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Segunda, 23 Fevereiro 2015 18:40

O partido não está dividido - Lucas Ngonda

Lucas Ngonda aposta na dinamização da vida do partido histórico FNLA. Nega que existam divisões internas, apesar de a prática ter demonstrado uma realidade diferente, como no último congresso. Defende que enquanto os partidos não se democratizarem, dificilmente haverá democracia em Angola.

Como pretende lidar com aqueles que contestam a direcção, numa altura em que passa para o exterior a imagem de um partido dividido?

O partido não está dividido. Tem uma direcção legítima. O Tribunal Constitucional já disse que hoje, em Angola, não pode haver partidos com alas. Todos os problemas que existiam ficaram resolvidos. Agora, se há quem não quer cumprir, o problema é seu. Há militantes que actuam à revelia e as leis devem actuar em função disso. O país tem um ordenamento jurídico e este já se pronunciou sobre esta situação. Esta também é uma missão do jornalista, explicar que em Angola já não existem alas. Muitas vezes os jornalistas falam em alas e isso vai ficando na mente das pessoas.

Os últimos confrontos entre militantes foram mais graves, resultando na morte de uma pessoa e em ferimentos noutras. Quer comentar?

Foi triste. Recebi muitas mensagens e telefonemas de pessoas a perguntarem o que se passou. Continuamos com conflitos internos que vão culminar em insatisfação, acabando por prejudicar o partido. O senhor Kabango é o protagonista de toda esta situação. Isto já tinha acontecido no Uíge, onde o secretário provincial do partido sofreu ferimentos. Na ocasião não respondemos porque pensámos que não valia a pena atiçar as coisas. No passado dia 6 foram à sede do partido, arremessaram pedras, partiram vidros e até o carro protocolar que me está atribuído foi atingido, sofrendo algumas amolgadelas. Claro que os militantes queriam reagir. Apelei à calma. E, quando menos se espera, apareceram novamente. Desta vez houve militantes que responderam e o resultado foi o que se conhece.

Mas também o acusam de não promover o diálogo?

Mentira. Já marcámos vários encontros e eles nunca apareceram. Pelo contrário, marcam outros encontros, mas entre eles. E agora, quando tínhamos tudo preparado para a realização do congresso, apareceram para causar desmandos.

A sociedade não espera mais da FNLA?

A sociedade angolana tem de entender que este é um partido histórico e quer ajudar a resolver problemas do país. Em primeiro lugar, há pessoas que não querem inovações no partido, querem manter a FNLA nos padrões da luta de libertação. Angola já é independente. Já não temos compatriotas como inimigos. Temos adversários... mas políticos. Agora somos chamados a inovar a FNLA, num espírito de irmandade, para que possa ajudar à reconciliação nacional. Não vamos andar aí a inventar lutas. As lutas políticas são aquelas que são legítimas. O povo de Angola deve compreender que, enquanto os partidos políticos não estiverem democratizados, dificilmente teremos democracia em Angola.

Quando os outros candidatos apresentaram os seus planos de acção, houve acusações de que havia delegados de listas vindos, designadamente, da Universidade Lusíada e de igrejas, para elegerem o novo líder do partido. Como reage?

Isso não é verdade. Aliás, essa pergunta não é a mim que deve ser colocada. Quem dirigiu a comissão eleitoral é que tem de explicar quais são os elementos estranhos que não saíram das assembleias de voto.

Os candidatos também se queixaram do valor atribuído pelo partido a cada candidatura para as acções de campanha [100 mil kwanzas, mil dólares norte-americanos).Mas podiam ver as condições em que se realizou o congresso. O espaço é do partido. Construímos este espaço porque no congresso de 2010 gastámos 230 mil dólares para o aluguer da sala do Cine-Atlântico. Agora um partido que só tem dois deputados, que dinheiro tem? Esses candidatos são uns sonhadores. Estavam à espera de encontrar um monte de dinheiro? Não quero ir muito longe com isto. Não conhecem o partido, por isso não estão em condições de o dirigir.

A sua geração é acusada pelos jovens de não estar a adaptar-se aos tempos modernos. Como reage?

Admito que faltam alguns incentivos à juventude, o partido vive esta situação desde 1992. Tivemos então cinco deputados e, durante esse tempo, o partido não teve nada. Nem uma sede em condições. Nem uma sala de reuniões conseguimos construir. Não se fez absolutamente nada. Nas eleições de 2008 elegemos três deputados e não fizemos nada. Agora queremos reconstruir a FNLA e esse trabalho é moral, económico e físico. Este complexo é o único património que o partido tem hoje. Por isso, gostava que explicassem de onde deveria sair o dinheiro para a campanha à liderança do partido.

A FNLA tem reclamado o respectivo património?

Já falámos com o Presidente da República, desde o tempo de Holden Roberto, mas nunca tivemos resposta.

Que espaços reclama a FNLA? Tem exemplos?

Sim, tenho. Por exemplo, o actual edifício do Ministério da Assistência e Reinserção Social (MINARS) [Avenida Hoji Ya Henda, ex-Avenida Brasil, em Luanda] é nosso; o edifício do Jornal de Angola, na rua Rainha Ginga, em plena Baixa de Luanda, é nosso; e na Terra Nova há um prédio, no Sambizanga, etc, etc.

Sol

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