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Sábado, 10 Março 2018 21:00

“Sonangol deveria ser liderada por alguém com uma visão mais alargada sobre o negócio”

Em entrevista exclusiva ao “Sol”, Isabel dos Santos, não acha que o presidente João Lourenço possa ter algo contra si porque é “uma das empresárias que mais contribuí com impostos para o Estado” angolano.

“Foi com espírito de missão que aceitei liderar a Sonangol  - Isabel dos Santos

”O que tem o Presidente João Lourenço contra si para a substituir?

Sou um dos maiores investidores e empregadores em Angola. Sou uma das empresárias que mais contribui com impostos para o Estado. Estes impostos servem para construir escolas, hospitais, estradas, etc...

Os bancos em que participo são os maiores financiadores da economia angolana e do Estado. Ficaria muito surpreendida se houvesse alguma coisa contra alguém, como eu, que tanto acredita e investe no nosso país. Partilho a mesma visão e ambição do Executivo, de tornar Angola um país desenvolvido e sustentado nas suas capacidades e recursos.

Viu como afronta que um homem que afastou da Sonangol tivesse sido escolhido para a substituir?

Eu fui para a Sonangol com um mandato de gerir e reestruturar a empresa. Na qualidade de gestora profissional que sou, nunca poderia entender dessa forma a alteração da vontade do acionista Estado.

Preferia que o Presidente tivesse escolhido outra pessoa?

Não me cabe a mim criticar ou escolher o perfil necessário de quem deve integrar o Conselho de Administração da empresa. A título de exemplo, os currículos dos membros do anterior Conselho de Administração foram alvo de muito escrutínio e debate público na imprensa, ao contrário do atual. No meu entender, a Sonangol precisa de um líder, um profissional com visão estratégica, experiente, arrojado, que veja mais à frente. É uma empresa muito grande, complexa e com desafios diários. Precisa de um sentido empreendedor para desenvolver a sua visão estratégica. A petrolífera nacional, na situação de grande debilidade em que se encontra, deveria ser liderada por alguém com uma visão mais alargada sobre o negócio, que ultrapasse os conhecimentos restritos a um gestor público. Alguém com elevado sentido ético, seriedade e sobretudo, sem agenda própria. A Sonangol é um negócio e deve ser gerido como tal, e não como uma repartição pública. Rentabilidade, eficácia, competitividade, excelência e transparência têm que ser as prioridades do gestor e do negócio. Só tornando a Sonangol num modelo de negócio, ágil, competitivo e lucrativo é que resolvemos o problema do país e consequentemente das pessoas.

Quando o seu pai a escolheu para dirigir a Sonangol houve muitas críticas e acusações de nepotismo. Como recebeu essas críticas?

A crítica era infundada e politicamente motivada. Nepotismo significa nomear familiares incompetentes para uma função. Ora, durante as duas décadas em que trabalho, fundei dezenas de empresas e algumas líderes em Angola. Com os meus investimentos e trabalho criei mais de 40.000 empregos e contribui com dezenas de milhões de dólares em impostos em Angola. Por essa razão, posso afirmar, que é óbvio que sou uma gestora capaz e competente. Ficou claro para mim que a Sonangol estava numa situação dificílima e que era necessário proceder a uma transformação estrutural, não só da empresa como de todo o setor petrolífero nacional. Foi com espírito de missão que aceitei assumir a liderança desse enorme desafio. Sempre estive e estou convicta de que a minha família me deu valores sólidos para assumir responsabilidade e assumir o meu papel de mulher angolana e o meu papel na sociedade.

Acha mesmo que era a pessoa mais adequada para tomar as rédeas da empresa naquela altura?

A Sonangol precisava muito mais do que um gestor, precisava de um empreendedor. Faltava a visão estratégica do negócio. Não estou a dizer que fosse a única pessoa capaz de assumir aquele desafio, mas acredito que eu reunia todas as competências e experiência profissional necessárias ao desempenho daquele cargo. Era necessário mais do que um expert de oil and gas e era preciso proceder à transformação da empresa e de todos seus negócios.

Isabel dos Santos cria site para "repor a verdade"

Isabel dos Santos,  criou um site "com o objetivo de repor a verdade em relação às graves acusações feitas pelo actual PCA da Sonangol à anterior gestão". Em entrevista publicada este sábado no semanário Sol, Isabel dos Santos diz que "ficou demonstrado o espírito de revanche que anima o atual conselho de administração da Sonangol, após a sua apresentação do balanço dos 100 dias, na qual o único foco foi o ataque pessoal aos administradores anteriores. Carlos Saturnino é um homem emotivo, vingativo e demonstrou pouca ética profissional"

A filha do ex-presidente de Angola foi acusada de transferir 38 milhões de dólares para empresas que lhe estão associadas e de reter dividendos da Galp, já depois de ter sido exonerada do cargo de presidente do conselho de administração da petrolífera angolana.

Isabel dos Santos foi afastada pelo atual presidente de Angola, João Lourenço, da presidência da Sonangol, em novembro do ano passado e substituída por Carlos Saturnino. Na sua página oficial do Facebook, Isabel dos Santos adianta que o site http://www.factos-sonangol.com vai reunir “todos os factos que contrariam a informação erradamente passada” e visa “repor a verdade pelo bom nome” das “pessoas que entraram e trabalharam com espírito de missão”.

Na entrevista ao Sol, a empresária afirma que “a petrolífera nacional, na situação de grande debilidade em que se encontra, deveria ser liderada por alguém com uma visão mais alargada sobre o negócio, que ultrapasse os conhecimentos restritos a um gestor público”.

A filha mais velha de José Eduardo dos Santos diz ainda que “a Sonangol é um negócio e deve ser gerido como tal, e não como uma repartição pública”. Na sua opinião, “rentabilidade, eficácia, competitividade, excelência e transparência têm que ser as prioridades do gestor e do negócio”. SOL

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