O custo de cada nota de 100 dólares no mercado paralelo chegou a rondar, após as eleições gerais de 23 de agosto, os 37.000 kwanzas, acima do dobro da taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA), há um ano e meio fixa nos 16.600 kwanzas.
Face à possibilidade de uma forte desvalorização do kwanza a curto prazo, o valor de uma nota 100 dólares no mercado de rua de Luanda disparou na primeira semana de novembro até aos 43.000 kwanzas - máximos desde janeiro - tendência que nos últimos dias voltou a ser invertida no negócio das 'kinguilas', como são conhecidas as mulheres que se dedicam à compra e venda de divisas.
Numa ronda realizada hoje pela Lusa foi possível encontrar em Luanda cada nota de 100 dólares a ser vendido entre 39.000 e 40.000 kwanzas, em bairros de referência da capital, casos do Mártires de Kifangondo, Mutamba, Maculusso e São Paulo, num aparente efeito provocado pela falta de moeda nacional em circulação, o que trava a subida na cotação da moeda estrangeira.
Este negócio, apesar de ilegal e condenado pelo BNA, representa para muitos, angolanos e trabalhadores expatriados, a única forma de aceder a divisas, face às limitações nos bancos, funcionando a cotação de rua como referência para alguns negócios.
A Lusa noticiou este mês que o dinheiro em circulação em Angola voltou às quebras em setembro, para 434.321 milhões de kwanzas (2.250 milhões de euros) em notas e moedas, depois de em agosto ter atingido o valor mais alto em seis meses.
De acordo com o relatório sobre a Base Monetária Ampla do BNA, entre agosto e setembro foram retirados de circulação (física) no país mais 16.702 milhões de kwanzas (86,5 milhões de euros).
"O nosso país encontra-se numa situação económica e financeira difícil, resultante da queda dos preços do petróleo no mercado internacional e da consequente liquidez em moeda externa", admitiu João Lourenço, na Assembleia Nacional, a 16 de outubro.
Esta conjuntura, recordou, levou as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) do Estado - que estão a ser vendidas aos bancos comerciais para compensar a falta de divisas - a "uma preocupante contração acumulada de 46,4%" entre 2013 e o segundo trimestre de 2017, "como consequência dos sucessivos défices das balanças de pagamentos, devido à diminuição do valor das exportações petrolíferas".
"Neste contexto, impõe-se a tomada de medidas de política necessárias e inadiáveis, de modo a alcançar-se a estabilidade macroeconómica do país, com a pedra de toque no equilíbrio das variáveis macroeconómicas suscetíveis de garantir os equilíbrios internos e externos do país e as condições necessários para estimular a transformação da economia, o desenvolvimento do setor privado e a competitividade", disse.
Alguns economistas têm apontado, nas últimas semanas, a possibilidade de uma forte desvalorização do kwanza, moeda nacional, face ao dólar norte-americano, possivelmente à volta de 30%, mas João Lourenço não adiantou medidas concretas neste discurso.
Angola realizou eleições gerais a 23 de agosto, que culminaram com a vitória (61%) do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que garantiu a maioria qualificada no parlamento e a eleição de João Lourenço como novo Presidente da República.
Angola vive desde finais de 2014 uma profunda crise financeira e económica decorrente da quebra para metade nas receitas com a exportação de petróleo, tendo desvalorizado o kwanza, face ao dólar, em 23,4% em 2015 e mais 18,4% ainda no primeiro semestre de 2016.