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Segunda, 06 Novembro 2017 10:10

MPLA em rota de concertação

Nos dois últimos anos, o anúncio da reforma presidencial de José Eduardo dos Santos foi o sémen na matriz do MPLA que engravidou e fez nascer um novo estado de esperança nacional.

Por José Luís Mendonça

Alcançado o retumbante triunfo nas eleições deste ano, que não se limita apenas ao resultado dos votos, mas no que vem a seguir – mudança para fazer crescer o MPLA a um novo patamar e a novas conquistas –, acredito piamente que a cúpula do partido saberá conduzir o país e escolher, nas encruzilhadas, a melhor direcção para essa condução. 

Como ficou demonstrado na ex-URSS, na China, e mais próxima de nós, na RSA, as transições políticas são muito sensíveis, porque se repercutem na esfera social e na económica, por isso, exigem mais ponderação, mais tacto negocial. Em Angola, a transição para uma nova era começou quando o Presidente José Eduardo dos Santos liderou, dentro do MPLA, todo um trabalho de mérito que começa a levantar o partido no poder de uma certa monotonia política derivada de muitos anos de rame-rame potestativo. Em Angola, a transição começou logo que o Presidente do MPLA, voluntariamente, decidiu afastar-se, antecipadamente (estava previsto para sair só em 2018) da candidatura ao cargo de titular do poder executivo. 

Perante estes factos reais, mal estaria a Unidade Nacional, alcançada com o sacrifício de milhares de vidas, se fôssemos levados a acreditar na tese de que o MPLA entrou em rota de colisão, por via da eleição do novo Presidente da República, que teria, como defende o meu confrade Severino Carlos no Correio Angolense, criado duas alas no seio dos camaradas, uma reformista e a outra conservadora. 

Esta expressão é um tanto ou quanto temerária e pode estar já a reconstruir-se na mente dos cidadãos em forma de medo quanto ao futuro. Principalmente dos cidadãos com mais de 42 anos e que viveram traumáticas experiências das colisões internas do partido que nos governa.

Como já o disse noutra ocasião e neste mesmo lugar, o MPLA é um partido habituado, forjado, a ultrapassar obstáculos e desafios internos e externos de grande monta. Além disso,  os tempos são outros. A nata dos homens e mulheres que traziam o dedo indicador direito calejado pelo gatilho da guerrilha minguou bastante. Hoje, o MPLA tem mais tecnocratas e intelectuais. Já não estamos naquela era em que o centralismo e a ditadura democrática do proletariado ditavam os contornos da ordem pública.

O MPLA engravidou e fez nascer um novo estado de esperança nacional. Mas essa reorientação que quer e está a recuperar o slogan “O MPLA É O POVO E O POVO É O MPLA” não se enquadra em nenhuma pretensa “rota de colisão”. Trata-se, isso sim, de rota de concertação, no quadro daquilo que, no meu artigo “Meia casca de laranja”, publicado no período das eleições, classifiquei como involução natural do MPLA.

Esse MPLA em involução natural, voltado para as aspirações do Povo Angolano, é o único que eu conheço. O outro MPLA de que fala o meu colega de profissão, Severino Carlos, não sei qual é, nem acredito que realmente exista. Acreditar nessa especulação falaciosa, seria o mesmo que acreditar que quem tem um pássaro na mão, prefere ter dois pássaros a voar. Acreditar na pretensa “rota de colisão” seria o mesmo que acreditar que quem tem tudo para ser feliz, pega numa pistola e dá um tiro na cabeça. 

E todos sabemos que isso é praticamente impossível. O MPLA não é assim. O Presidente José Eduardo dos Santos não é assim. Tenho a plena convicção de que, tal como antecipou a saída do Executivo, o Presidente do MPLA vai brevemente anunciar a sua despedida das lides partidárias. Simplesmente porque o seu trabalho de grande mérito e honra à frente do partido está concluído. Foram 38 anos a gizar soluções para os graves problemas que Angola enfrentou. Isso é estafante. E todo o ser humano tem limites. Por isso, de modo perfeitamente natural e compreensível, Zé Du vai sair airosamente da torre do MPLA e deixar que o vice-presidente – tal como ele próprio fez após a morte de Agostinho Neto – segure nas rédeas de uma das formações políticas com mais prestígio no continente africano. Um partido que não quer, nem pode, obviamente, deitar a grande conquista eleitoral no caixote do lixo. Este é o camarada Zé Du que eu conheço. O único que conheço. O outro Zé Du de que fala o meu colega Severino Carlos, e que entra em rota de colisão, não sei quem é, nem acredito que exista. Deixa-te de ficções, ó Severino!. (JA)

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