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Sábado, 03 Março 2018 12:01

Angolanos aguardam resultados de investigação no caso do desvio de milhões de dólares da Sonangol

Economista Galvão Branco Economista Galvão Branco

Os analistas Galvão Branco, Rui Malaquias e Sérgio Calundungo defenderam auditorias e medidas judiciais contra o conselho de administração da Sonangol exonerado em Novembro, depois das revelações feitas na conferência de imprensa que, na quarta-feira, assinalou os cem dias de gestão da nova liderança da companhia.

O consultor de empresas Galvão Branco considera que, pela sua gravidade, as declarações do presidente do conselho de administração da Sonangol, Carlos Saturnino, apelam “a uma intervenção dos órgãos judiciais especializados no tratamento” das denúncias.

Além disso, prosseguiu, instam a uma tomada de posição do principal accionista da petrolífera - o Estado -, por se tratar de uma empresa cuja estabilidade económica e financeira “incide significativamente sobre a soberania do país e a vida dos cidadãos”.

Galvão Branco falou mesmo na “responsabilização e tomada de medidas adequadas contra todos os que criam obstáculos para que os poderes públicos instituídos exerçam as melhores práticas de  monitorização e controlo da gestão na actividade corrente da Sonangol”.

Rui Malaquias considerou que uma auditoria para a certificação das contas de 2016 e confirmação dos resultados de 2017 “impõe-se”, uma vez que a nova administração “deparou-se com uma série de actos de gestão danosa”.

“Nada mais natural do que apurar e, consequentemente, criminalizar tais actos”, afirmou, acrescentando que “só com uma auditoria completa, a nova administração poderá ter plena noção da situação financeira e operacional da empresa, bem como da dimensão dos danos que a antiga administração causou ao grupo e ao próprio sector petrolífero angolano, com a inviabilização dos contratos das operadoras.

Sérgio Calundungo estima que, depois dessas revelações, os desafios já não se resumem às perspectivas de estratégia e visão de negócios pois, antes, é necessário esclarecer, “e muito bem, a divergência de dados sobre a situação da companhia entre a anterior e a actual gestão”.

Regularização do passivo

Galvão Branco considera “adequado e correcto” que o Estado tenha decidido retirar dez mil milhões de dólares do passivo da Sonangol, posto que, enquanto accionista, deve adoptar todas as medidas necessárias para sanear o seu balanço, como ocorreu.

“A credibilidade externa da Sonangol, traduzida na sua solvabilidade, boas práticas de governação e parcerias justas e equitativas, são críticas para garantir o crescimento técnico e operacional e o acesso aos mercados financeiros internacionais para garantir a execução dos investimentos necessários”, sublinha. Rui Malaquias acrescenta que, ao retirar dez mil milhões de dólares do balanço da Sonangol, o Governo liberta a companhia, habilitando-a a obter, no mercado, financiamentos a menores taxas de juros e prazos mais alargados para o reembolso.

A empresa está, assim, em melhores condições para investir no sector petrolífero, de forma a aumentar a produção nacional e a arrecadação fiscal em moeda estrangeira, criando condições para investir nos restantes sectores produtivos à luz do processo de diversificação económica. Galvão Branco e Rui Malaquias também comentaram o projecto de edificação de refinarias, com o último a considerar que “poupar-se-ão dólares aos cofres do Estado, acabando com a importação de derivados e reduzindo as importações de forma geral”.

Galvão Branco propõe que se assegure “rapidamente a auto-suficiência nos derivados de petróleo, criar excedentes para a exportação e dinamizar a produção de adubos, fertilizantes e de matérias utilizadas pela indústria dos plásticos”, pela multiplicidade dos produtos gerados pelo investimento em petroquímica.

Mas, conclui Sérgio Calundungo, “não é prudente nem recomendável - pelo menos não me parece ser de interesse da maior parte da população - estarmos a falar de projectos e estratégias de futuro, sem que as instituições competentes apurem o que se passou e informem de maneira objectiva aos cidadãos, pois trata-se de uma empresa pública”. JA

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