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Terça, 07 Junho 2016 22:09

Emmanuel Nzita, filho de Nzita Tiago e secretário-geral, sobe à liderança da FLEC/FAC

Emmanuel Nzita, filho de Nzita Tiago, que faleceu a 03 deste mês, foi eleito presidente da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda/Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC) pelo Alto Comando Militar do movimento, disse hoje fonte oficial.

Contactado telefonicamente pela agência Lusa desde Lisboa, o porta-voz da FLEC/FAC, Jean-Claude Nzita, disse, a partir de Paris, que a decisão foi tomada numa reunião daquele órgão do movimento que luta desde 1963 pela secessão do enclave de Cabinda, primeiro contra o regime colonial português e, depois da independência, contra Angola.

"Para se prosseguir com a obra deixada pelo presidente da FLEC, o Alto Comando Militar e o Bureau Político escolheram Emmanuel Nzita", até agora secretário-geral do movimento, sublinhou o porta-voz.

Emmanuel Nzita wa Nzita nasceu no exílio na RD Congo a 24 de abril de 1955 (61 anos) e, antes de chegar a secretário-geral, foi encarregado da diplomacia da FLEC/FAC em Kinshasa, na RD Congo.

Jean-Claude Nzita confirmou, por outro lado, que a direção interina da FLEC/FAC já comunicou as instruções aos militares no terreno para um cessar-fogo unilateral de três meses, nomeadamente ao comandante Sem Medo, chefe operacional das Forças Armadas de Cabinda (FAC), braço armado da FLEC.

Segundo o porta-voz do movimento, os membros da direção da FLEC/FAC presentes em Cabinda já apelaram à população local para se manter tranquila.

"Apesar da morte do presidente Nzita Henriques Tiago (nasceu a 14 de julho de 1927 em Mboma Lubinda, em Cabinda, província angolana que faz fronteira com os dois Congos), os nossos objectivos e determinação continuam rumo à independência de Cabinda. Não estamos enfraquecidos", disse à Lusa Jean-Claude Nzita.

"Respeitando o legado politico e militar transmitido por Nzita Henriques Tiago prestamos fidelidade e depositamos total confiança no presidente Emmanuel Nzita wa Nzita", acrescentou.

Nzita Henriques Tiago, 88 anos, faleceu a 03 deste mês em Paris, vítima de doença prolongada, e o funeral realiza-se sexta-feira na capital francesa, no mesmo dia em que o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, está de visita à capital francesa.

Questionado pela Lusa sobre se a marcação do funeral para o mesmo dia da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Paris é uma coincidência ou propositado, Jean-Claude Nzita respondeu que não tinha conhecimento da deslocação.

A FLEC luta pela independência de Cabinda, alegando que o enclave era um protetorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, e não parte integrante do território angolano.

Criada em 1963, a organização independentista dividiu-se e multiplicou-se em diferentes fações, efémeras, com a FLEC/FAC a manter-se como o único movimento que mantém a resistência armada contra a administração de Luanda.

A FLEC foi criada oficialmente num congresso que se realizou de 02 a 04 de agosto de 1963, ainda antes da independência de Angola. A cidade de Ponta Negra, no Congo Brazzaville, foi o berço da sigla que se viria a tornar famosa.

A FLEC resultou da fusão de três organizações: o Movimento para a Libertação do Enclave de Cabinda (MLEC), de Luís Ranque Franque, Comité de Ação da União Nacional de Cabinda (CAUNC), de Nzita Tiago e Aliança Nacional Mayombe (ALLIAMA), de António Sozinho.

Franque assume a presidência da FLEC, Sozinho é eleito secretário-geral e Nzita é vice-presidente e é ele próprio quem abre o escritório do movimento em Cabinda, antes da independência de Angola (11 de novembro de 1975).

No final da década de 1970, a FLEC dividiu-se em várias fações. Além da FLEC-Nzita, surgem a FLEC-Ranque Franque e a FLEC-Lubota, líderes históricos entretanto falecidos.

A multiplicação continua nos anos seguintes com a FLEC-FAC, FLEC- Posição Militar, FLEC-Renovada, FLEC-Nova Visão, tendo Nzita Tiago desdramatizado sempre as divisões, alegando que muitas delas eram constituídas por um ou dois membros.

Atualmente, vivia em Paris, sem nunca ter aceitado o passaporte angolano ou o estatuto de exilado político de Angola. Era cidadão gabonês.

Lusa

 

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