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Terça, 28 Junho 2016 16:19

“Os erros que cometemos no passado, servem hoje de exemplo” - Quintino Moreira

Quintino António Moreira, o líder da Aliança Patriótica Nacional (APN) Quintino António Moreira, o líder da Aliança Patriótica Nacional (APN)

Em entrevista exclusiva ao OPAIS, o líder da nova força politica, Aliança Patriótica Nacional (APN) Quintino António Moreira, admite os erros cometidos quando dirigia a Nova Democracia, extinta em 2012, e promete faze: r diferente. Ao longo da conversa, o político que durante anos dirigiu a Nova Democracia (Extinto em 2012), falou entre outros assuntos, da sua estratégia de actuação para as eleições de 2017, o actual momento politico e económico do país, criticou duramente a falta de tolerância política passados 14 anos de paz.

Depois de ser extinto a coligação que dirigia em 2012, o senhor aparece agora com a criação de mais um novo partido. Qual é o seu grande objectivo?

A Aliança Patriótica Nacional (APN), é uma força política que emergiu na arena política nacional há quase um ano, é um partido que surge para poder estar ao lado dos cidadãos angolanos mais desfavorecidos e lutar pelos seus direitos, políticos, económicos e sociais. Nos propusemos a trabalhar para que Angola continue a ser um país uno e indivisível.

O partido recém-criado já tem representação em todas as províncias?

Sim, estamos em todas as províncias e mais de 90% dos municípios do país.

A APN está preparada para os próximos desafios?

Sim, faltando apenas 13 meses para o pleito eleitoral, estamos a trabalhar afincadamente para cumprir com os nossos objectivos, actualmente estamos a trabalhar para conseguir no próximo ano um vasto número de deputados na Assembleia Nacional.

Qual é a matriz ideológica do seu partido?

Somos um partido de centro-esquerda. A nossa acção é direccionada para as populações mais vulneráveis, vamos trabalhar para a melhoria das condições sociais dos cidadãos mais vulneráveis como os das áreas rurais, vamos trabalhar com os desmobilizados de guerras, antigos combatentes e suas famílias. Nesta área vamos trabalhar para que as desigualdades existentes entre o rico e o pobre em geral para que possa haver um equilíbrio, onde possam viver de forma condigna numa Angola sonhada pelos nossos antepassados, queremos ver uma Angola em que não haja esta desigualdade que hoje se verifica a nível do país.

Como estão a se preparar para as eleições de 2017?

Apesar do partido ter surgido apenas há um ano, felizmente já conseguimos estender o partido a todas as províncias, municípios e comunas. Daqui a alguns dias vamos arrancar com os seminários de capacitação dos nossos dirigentes e formadores políticos, no sentido de disseminar estudos sobre como os nossos activistas devem actuar a nível da sociedade para conseguir angariar mais membros para a nossa formação partidária. Estes seminários vão decorrer em todo país. Vão arrancar em Luanda a partir do dia 2 de Julho na nossa sede nacional.

Qual é a vossa expectativa para o próximo ano?

É grande, na medida em que estamos a receber vários cidadãos que querem aderir à nossa formação partidária e pelo número, acreditamos que a Aliança Patriótica Nacional vai alcançar os seus objectivos que é de conseguir deputados a nível do centro do poder politico angolano que é a Assembleia Nacional. No próximo ano será o ano das eleições, com a situação politica e económica que o país atravessa, a oposição angolana poderá conseguir mais votos, mais representatividade parlamentar em relação a todas eleições passadas. Estamos a trabalhar para este fim. Foi orientado às bases a nível das províncias, municípios, comunas e aldeias, para que trabalhem no sentido de congregar um número suficiente de angolanos para aderirem a nossa causa.

Esteve durante muitos anos a dirigir a Nova Democracia, agora decidiu criar o seu próprio partido. Onde estavam os erros para o fracasso?

falaA Nova Democracia foi uma coligação que congregou seis partidos políticos. Foi a maior coligação e a única existente no país dos anos 90 a 2012. O nosso objectivo era congregar todas as forças políticas angolanas para fazermos desta plataforma politica uma alternativa ao MPLA. Como sabe, o MPLA governa o país há mais de 40 anos e não há nos membros do MPLA, cidadãos que aceitam que Angola deve ser governada por uma única força política, porque ninguém nasceu predestinado para dirigir Angola. Todos nós somos angolanos e temos os mesmos direitos e deveres. Nesta senda, pensamos congregar o maior número possível de forças e em 2012 não conseguimos atingir a percentagem para que a ND pudesse permanecer como uma força politica. Lamentamos por não termos atingido aquela cifra.

E as razões?

Por um lado, as várias tendências que existiam a nível da coligação não ajudaram muito. Seis partidos políticos que a coligação tinha, depois com a junção de mais um que era o Partido Trabalhista que entrou já no fim do nosso mandato, no princípio de 2012, e passamos a ser sete. Nos partidos haviam várias ideologias politicas, uns eram da esquerda, outros da direita, centro, portanto não conseguíamos encontrar um meio-termo para que todos pudessem se rever. Foi bom o quanto durou a coligação, conseguimos atingir alguns objectivos preconizados, conseguimos ter representantes na casa magna das leis angolanas, participamos com êxito na elaboração da constituição angolana em 2010.

Passados seis anos desde que deu o seu grande contributo para a elaboração da constituição angolana. A constituição actual é a melhor que há?

Sim, e com toda sinceridade se a constituição fosse discutida e aprovada hoje eu voltaria a apoiar.

Mesmo depois de ter sido muito contestado?

Sim, porque primeiro é que até 2010 Angola não tinha uma constituição. Regia-se por uma lei constitucional, e era óbvio que depois de mais de trinta anos, o país tivesse uma constituição, e esta veio reforçar algumas garantias fundamentais para o próprio cidadão, como vários que não existiam tínhamos na Lei Constitucional anterior e que foram incorporados na actual constituição.

Na discussão da Constituição, a Nova Democracia dirigida na altura pelo senhor, propôs a lei sobre a adopção da poligamia?

A poligamia na altura foi despoletada porque a ND havia levantado a questão de se levar à discussão pública da poligamia. Só era isso. Portanto, na altura fomos mal interpretados, os nossos detractores políticos usaram até inverdades para denegrirem os dirigentes da ND. Apesar de tudo, saímos satisfeitos com tudo isso, porque só mesmo no que tange a questão da poligamia, consta no artigo 7º da constituição o respeito pelos costumes, portanto está bem assente em que os nossos pais, os nossos sobas e reis os cidadãos angolanos que todas as suas acções que caíam na alçada dos costumes estão defendidos no artigo 7º da Lei constitucional angolana. Ainda sobre a constituição, houve várias manifestações por parte de vários partidos, mas que hoje tanto os actores políticos como os da sociedade civil, nos exaltamos por termos uma constituição. Portanto, valeu a pena termos passado durante meses a discutir a constituição até à sua aprovação.

Acha que agora vai conseguir realizar todos os seus projectos que ficaram pendentes enquanto responsável pela ND?

Sim, porque primeiro é que herdamos cerca de 95% do património humano da Nova Democracia, contamos também com os ex-comissários nacionais, províncias e municipais na CNE . Não foi possível congregarmos os 100% dos militantes que eram da ND. Alguns que fomentavam a desordem e a indisciplina a nível interno não foram recuperados.

E os erros das eleições de 2008- 2012?

Onde há homens, há erros, portanto foram erros por causa da inexperiência que tínhamos, mas hoje, estamos aqui como representantes do povo e estamos condenados, a não voltar a errar. Os erros que cometemos no passado, a nossa inexperiência servem hoje de exemplos, por exemplo, a CASA-CE pensa hoje em se transformar em partido politico devido as brigas, porque numa coligação há muitos conflitos internos.

É importante que o MPLA, FNLA e a UNITA, se reconciliem com a história’

Como avalia a questão da tolerância politica em Angola passados 14 anos de paz?

Não podemos tapar o sol com a peneira é preciso dizer que a nível do nosso país, ainda não temos a tolerância desejada. Tenho dito que é importante que os partidos tradicionais, o MPLA, FNLA e a UNITA, primeiro se reconciliem com a história para podermos ter um país harmonioso, não é admissível que 14 anos depois ainda morrem em Angola cidadãos por estarem ligados a um partido politico. Isso não pode estar a acontecer, como ocorreu muito recentemente em Benguela-Cubal onde cidadãos morreram porque estão afectos ao partido MPLA ou UNITA.

E…

É preciso que haja uma responsabilização criminal, para que sirva de exemplos a outros possíveis cidadãos que queiram fazer o mesmo. Pensamos que é urgente que a Policia Nacional e a Procuradoria- Geral da Republica e o Ministério da justiça façam um trabalho significativo para terminar com a intolerância política no nosso país. Não queremos mais ver cidadãos a morrer porque já basta os milhões de angolanos que morreram ao longo destas guerras que começou em 1975 até 2002. Como é que avalia o actual cenário politico e económico do País? É catastrófico, devido à queda brusca do preço do petróleo por um lado, por outro a má gestão destes mesmos recursos que saíam da venda do petróleo.

Agora, é necessário um trabalho urgente do governo para que possa tirar o país desta situação que se encontra. O Executivo angolano não tem cultura de ouvir os parceiros políticos da oposição, lamentamos, mas é importante numa fase como esta ouvir as outras forças politicas, criar um fórum apropriado para abordar questões relacionada com a situação que o país vive hoje, onde poderiam participar figuras não só politicas mas tecnocratas, buscar cidadãos independentes, nas faculdades e institutos superiores para poderem dar o seu contributo. É necessário que arregacemos as mangas e todos juntos possamos trabalhar para que saiamos desta situação.

Tem havido muitas mortes a nível do país, os hospitais estão cheios de doentes, as escolas não estão a suportar a demanda, os pais estão a retirar os filhos das escolas privadas para as públicas e estas não estão a dar conta. É necessário que não só o partido que governa para dar solução mas sim o povo em geral. Será bom para o país e o país só sairá ganhar.

Que projectos tem em carteira na ANP?

São vários, temos projectos de formação de dirigentes e quadros e a formação de formadores para poderem corresponder com o momento politico do país. Vamos começar a nossa pré-campanha eleitoral dentro de dias, para podermos ir a tempo de nos igualar aos outros que já andam no mercado algum tempo, embora que diga-se que há uma disparidade em termos de posses.

O partido que governa não tem fronteiras, porque não se consegue diferenciar onde começa e termina o partido e onde começa o governo. Existem fundos que colocam em desigualdade  os outros partidos, portanto seria bom que o Estado angolano pudesse alocar verbas aos outros partidos sem assento parlamentar para que estes se pudessem organizar condignamente para as eleições que se avizinham.

Tem encontrado muitas dificuldades?

São as que nós preferimos chamar de desafios, como nesta altura poder realizar a assembleias gerais com os membros, colóquios, deslocações dos dirigentes na sede nacional para as províncias, visitas de ajuda e controle, numa altura de crise, de dificuldades. São inúmeros os desafios que temos mas vamos colmatar estes desafios com os recursos que temos. Pensávamos realizar um congresso antes do pleito eleitoral de 2017, mas por razões óbvias não vamos poder realizar, só será feito depois das eleições de 2017. Vamos trabalhar de mãos dadas para que o nosso país seja bom para se viver nos próximos anos.

O PAIS

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