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Quinta, 21 Julho 2016 14:59

MPLA critica livro lançado em Portugal sobre o partido

O bureau político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) criticou hoje duramente o lançamento em Portugal de um livro sobre aquele partido e o primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, queixando-se de uma nova "campanha de desinformação".

Em causa está o livro "Agostinho Neto - O Perfil de um Ditador - A História do MPLA em Carne Viva", do historiador luso-angolano Carlos Pacheco, lançado publicamente em Lisboa a 05 de julho, visado no comunicado daquele órgão do Comité Central do partido no poder em Angola desde 1975.

"A República de Angola está a ser vítima, mais uma vez, de uma campanha de desinformação, na qual são visadas, de forma repugnante, figuras muito importantes da Luta de Libertação Nacional, particularmente o saudoso camarada Presidente Agostinho Neto", lê-se no comunicado enviado à Lusa pelo bureau político.

O autor do livro, que o MPLA recorda tratar-se de "um ex-comando do exército colonial, que fazia discursos elogiosos no Palácio do Governador colonialista" é ainda classificado como um "crónico saudosista do colonialismo português".

"Depositou todo o seu fel, inconformado, como sempre esteve, com as vitórias do MPLA e do povo angolano, em todas as batalhas que garantiram a conquista da soberania nacional e da paz definitiva em Angola", acusa o partido, liderado desde a morte de Agostinho Neto, em setembro de 1979, por José Eduardo dos Santos, igualmente chefe de Estado.

No lançamento do livro, Carlos Pacheco explicou que a obra é o resultado de uma década de investigação histórica e que "desmistifica" a "glória" atribuída ao homem que conduziu os destinos do movimento que lutou pela libertação do jugo colonial português em Angola (1961/74).

Publicado pela editora Nova Veja, o livro dá ainda conta de casos de corrupção, indisciplina e dissidência, de casos de comportamento hostil de chefes guerrilheiros contra as populações nas matas, referindo a morte de civis, roubos das produções agrícolas, raptos e violações de mulheres.

"É bastante sintomático que, ao longo de mais de mil páginas, onde destila o seu veneno, as pessoas mais visadas já não façam parte do Mundo dos vivos, como Agostinho Neto, Lúcio Lara e 'Iko' Carreira, num ato de cobardia sem tamanho - pois que estes já não podem defender-se -, deixando habilmente de fora protagonistas da época, ainda em vida", escreve, por seu turno, o bureau político do MPLA.

O partido aponta ainda o "intuito de desacreditar Angola e o seu executivo" com esta publicação, "que privilegiou, na sua pesquisa, os arquivos da PIDE/DGS", a antiga polícia política do regime ditatorial português.

O bureau político do Comité Central do partido diz ainda que "repudia, veementemente, a forma caluniosa e insultuosa como é tratado o maior Herói da Luta de Libertação Nacional", Agostinho Neto, e "deplora a tentativa de rebaixamento do MPLA ao nível de outros movimentos, cuja postura sanguinária e assassina é por demais conhecida e que os verdadeiros historiadores facilmente comprovarão nas suas pesquisas".

"Carlos Pacheco pode, até, ter os seus delírios, mas chamar os patriotas angolanos de 'bando de Neto' e dizer que foram para a luta por 'motivações materiais' é um insulto a todo um povo, a todos os que perderam a vida pela Pátria, muitos dos quais tinham abandonado as universidades, na Europa e na América, para se juntarem a ela", lê-se no comunicado.

Dividido em dois volumes e com um total de 1.470 páginas, profusamente ilustrado e com mapas e centenas de notas com referência bibliográficas, o livro aborda ainda o "trágico" e polémico "27 de maio" de 1977, uma alegada tentativa de golpe de Estado contra o regime de Agostinho Neto que se saldou na morte de Nito Alves, uma das até então mais proeminentes figuras da ala dura do MPLA.

António Agostinho Neto, natural do Bengo (Angola), onde nasceu a 17 de setembro de 1922, formou-se em medicina das universidades de Lisboa e Coimbra e liderou a guerrilha do MPLA contra o colonialismo português.

© Lusa

 

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