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Quinta, 26 Abril 2018 18:42

"Angola sente-se mais livre" sob a presidência de João Lourenço - investigador

O investigador brasileiro Mathias de Alencastro afirmou, hoje, em Paris, que "Angola sente-se mais livre" com o Presidente João Lourenço.

Em entrevista à Lusa e RFI, à margem da conferência "Angola: de Dos Santos a Lourenço - transição esperada, transformação sustentável?", no Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI), em Paris, Mathias de Alencastro começou por afirmar que "há uma verdadeira mudança" em Angola nos últimos sete meses, desde que João Lourenço substituiu José Eduardo dos Santos na chefia de Estado.

O investigador disse que a pergunta 'se Angola está mais livre' se deve colocar "às pessoas que estão no terreno", mas que a sua "pequena amostra pessoal" indica que "as mudanças são impactantes" e "não é apenas o discurso", porque "as pessoas sentem-se mais livres, os jornais expressam diferentes opiniões, as pessoas falam, as pessoas saem à rua".

"Eu acho que muito mais do que apenas expressar críticas ao [ex-Presidente José Eduardos] Dos Santos, os angolanos começaram a discutir a sociedade que eles querem e isso é um debate que os angolanos nunca tiveram a oportunidade de ter e isso é mérito do Lourenço. Não sabemos se é algo que vai ficar consolidado a longo prazo, mas hoje, finais de abril, Angola sente-se mais livre. Parece-me indiscutível", declarou.

Mathias de Alencastro, que trabalha no 'think tank' Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, em São Paulo, considerou que os sete primeiros meses do mandato de João Lourenço têm sido "uma surpresa muito grande" porque "toda a gente esperava que ele [João Lourenço] fosse apenas um boneco colocado pelo Dos Santos".

"Agora, compete a nós, investigadores, fazer uma história daquilo que aconteceu e descrever essa história e ver que nada é imprevisível, nada é uma surpresa, havia um plano obviamente. Não sabemos como esse plano foi feito, se foram decisões tomadas logo após ele tomar posse - quando pôde vislumbrar a real situação económica de Angola e viu que para sobreviver politicamente teria que tomar medidas emergenciais - ou se era alguém que já vinha cultivando esse plano lá de trás", analisou.

O investigador defendeu que Angola passou de "uma situação de hegemonia não negociável", com José Eduardo dos Santos, a uma "hegemonia negociável" com João Lourenço que instituiu "uma nova forma de governar".

Mathias de Alencastro exemplificou que João Lourenço "vai contra alguns interesses estabelecidos em Angola" e "tenta negociar" com a sociedade civil e com a UNITA, o maior partido da oposição, numa "conscientização" de que ele precisa de "fazer mais concessões com a sociedade e com o Estado do que o Dos Santos fazia anteriormente".

"A diferença fundamental é exatamente nessa relação vertical, autoritária, direta entre Dos Santos e Angola e a relação muito mais negociada de Lourenço com o Estado e a sociedade angolana", referiu.

O investigador considerou que a "bicefalia" no MPLA, cujo presidente é José Eduardo dos Santos e cujo vice-presidente é João Lourenço, é "uma situação temporária" e que "é muito provável que José Eduardo dos Santos abandone" depois de ter tentado transformar o partido num "bastião contra o Lourenço".

"O poder é o petróleo e não é José Eduardo dos Santos. Assim que José Eduardo dos Santos se retirou do Estado e que Lourenço assumiu os comandos da indústria petrolífera - que é realmente o motor absoluto da economia angolana - todas as alianças foram reorganizadas dentro do MPLA e muitas pessoas que se diziam 'aliadas até à morte' de Dos Santos, estão agora totalmente ao lado do João Lourenço", continuou.

Ainda que considere que a diversificação da economia angolana "seja uma quimera" - até porque os "petro-Estados" da Venezuela, Argélia e Arábia Saudita "nunca o conseguiram" - Mathias de Alencastro alertou, ainda, que "uma economia dependente do petróleo não só não é sustentável economicamente como não é viável politicamente".

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