações para a vida político-partidária (não acumula o cargo com o de secretário provincial do MPLA). Era vice-governador, antes tinha sido vice-ministro da Administração do Território.

3. Carlos Feijó passou a dedicar-se à sua sociedade de advogados e retomou a sua actividade de docente universitário depois da sua última saída do governo. No plano político-partidário, a única e relativamente apagada actividade que manteve foi a de coordenador do BP para a província do Namibe.

JES continuou, porém, a privar com ele, a título de o consultar ou de lhe confiar missões oficiosas de especial exigência jurídica. É corrente que nutre por ele sentimentos de estima pessoal e de confiança nas suas competências técnicas. A sua participação activa no chamado “processo de Luanda” ocorreu no âmbito de tais realidades.

Para além dos seus méritos académicos e intelectuais, tidos como “acima da média”, Carlos Feijó tem uma boa reputação política. De acordo com uma habilitada caracterização política de figuras do regime, Carlos Feijó faz parte de uma corrente liberal; Sebastião Martins, Isaac dos Anjos, Augusto Tomás e José Massano, entre outros, também são conotados do mesmo modo.

A boa reputação política de Carlos Feijó é especialmente devida à sua ideia generalizada de que tem um pensamento próprio e não se coíbe de o manifestar. P ex, em duas reuniões restritas recentes (AM 875/871), criticou com aspereza e sabedoria leis e procedimentos da administração do Estado.

No passado, em circunstâncias também marcadas por afastamentos de Carlos Feijó de cargos de responsabilidade política, JES manteve as ligações e contactos mútuos. Conjectura-se que também agiu ciente de que a ligação a Carlos Feijó aproveita a sua imagem, interna e externamente.

4. O relacionamento “menos bom” com MH Vieira Dias “Kopelipa”, que determinou a sua saída do governo, foi alimentado por diferenças de personalidades e/ou de preparação, bem como por diferentes entendimentos das competências politicas de cada um – discrepâncias que avolumaram em razão da convivência a que estavam obrigados como ministros de Estado.

A decisão de JES de manter MH Vieira Dias “Kopelipa”, em detrimento de Carlos Feijó, terá então sido influenciada pela lógica simples de que, não sendo possível uma coexistência entre ambos, já minada por intrigas (AM711), era forçoso conservar “Kopelipa”, devido ao carácter vital da sua função (AM880).

Africa Monitor

Rate this item
(0 votes)