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Segunda, 30 Mai 2016 00:15

"A quem interessa atacar a caravana de deputados da UNITA?"

Três pessoas morreram, na quarta-feira, em ataques a uma comitiva em que seguiam deputados da UNITA, na província de Benguela. Adalberto da Costa Júnior, do maior partido da oposição em Angola, pede inquérito "rigoroso".

"Foi um ataque para matar", diz Adalberto da Costa Júnior. O chefe da bancada parlamentar da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) era um dos três deputados do partido que integravam a comitiva, de visita à comuna de Capupa, no município do Cubal. Três pessoas morreram e outras três ficaram feridas, segundo as autoridades. De acordo com o maior partido da oposição, os atacantes seriam apoiantes do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), no poder.

Em entrevista à DW África, Adalberto da Costa Júnior diz não ter dúvidas de que o ataque foi "preparado". No passado, segundo o deputado, já ocorreram incidentes do género no local. A UNITA pede, por isso, um inquérito urgente e "rigoroso" para apurar responsabilidades e perceber qual o motivo do ataque.

DW África: O que esteve na origem dos confrontos?

Adalberto da Costa Júnior (ACJ): É uma pergunta que me coloco permanentemente, o que leva pessoas a atacarem uma coluna com deputados e com a própria polícia, que também foi alvo dos ataques. Dado o facto de termos encontrado um ataque muito violento, com várias emboscadas, não tenho dúvidas de que foi algo preparado. Tive esta sexta-feira de manhã (27.05) um encontro com o comandante da polícia da província de Benguela e com o governador, e o que mais solicitei foi um inquérito muito rigoroso para apurar responsabilidades. E espero que não se fique por um habitual "lavar de mãos", que faz com que os autores de muitos crimes não sejam punidos neste país.

DW África: Mas houve por parte dos membros da UNITA alguma provocação?

ACJ: Nós não estivemos em nenhum sítio onde houve atos político-partidários. Nós, grupo parlamentar da UNITA, estamos a fazer aquilo que o regimento da Assembleia permite ao deputado – na última semana de cada mês, os deputados fazem visitas de constatação aos eleitores e às instituições.

DW África: Convosco estavam também as forças de segurança.

ACJ: Não só estavam as forças de segurança como o município do Cubal fez deslocar quadros para acompanhar a delegação. Mas a minha pergunta é: por que é que o Ministério do Interior tem necessidade de mentir à população? Na quinta-feira, vimos o Ministério do Interior em Benguela a fazer sair um comunicado desastroso. No comunicado fala-se em "atividades partidárias", mas não houve nenhuma atividade partidária. Diz-se ainda uma grosseiríssima mentira: que não houve conhecimento dos sítios visitados. Mas isso é inacreditável. Antes de vir para cá, reunimos com o governo provincial e com as administrações. Fomos acompanhados pela polícia… Francamente. Isto é um indicador de que há aqui qualquer coisa mal explicada.

DW África: A UNITA já avançou que os atacantes seriam apoiantes do MPLA. Que provas tem disso?

ACJ: Os atacantes foram seguramente levados a agir por questões partidárias. É possível dizê-lo, porque, antes, estes atacantes tinham retirado bandeiras da UNITA e colocado bandeiras do MPLA na área em que o ataque acorreu. Sabendo esse pormenor pode-se fazer facilmente esta lógica. Mas eu não tenho nenhuma dúvida em ir mais longe e dizer que estes indivíduos foram usados – mas não deixam de ter responsabilidade. A quem interessa fazer ataques a deputados? A quem interessa criar um clima de tensão de âmbito nacional? Não será que isto tem a ver com intenções de atrasar a realização das eleições em Angola? São perguntas que eu coloco.

DW África: Sabe quando será criada uma comissão de inquérito?

ACJ: Unilateralmente, ao nível do Ministério do Interior, foi criada uma comissão. Mas deu para ver que não é essa a comissão que vai trazer respostas, porque está em circunstância de absoluta parcialidade. Deve ser criada uma comissão, institucional, que faça um levantamento e permita tirar leituras que impeçam a ocorrência deste tipo de atos. Porque os atos este ano são demasiados – houve atentados no Cuando Cubango ainda no mês passado, houve este atentado aqui e há atentados a deputados, individualmente. O Estado deve pôr um ponto final a estas coisas e fazer algo para encontrar, definitivamente, a explicação sobre o que está a ocorrer e quem está envolvido nisto.

DW África

 

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