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Domingo, 21 Mai 2017 20:23

Chivukuvuku concluiu finalmente ciclo de amadurecimento político

O líder da CASA-CE marcou pontos decisivos na sua reputação política, surgindo agora com a cotação reforçada depois da entrevista que concedeu à TV Zimbo na passada terça-feira, 16. Na ocasião, Abel Chivukuvuku apresentou-se, sem tergiversações, como um sério candidato à Presidência da República nas próximas eleições.

Por Severino Carlos

Na verdade, pode dizer-se agora que Abel Chivukuvuku terminou, finalmente, o ciclo da sua afirmação no universo da política nacional, revelando-se um político que cresceu e amadureceu.

Só com muita dose de desonestidade intelectual, o país político poderia agora mostrar-se indiferente às suas performances. Numa altura em que a nação se ressente, claramente, de uma crise de liderança, está aí, sem dúvidas, um verdadeiro candidato a Presidente da República.

Em excelente forma política, Abel Chivukuvuku está longe das hesitações em que incorria nos tempos da UNITA, com avanços e recuos que, na verdade, acabavam por dificultar a sua afirmação junto das franjas internas do partido, favorecendo entretanto os seus rivais.

Acima da concorrência

Vigor no campo das ideias e da postura política é o que Abel Chivukuvuku deu a ver diante das questões colocadas quer por Francisco Mendes como também por diversos telespectadores, numa entrevista transmitida em directo. O desempenho do líder da CASA-CE colocou-o à milhas da quase generalidade dos demais candidatos ao cadeirão máximo do país. 

É preciso lembrar que os principais concorrentes que deverão apresentar-se à corrida em Agosto são, por ordem aleatória de importância, Lucas Ngonda (FNLA), Isaías Samakuva (UNITA), João Lourenço (MPLA), Quintino Moreira (APN) e o candidato do PRS, ainda não indicado em definitivo, mas que poderá sair de um quarteto formado por Eduardo Kuangana, António Sapalo, João Baptista Ngandangina e Benedito Daniel.

Duvida-se mesmo que, colocados diante das mesmas circunstâncias a que Abel Chivukuvuku se sujeitou nessa entrevista, estes concorrentes conseguissem manter-se imperturbáveis, seguros e com o raciocínio no lugar.  

Há pouco mais do que duas semanas, o quarteto do PRS esteve no mesmo espaço televisivo, para analisar a situação do país e do partido, e a impressão que deixou não passou da trivialidade e mediocridade do costume. Antes já lá tinha estado o líder da UNITA, que se apresentou com um desempenho dentro da mediania, sem ter suscitado no público um entusiasmo por aí além.

Paira agora forte curiosidade do público em saber como seria a prestação do candidato do MPLA à sucessão de José Eduardo dos Santos. Caso a estação televisiva de Talatona faça o que lhe compete fazer, predispondo-se a respeitar critérios de equidistância, natural será que também faça esforços no sentido de trazer João Lourenço aos seus estúdios para o mesmo tipo de entrevista.

Duvida-se, contudo, que tal venha a acontecer. Quando muito, o estado-maior da campanha de João Lourenço acederia à ideia de uma entrevista ao candidato, mas nunca nos moldes observados no caso do líder da CASA-CE que foi sujeito, sem qualquer critério, a uma bateria de questões do público, muitas das quais se repetiam com o claro propósito de perturbar a linha de raciocínio do entrevistado.

Mas até nisso Chivukuvuku revelou sangue-frio e outras qualidades invulgares. Diante das perguntas mais díspares, algumas até disparatadas, foi capaz de segurar o fio condutor do seu raciocínio e pensamento, não caindo nas “emboscadas” que lhe tentaram montar. Revelando uma faculdade rara e própria de mentes brilhantes, conseguia ler as suas anotações, ao mesmo tempo que ouvia o entrevistador e respondia as questões que lhe eram colocadas.

Chega-se a imaginar o que teria sido de um João Baptista Ngandagina se tivesse estado no lugar do líder da CASA-CE. Ou então o que aconteceria ao próprio João Lourenço se não beneficiasse da máquina propagandística dos órgãos de comunicação social do Estado que o têm amparado e carregado praticamente ao colo.

Chivukuvuku tem indiscutivelmente carisma e, ainda por cima, sem a menor sombra de populismo, que é aquele ingrediente que torna geralmente os líderes carismáticos em personagens incendiárias.

Um político de rara cepa

Realmente, não é todos os dias que o país revela políticos da cepa em que o líder da CASA-CE se transformou. Em excelente forma política, Abel Chivukuvuku está longe das hesitações em que incorria nos tempos da UNITA, com avanços e recuos que, na verdade, acabavam por dificultar a sua afirmação junto das franjas internas do partido, favorecendo entretanto os seus rivais.

Acabou por ser um tónico revigorante o retiro sabático a que se devotou, depois do revés que sofreu às mãos de Isaías Samakuva na corrida para a liderança da UNITA em 2007.

A partir de então, mesmo ainda ligado à UNITA, procurou agregar a sua imagem uma certa aura suprapartidária, com apelos aos segmentos religiosos da sociedade civil. Também piscou «piscou os olhos» a organizações e movimentos mais ligados ao activismo social, caso flagrante do Amplo Movimento dos Cidadãos (AMC).

Desligou-se da UNITA apenas quando percebeu que já havia capitalizado o suficiente a respeitabilidade que grangeara fora do galo negro e convenceu-se de que podia, finalmente, firmar-se nos próprios pés. Não foi uma má tacada. Sobretudo quando se sabe que a direcção de Samakuva fez tudo para ostracizá-lo, com sinais até de hostilidade pura.

Assim, quando resolveu correr por conta própria, arrastou consigo um grande número de adeptos que possuía na organização do galo negro, tendo alienado também muitos jovens do eleitorado nacional que seriam, à partida, potenciais militantes do MPLA.

Os resultados confirmaram-se quando no mesmo ano em que se realizariam as eleições de 2012, fundou a CASA-CE e dispondo de muito pouco de preparação logrou mesmo assim fazer-se eleger como  a terceira força política do país, à frente da tradicional FNLA e do há muito implantado PRS.

Realmente, há muito que não víamos, dentre os políticos angolanos, alguém com a sua capacidade de prender a atenção do grande público, fixar o focus da sociedade, enfim, criar factos políticos.  Chivukuvuku destaca-se, claramente, do vulgo, tendo sempre algo de substantivo para dizer, fora dos habituais lugares-comuns que muitos, por entre a fauna política nacional, debitam.

Até a sua conhecida versatilidade oratória ganhou maior aprumo e sofisticação. Nota-se que durante o «defeso» procurou arrumar as ideias, lendo e estudando para estar em dia com as ferramentas teóricas que todo o político moderno deve minimamente dominar.

Na entrevista que concedeu à TV Zimbo isso saltou à vista. Mostrou coragem e arrojo nas críticas frontais que fez ao regime. Não se auto-castrando, chamou os bois pelos nomes.

Concorde-se ou não com determinados pontos que esgrimiu, sobretudo com certas ideias vistas como um tanto futurísticas, a verdade é que Chivukuvuku procurou fundamentar suas propostas com argumentos colhidos de várias áreas do saber: filosofia, sociologia e ciência políticas, direito, política comparada, etc., etc..

Foi, de facto, um Chivukuvuku imprevisto, a jogar em todo o campo, radiografando o país em várias dimensões. São propostas interessantes as que ele avança no sentido de se evitar a litoralização do país e refrear a desertificação do interior.

Graça e carisma

Mas muito do seu êxito não tem apenas a ver com a solidez das ideias e do pensamento, mas também com a sua capacidade de congregar pessoas e lidar com os mais diversos estratos e grupos da sociedade. Há algo em Chivukuvuku que radica na graça e no carisma. Na verdade muito do que ele diz não é propriamente novidade. Só que convence e galvaniza. Nisso está a sua «mina». O país está num ciclo de catarse e a precisar que emirjam líderes que consigam fazer a diferença. E Chivukuvuku faz isso muito bem, quando sai de sua casa do seu gabinete e calcorreia o país dos bairros mais periféricos às aldeias do interior do país.  Partilhou o candongueiro e o autocarro com o cidadão comum; pisou lama e atravessou lagoas após dias de chuva.

Chivukuvuku tem indiscutivelmente carisma e, ainda por cima, sem a menor sombra de populismo, que é aquele ingrediente que torna geralmente os líderes carismáticos em personagens incendiárias.

A sua disposição para estabelecer coligações com distintas formações partidárias é bem o exemplo disso. Na entrevista à Zimbo não se coibiu de indicar que faria uma coligação com o próprio MPLA, desde que este alterasse radicalmente a sua natureza.

Há muito, enfim, que o país não vê alguém com esse dom de fazer as pessoas pararem para o escutarem. Chivukuvuku consegue isso com um incrível “efeito de contagio”.

Correio Angolense

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