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Terça, 31 Outubro 2017 22:45

“É fundamental o SIC saber a relação entre as vítimas”

Continua cada vez mais pertinente, para a investigação em curso, descortinar a relação  entre a jornalista Beatriz Fernandes e Jomance Muxito, ambos encontrados na quinta-feira mortos no interior de uma viatura, no Quilómetro 30, município de Viana, uma necessidade alimentada pelas informações desencontradas vindas de membros das duas famílias destroçadas.

Enquanto pessoas que se identificam como membros da família de Jomance Muxito alegam não ser verdade  a informação de que o jovem tenha sido motorista de Beatriz Fernandes, dando até como certa a existência de uma relação amorosa, a outra família, na voz de uma sobrinha da jornalista, abordada domingo pela Rádio Nacional de Angola, confirma apenas que Jomance Muxito era conhecido da família, por via da falecida tia, a quem prestava circunstancialmente trabalho como motorista.

Perante as informações desencontradas, será que é curial, para as diligências que estão em curso, o Serviço de Investigação Criminal não ignorar este pormenor?

Divaldo Júlio Martins, especialista em Segurança Pública, afirmou ontem ao Jornal de Angola que “o conhecimento da relação entre as vítimas é fundamental, uma vez que permite confirmar ou eliminar a hipótese de crime com motivações passionais”.

Divaldo Júlio Martins, também licenciado em Direito e com pergaminhos sólidos como comunicador social, um facto também atestado pelas pontuais e pertinentes intervenções feitas nas redes sociais, alertou que “é preciso ter em conta todo o histórico das vítimas, as suas relações, seus conflitos, eventuais inimigos, problemas, actividades, enfim, para se determinar as possibilidades de algumas destas situações estarem relacionadas ou não com o crime”. O especialista em Segurança Pública acentuou ser importante que o Serviço de Investigação Criminal cruze todas as informações para conseguir confirmar o tipo de relação que existia entre as vítimas, não deixando de mencionar que a “expressão amigo pode ter vários sentidos”.

Divaldo Martins  respondeu assim quando lhe foi perguntado sobre o teor das breves declarações que uma sobrinha da falecida jornalista fez à Rádio Nacional de Angola. Compulsada toda a informação até hoje divulgada, certo é que há ainda muitas pontas soltas para o Serviço de Investigação Criminal concluir o nó de um caso que elevou a pressão social sobre a Polícia Nacional em torno da necessidade de haver maior segurança pública, um apelo que é feito diariamente nas redes sociais, face à vaga de crimes de natureza diversa que ocorre em Luanda.

Estando a investigação ao duplo homicídio em segredo de justiça, pouca ou nenhuma informação oficial e de realce tem sido transpirada para a imprensa, que, para o seu exercício de manter a população informada sobre um caso que chocou Luanda, se socorre de fontes familiares. 

Uma tia de Beatriz Fernandes contou no sábado à TV Zimbo que a morte da sobrinha e de Jomance Muxito teve requintes de crueldade, um indício resultante do estado em que os cadáveres foram encontrados. O relato da tia, retirado da explicação  que os dois filhos de Beatriz Fernandes, que se encontravam com a mãe quando esta foi raptada, contaram à família, descreve a crueldade com que o crime foi executado. 

Assassinados a tiro 

A tia contou que, quando o carro foi interceptado, na Via Expresso, uma informação ainda não confirmada pela Polícia Nacional, a jornalista, que segurava o filho mais pequeno que dormia, foi retirada à força da viatura e alvejada com um tiro.

“O motorista foi atingido com três tiros”, contou a senhora, citando as crianças que presenciaram o “hediondo acto”, como considerou o ministro da Comunicação Social, João Melo, em mensagem de condolências. A uma pergunta sobre quais são as principais linhas de investigação que o Serviço de Investigação Criminal deve seguir, Divaldo Júlio Martins foi peremptório em afirmar que “numa investigação todas as hipóteses devem estar em aberto e que só o desenrolar do processo vai permitir deixar cair as menos prováveis e ir afunilando as hipóteses até ficarmos com uma ou com o menor número possível”.

Depois de ter acentuado que “também é necessário não descartar as hipóteses que as circunstâncias do caso mais ressaltam”, o especialista em Segurança Pública rematou: “no caso vertente tanto se pode tratar de um homicídio por razões passionais da parte de alguém ligado à senhora, mas também não se deve ignorar a possibilidade de ser alguém ligado a parte do jovem. Também pode simplesmente tratar-se de um roubo concorrido com homicídio”.

Inevitável foi colocar a Divaldo júlio Martins a pergunta sobre se, em Angola, já pode haver profissionais do crime, que ganham a vida matando por encomenda: “Temos delinquentes profissionais, indivíduos que vivem do crime e estes, como digo, fazem o que for necessário para conseguirem os seus objectivos”, respondeu o especialista. 

A complexidade do próprio caso está a levantar acesas discussões desde que foi noticiada a existência de um segundo corpo na sexta-feira, tendo no dia anterior sido apenas noticiado a morte da jornalista, depois de ter sido dada como raptada em companhia de dois filhos.

A presença de uma quarta pessoa na viatura em que seguia a jornalista e os dois filhos só foi confirmada quando se divulgou que, além do cadáver da jornalista, havia um outro, que se diz ser do seu motorista, Jomance Muxito. O corpo do jovem foi transladado para Malanje, sua terra natal, onde foi sepultado domingo. O corpo da jornalista é sepultado hoje no Cemitério do Alto das Cruzes.

Sobre a investigação policial à volta do duplo homicídio, Divaldo Martins avisou: “Todas as hipóteses estão em aberto. O pior que se pode fazer nesse momento é fechar as hipóteses de análise, focando em apenas uma possibilidade. Isso pode nos levar a perder elementos essenciais e informação e deixar escapar os verdadeiros criminosos.” 

Família de Jomance Muxito pede que a justiça seja célere 

Os  familiares de Jomance Muxito, de 29 anos, pedem às autoridades  celeridade no esclarecimento do duplo homicídio. Interpelados pelo Jornal de Angola, na Rua da Polícia, na cidade de Malanje, parentes, amigos e vizinhos de Jomance Muxito manifestaram indignação pela forma como  morreu o jovem que “deixa um vazio enorme”.

Aldair Garcia, primo de Jomance Muxito, manifestou o seu desapontamento com a comunicação social por “não ter divulgado em primeira instância o duplo homicídio”, referindo-se apenas à morte da jornalista Beatriz Fernandes. O primo, que  falava em nome da família, disse esperar que a imprensa seja imparcial na divulgação de matérias relacionadas com a investigação ao duplo homicídio e acentuou ter sido inadmissível a omissão de um segundo cadáver, sendo até uma demonstração de menosprezo para com Jomance Muxito. 

“A família está destroçada", acentuou Aldair Garcia, que destacou  as qualidades de Jomance Muxito, que deixa duas filhas, uma de cinco anos e outra de dez. Aldair Garcia, que disse estar a família desprovida de informações sobre a relação que Jomance Muxito teria com Beatriz Fernandes, insistiu na necessidade de as autoridades concluírem, de forma célere, a investigação para que os autores do crime sejam responsabilizados criminalmente. Aldair Garcia disse não ser verdade que a sua família esteja a incomodar, por meio de pressão, a família da jornalista Beatriz Fernandes por “não haver motivos de atritos”, tendo em conta que “ambas as famílias estão num ambiente de profunda dor e consternação”. (JA)

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