Num convite inesperado, o Presidente da República de Angola, João Lourenço, chamou para uma audiência o ministro da Defesa Nacional português, que iniciou esta segunda-feira em Luanda uma visita oficial de cinco dias.
O gesto indicia a abertura de Angola para uma reaproximação com Portugal, depois de o Tribunal da Relação de Lisboa se ter decidido pela transferência do processo que envolve o antigo vice-presidente do país, Manuel Vicente.
A deslocação do ministro José Azeredo Lopes estava já prevista antes desta decisão, mas na agenda constavam apenas encontros políticos, visitas a diversas unidades militares e a assinatura do novo Programa-Quadro de Cooperação para 2018-2021. Dada a tensão entre os dois Estados, provocada pelo caso, e para evitar qualquer desconforto ou previsível recusa, Portugal não tinha sequer solicitado um encontro com o Chefe de Estado angolano.
Ao Expresso, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Manuel Domingos Augusto, tinha deixado clara a intenção de o seu país manter as distâncias. A decisão em relação a Manuel Vicente “fez desaparecer o elemento perturbador no desenvolvimento de relações harmoniosas entre os dois países, mas não deixaremos de retirar as devidas ilações deste caso”, afirmou.
Quanto à visita do próprio primeiro-ministro português, António Costa, que está para ser agendada desde o ano passado, um diplomata angolano afastou o tema das prioridades de Luanda. “É ainda muito cedo e até prematuro falar disso agora”. Isto apesar de o Presidente João Lourenço já ter garantido telefonicamente a Marcelo Rebelo de Sousa o retorno à normalização das relações entre os dois países.
No primeiro dia da visita, Azeredo Lopes tem agendado um encontro privado com o seu homólogo angolano, seguindo-se a 17.ª reunião bilateral luso-angolana no domínio da Defesa.
Na terça-feira, logo de manhã, o ministro da Defesa visita a Escola Superior de Guerra, em Luanda, e à tarde desloca-se à Academia Naval, também na capital angolana.
No programa de quarta-feira está prevista a visita a três projetos locais de Cooperação Técnico-Militar, no Lobito.
No dia seguinte, na quinta-feira, o ministro da Defesa Nacional português desloca-se de manhã à Brigada de Forças Especiais, em Cabo Ledo, estando marcada para a tarde a assinatura do novo Programa-Quadro de Cooperação para 2018-2021.
No último dia do programa, na sexta-feira, Azeredo Lopes visita a Escola de Fuzileiros Navais, em Ambriz.
Na semana passada, o ministro afirmou que as relações com Angola no domínio da Defesa são “excelentes” e disse que aquele país representa um parceiro importante, “muito antigo e muito amigo” na projeção externa da Defesa Nacional.
“As relações na área da Defesa estão a desenvolver-se muito bem e de forma muito saudável e espero, tenho a certeza, de que assim vai continuar a ser”, sublinhou, em declarações aos jornalistas à margem de uma cerimónia no Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa.
A visita do governante é a primeira de um representante português depois de ter sido suspensa para reagendamento, a pedido das autoridades angolanas, em janeiro, uma deslocação da ministra da Justiça portuguesa àquele país.
