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Sábado, 24 Fevereiro 2018 21:54

Na mulembeira que 'anunciou' ao mundo a morte Savimbi ainda se recorda o jaguar

Uma placa enferrujada, encostada à velha mulembeira, ladeada por um quadro com a fotografia de Jonas Savimbi, assinala hoje no Lucusse o local onde em 2002 foi apresentado ao mundo o corpo tombado do líder fundador da UNITA.

"Foi naquela placa que o mais velho ficou", atira um dos muitos populares da aldeia que hoje se juntaram à volta da árvore, uma figueira africana, a 134 quilómetros do Luena, a capital do Moxico, no leste de Angola, para recordar Savimbi.

Neste local foi apresentado publicamente, a 22 de fevereiro de 2002, o corpo do guerrilheiro, para as autoridades e a imprensa nacional e estrangeira confirmarem a morte do "Jaguar Negro dos Jagas", tombado em combate. Ainda retratado com fotografias que simbolizam a morte de Jonas Savimbi, atingido pelas forças governamentais no combate que decorreu mata a dentro, no local juntaram-se hoje dezenas de militantes da UNITA a recordar o líder, entre cânticos e danças.

"Recordo o doutor Jonas Malheiro Savimbi como o melhor patriota, o único patriota, que se dedicou ao serviço do povo angolano. Até aqui não se viu mais ninguém como ele", contou à Lusa Afonso Nzimba, brigadeiro na reforma, de 75 anos, que combateu ao lado de Savimbi entre 1966 e 2002.

Jonas Malheiro Savimbi morreu aos 67 anos, acossado por uma ofensiva das tropas governamentais, a lutar, tal como o fizera ao longo da vida, primeiro contra o regime colonial português, depois contra o imperialismo soviético.

Foi derrubado por 15 tiros próximo do rio Lungué Bungo e o corpo transportado de seguida até à sombra daquela mulembeira, para ser apresentado.

"Dali para cá nós tratamos desta mulembeira como um local histórico, por onde os restos mortais tinham repousado, antes de partirem daqui e serem levados para a cidade do Luena, cujo local onde as autoridades dizem ter sido, supostamente, sepultado", explicou à Lusa, naquele local, o líder da UNITA no Moxico.

"Para nós, este local passa a ser histórico porque, seja lá como for, foi aqui onde o mundo inteiro tomou conhecimento que em Angola morreu o grande líder. O homem que lutou pela independência, pela democracia", acrescenta João Caweza.

Também deputado eleito pelo Moxico nas listas da UNITA, e líder local do partido desde 2005, avançou à Lusa que vão dar entrada com um requerimento, às autoridades locais, para construir um monumento no mesmo local.

"Independentemente de ser agora ou nos tempos vindouros, nós somos obrigados a dar um tratamento adequado a este lugar. Ou mesmo, quiçá, a direção do partido, em concertação com a família, poderemos evoluir no intuito de colocarmos aqui um monumento histórico, porque seja lá como for isto fica para a vida de gerações", desabafa João Caweza.

Para já, a UNITA ainda reclama pela "devolução dos restos mortais" do líder fundador, para fazer o funeral há muito programado no Bié, província de onde era natural Jonas Savimbi.

Um processo de reconciliação nacional que, 16 anos depois dos acordos de paz que se seguiram à morte de Savimbi, ainda estão, em vários campos, apenas no papel.

"Se a reconciliação nacional for um caminho verdadeiro, nós, daqui para a frente, saberemos exatamente como seguirmos com o tratamento deste local, que consideramos histórico", adverte o líder da UNITA no Moxico.

Um processo que não se avizinha pacífico, como atesta de resto a tentativa, frustrada, que os deputados da UNITA tomaram na quinta-feira - precisamente dia 22 de fevereiro -, de pedir ao parlamento que assinalasse um minuto de silêncio durante a sessão plenária.

"Nós, da UNITA, tivemos coragem e desafiamos o senhor presidente da Assembleia Nacional para dizer que, se na verdade em Angola estamos reconciliados, este seria o momento. O que é que custaria todos os deputados de pé e rendermos um minuto de silêncio ao doutor Savimbi", questiona João Caweza.

Com a chapa enferrujada pelo tempo, com o nome "Savimbi" escrito à mão, a mesma que foi utilizada para transportar, ensanguentado, o histórico guerrilheiro, depois de abatido, no fundo, Caweza resume os 16 anos que se passaram desde os últimos combates no Moxico: "Há muito por fazer".

"Mas do nosso lado nós estamos prontos, mesmo que seja amanhã", garantiu.

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