As alterações pontuais da lista do MPLA para as eleições gerais de 2017, autorizadas recentemente em sessão extraordinária do Comité Central inserem-se num movimento mais vasto de gestão do processo de sucessão do Presidente José Eduardo Santos.
A decisão do CC, depois da revisão de regulamentos internos, tornou formalmente possível a alteração da ordem de precedências nas listas. O “eventual reposicionamento dos candidatos” foi justificado pelo próprio JES como necessário para acautelar “factores imponderáveis”, como a desistência de uma das candidaturas, mas também tendo em vista o objectivo de obter uma “vitória expressiva” nas eleições.
A necessidade de evitar “ruído” do CC na recomposição das listas, ditou que o processo fosse levado primeiro a este órgão e só depois ao Bureau Político (BP). Habitualmente, as decisões tomadas ao nível do BP são sujeitas a posterior validação do CC, como na formalização dos cabeças-de-lista eleitorais do partido.
Entre os candidatos apontados com popularidade mais baixa a nível local estão os governadores de Cabinda, Aldina da Lomba e da Huíla, João Marcelino Tyipinge . No pólo oposto, apontado como em ascendente a nível interno devido à visibilidade alcançada pelo partido na província, está o governador do Huambo, João Baptista Kussumua.
Na lista aprovada pelo CC, figuram abaixo de João Lourenço (JL), cabeça de lista e candidato a presidente, e de Bornito de Sousa (BS), os nomes de António Paulo Kassoma, Luzia Inglês, Roberto de Almeida, Joana Lina, Pitra Neto, Dino Matrosse, Ana Dias Lourenço e Maria Odete Tavares.
Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” , actual presidente da Assembleia Nacional, surge apenas na 11ª posição. O actual líder da bancada parlamentar, Virgílio Fontes Pereira,
fica na 19ª posição. Manuel Vicente entra, em lugar elegível, na 24º posição, antes de Carlos Feijó ( 27º ), apesar de ser esperado que não venham a assumir o lugar de deputado.
No âmbito de um processo mais vasto de reconfiguração do regime depois da saída de JES, fontes do partido admitem que a alteração de precedências sirva também para afirmação de um “terceiro homem” , entre João Lourenço e Bornito de Sousa, cujos poderes como vice-presidente são reduzidos. A esta nova figura é atribuído o potencial de assumir, no âmbito de uma próxima revisão constitucional, de pendor semi-presidencialista, o papel de chefe do governo. António Paulo Kassoma, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” e Pitra Neto, os dois últimos em posições modestas dado o seu peso partidário e na governação (foi vice-presidente do partido) – são apontados como os principais candidatos à posição de primeiro-ministro, num cenário pós-eleitoral de vitória do MPLA . Entre estes, Pitra Neto é apontado como o preferido de José Eduardo dos Santos para a posição, nomeadamente por:
– Perfil tecnocrático e culto pela discrição – “a sombra não brilha” é uma as frases que gosta de citar;
– Máxima confiança de JES;
– Experiência governativa longa, nos últimos anos à frente de um dos principais ministérios – Administração Pública, Trabalho e Segurança Social; contraponto a menor experiência governativa de JL e BS, figuras de maior peso dentro do partido;
– Boa aceitação dentro do partido e meios intelectuais/ comunicação social; geralmente reconhecido o seu trato diplomático/ afável;
– Papéis de relevo público assumidos, nomeadamente a coordenação da Comissão Interministerial para a Implementação do Plano Nacional de Formação de Quadros, incluindo a participação em cerimónias públicas relacionadas com o mesmo, e o Estudo Sobre População e Administração Pública , apresentado no início do ano;
– Falta de sintonia entre JL e “Nandó”, que não terá aceite bem o facto de não estar entre os cabeças-de-lista do partido.
– “Sinal” negativo de JES ao relegar “Nandó” para posição inferior na lista; perspectivas de que venha a ser substituído por Joana Lina no cargo de presidente da Assembleia.
O jurista Carlos Feijó (CF) é apontado como peça fundamental para a redefinição do aparelho de governação, pelo seu papel central na elaboração da constituição de 2010, e pela
credibilidade e estima pessoal que JES lhe confere. É, aliás, das poucas pessoas com quem JES despacha pessoalmente e não através dos chefes da Casa Civil ou de Segurança – privilégio não concedido mesmo a alguns ministros.
Fonte do partido adianta que, dos encontros de JES com Carlos Feijó, terá resultado que o jurista esteja a efectuar estudos preparatórios para uma nova revisão da Constituição, dado terem passado mais de 5 anos desde a aprovação da anterior.
AM