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Terça, 30 Mai 2017 15:39

Empresários preocupados com saída de José Eduardo dos Santos

Indefinição política em época eleitoral causa ceticismo em investidores estrangeiros e nacionais. Com negócios estagnados há anos devido à crise económica em Angola, muitos apresentam timidez para investirem no país.

O cenário é de indefinição política. Não apenas com o abandono do poder e relatos que apontam para o agravamento do estado de saúde do presidente José Eduardo dos Santos, mas pelo "perfil dúbio” de seu sucessor, o ministro da Defesa, João Lourenço. Numa altura de incertezas em época eleitoral, investidores e trabalhadores das empresas estrangeiras começam a abandonar o país.

O general João Lourenço é para os investidores estrangeiros e nacionais uma figura incógnita. Pouco ou nada se sabe sobre o seu "pensamento económico” - exceto pelos discursos genéricos de "corrigir-se o que está mal e melhorar o que está bem”, sendo este também o lema de campanha do seu partido, o MPLA, no poder desde a independência do país, há 42 anos.

Numa altura de indefinição política sobre o futuro do país, os investidores estrangeiros começam a apresentar reservas diante da ausência de garantias. Teme-se que uma instabilidade pós-eleitoral comprometa os investimentos.

Um empresário português do sector da construção civil ligado à construtora luso-angolana "Teixeira Duarte", que preferiu o anonimato, descreve o ceticismo que paira no seio da classe empresarial estrangeira.

"Está muito complicado trabalhar em Angola. Além da falta de ambiente de trabalho, o mais grave é a perseguição aos empresários que não tenham parceiros ligados ao poder”, explica. Os que têm alguma ligação correm o risco de tudo perderem, acrescenta o empresário, pois os sócios angolanos apoderam-se de tudo e não há onde queixar-se. "Os tribunais não funcionam”, desabafa.

Entretanto o empresário afirma que a saída do Presidente José Eduardo dos Santos Santos e entrada de João Lourenço apontam para um cenário em que o mais recomendável é esperar que as eleições ocorram e apenas depois ver-se o que acontecerá no país. Apenas assim poderão saber se vale a pena ou não investir. "Neste momento, quase ninguém quer investir e muitos estão a regressar. Está tudo parado, praticamente não há trabalho", acrescenta.

Há quem compreenda o receio dos investidores. Pedro Teca, ativista cívico e jornalista do semanário Folha 8,  defendeu que a classe dirigente do país precisa transmitir uma mensagem de estabilidade para não afugentar os investidores.

"Os investidores apenas trabalham quando há paz e estabilidade. Crises de liderança ou constitucionais, assim como qualquer crise, tornam os próprios investidores céticos”, explica.

Neste momento, já começam a registar-se o abandono do país de centenas de pessoas. Sobretudo expatriados de nacionalidade portuguesa, brasileira e francesa.

As incertezas da classe empresarial e da mão-de-obra estrangeira pioram com a falta de informação oficial sobre o estado de saúde de Eduardo dos Santos, disse Francisco Rasgado, diretor do jornal ChellaPress e membro de uma família tradicionalmente ligada ao MPLA.

"José Eduardo dos Santos tem um gabinete de imprensa e diante de todas essas cogitações e desinformações ter-se-ia  pronunciado para negar os fatos, mas não foi o que aconteceu. Quem está a dar as explicações ou tentar contrariar as informações correntes é a filha, o genro ou o amigo. É evidente que isso cria problemas muito sérios, interna ou externamente. A nível interno já há muita gente a preparar-se para sair do país. Se já tinham medo das eleições, agora, com esta informação, o número aumentou ainda mais”, explica.

DW Africa

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