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Quinta, 03 Janeiro 2019 19:03

Polícia impede manifestação de estudantes que entregam memorando ao Ministério das Finanças

Cerca de 40 agentes e oficiais da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) em Luanda abortaram na tarde desta quinta-feira, 3, o protesto organizado pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) para revindicar a redução do custo das taxas de entrada na Universidade Agostinho Neto (UAN).

As autoridades policiais justificaram a acção com a lei que permite manifestações em dias laborais apenas depois das 19 horas.

Duas horas depois do período marcado para o inicio da manifestação, os estudantes tentaram passar pelo cordão da PIR.

Francisco Teixeira, responsável do MEA, explicou que os estudantes decidiram não “forçar a barra” para não haver feridos entre os participantes.

“Entretanto, não quisemos causar feridos e indicamos cinco pessoas para levarem as nossas reivindicações ao Ministério das Finanças, com a colaboração da polícia”.

Teixeira acrescentou que, nos próximos dias, as manifestações contra os preços das inscrições poderão vir a ser realizadas dentro da cidade universitária.

“Esperamos que a reunião de amanhã com a reitoria com a Universidade Agostinho Neto tenha êxitos porque, senão, as próximas manifestações serão realizadas dentro da cidade universitária”, assegurou.

“Queremos estudar, não temos 4.000 kwanzas”, “Somos pobres, mas queremos estudar”, foram algumas palavras de ordem dos manifestantes que, com cartazes, afirmavam ainda que “é um papel do Estado decidir os preços dos emolumentos e não da UAN”.

No local, Alberto Daniel apresentou as motivações da manifestação argumentando que muitos jovens não têm possibilidades de pagar os atuais valores cobrados pela maior e mais antiga universidade do país, nas inscrições que arrancaram oficialmente hoje.

“Essa inscrição no valor de 4.000 kwanzas está muito cara e queremos que baixe para darmos possibilidades àqueles que também não têm meios para poderem fazer e se inscrever”, disse.

Daí que, observou o estudante de 36 anos, o “preço justo” desta taxa não devia ultrapassar os 1.000 kwanzas (três euros).

A UAN anunciou na segunda-feira que tem disponíveis 5.095 vagas para o ano académico de 2019, mais 125 que no ano anterior, e as inscrições, que começaram hoje e decorrem até 19 de janeiro, requerem o pagamento, obrigatório, de uma taxa de 4.000 kwanzas, independentemente de o estudante conseguir uma vaga ou não.

Segundo Arante Kivuvu, um dos ativistas do “processo 15+2” – 17 ativistas condenados pelo tribunal de Luanda, em 2015, a penas de prisão – e que também se juntou aos manifestantes, a marcha de hoje não foi permitida pela polícia “devido ao período em que a mesma foi agendada”, o que se ficou a dever à “urgência da situação”.

Porque, adiantou, “encontramos numa situação caricata, onde os estudantes fazem inscrições com um preço muito elevado e muitos não têm possibilidade de conseguir esses valores”

“Por isso é que nos motivamos em marchar esta hora (…) A necessidade em prol do bem comum motivou a convocação da marcha para este período, porque estamos preocupados com os valores que estão a ser cobrados para as inscrições”, apontou.

Francisco Teixeira, presidente do MEA, informou que a “polícia orientou que os estudantes deveriam apenas marchar depois das 19:00 ou ao fim de semana”, afirmando que a reitoria da UAN convocou já a direção daquele movimento para uma reunião agendada para sexta-feira.

Segundo o líder associativo, a Universidade Agostinho Neto “tem estado a atropelar regulamentos do Decreto Presidencial 90/09, que diz que os preços das universidades devem ser taxados pelo ministério das Finanças”, em conjunto com a UAN.

“A UAN tem cerca de 5.000 vagas e abre inscrições para todo o mundo, o ano passado terá arrecadado mais de 300 milhões de kwanzas [850 mil euros] e não conseguem prestar contas, os dirigentes dessa universidade devem ter noção que são servidores públicos”, atirou.

O presidente do MEA referiu também que a marcha foi convocada, sobretudo, devido à “arrogância de alguns dirigentes” da universidade, admitindo convocar “marchas para o Campus Universitário” caso a reitoria da UAN não seja “flexível” face ao pedido dos estudantes.

Na segunda-feira, o diretor do gabinete de Informação Científica e Documentação da UAN, Arlindo Isabel, considerou a taxa cobrada como “ínfima” face às “constantes desvalorizações” que o kwanza tem sofrido (mais de 45 por cento face ao euro no último ano).

O responsável, que questionou a base científica das reclamações do MEA, garantiu que “existem estudos”, a nível da maior universidade pública angolana, que “fundamentam” os valores cobrados. VOA/LUSA

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