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Quarta, 25 Junho 2014 13:27

'Era uma cadeia, não podia sair', diz ex-funcionário de obra da Odebrechet em Angola

Celso Ferreira trabalhou na construção da usina por 15 dias (Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV) Celso Ferreira trabalhou na construção da usina por 15 dias (Foto: Reginaldo dos Santos/EPTV)

Denúncia do MPT aponta condições análogas à escravidão em Angola. Empresa nega irregularidades e afirma que cumpre legislação trabalhista.

“Era tipo uma cadeia, você não podia sair. Se entregasse o passaporte você era obrigado a ficar lá. Não tinha como ir embora. Eu só consegui sair de lá escondido, eu consegui fugir de lá”. Esse é o relato do soldador Celso Clander Ferreira, morador de São Carlos (SP) que trabalhou por cerca de 15 dias na construção de uma usina em Angola, no ano passado, para o grupo Odebrecht. O Ministério Público do Trabalho denunciou a empresa por manter trabalhadores brasileiros em condições análogas à escravidão na construção de uma usina de cana-de-açúcar em Angola, na África, e por tráfico internacional. O MPT pede indenização por danos morais coletivos de R$ 500 milhões. A assessoria de imprensa da Odebrecht negou as condições denunciadas e afirmou que a empresa cumpre a legislação trabalhista nos países onde atua.

Vídeos e fotos feitos pelos trabalhadores mostram as condições às quais os trabalhadores eram supostamente submetidos na construção da usina Biocom. A água fornecida nos bebedouros estava verde de tão imunda e os trabalhadores ainda tinham que compartilhar dois copos de alumínio. Ratos e moscas varejeiras eram muito comuns dentro do refeitório.  No alojamento, os banheiros viviam sujos e, com os vasos sanitários quebrados, eles tinham que usar o canavial.

Ferreira ficou sabendo da oportunidade de trabalhar no exterior por um amigo. Após passar nos testes ele foi aprovado.  “Entre bonificação e o salário, prometeram R$ 14 mil mensais e condições adequadas de trabalho”, disse.

Contudo, quando chegou ao local, a realidade era muito diferente. “Você não tem vida. É tipo trabalho escravo, porque era de segunda a segunda, 12 horas de trabalho por dia. Para falar com a família você tinha cinco minutos na quarta-feira e tinha que pegar uma fila de 120 metros. A gente vai com o intuito de dar o melhor para a família, de conquistar alguma coisa e chega lá e se depara com uma situação subumana”, disse.

Ele afirmou que os passaportes dos trabalhadores foram confiscados e guardas armados impediram que eles saíssem do canteiro de obras. “Eu que não dei meu passaporte consegui sair de lá escondido. Colegas meus que já tinham ido antes e já tinham me falado para não entregar. Eu enrolei, falei que depois entregava e consegui fugir de lá”, relatou.

Contratação

Ao todo, 300 brasileiros, sendo a maioria contratada em Américo Brasiliense e São José da Barra (SP) entre 2010 e 2014, foram levados para a Angola pra trabalhar na construção da usina dessa mesma forma. José Maria Campos Freitas, advogado que representa 50 deles, alega na ação por danos morais que eles foram submetidos a trabalho escravo. “Condição de higiene, condição de trabalho de sol a sol de domingo a domingo, condição de segurança do trabalho, condição de alimentação, que propiciavam junto com a água, doenças. Isso constitui o trabalho análogo a escravo”, afirmou.

Ele afirmou que os passaportes dos trabalhadores foram confiscados e guardas armados impediram que eles saíssem do canteiro de obras. “Eu que não dei meu passaporte consegui sair de lá escondido. Colegas meus que já tinham ido antes e já tinham me falado para não entregar. Eu enrolei, falei que depois entregava e consegui fugir de lá”, relatou.

Contratação

Ao todo, 300 brasileiros, sendo a maioria contratada em Américo Brasiliense e São José da Barra (SP) entre 2010 e 2014, foram levados para a Angola pra trabalhar na construção da usina dessa mesma forma. José Maria Campos Freitas, advogado que representa 50 deles, alega na ação por danos morais que eles foram submetidos a trabalho escravo. “Condição de higiene, condição de trabalho de sol a sol de domingo a domingo, condição de segurança do trabalho, condição de alimentação, que propiciavam junto com a água, doenças. Isso constitui o trabalho análogo a escravo”, afirmou.

Globo.com

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