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Quarta, 02 Abril 2014 17:46

25 Abril "veio na pior altura" para o MPLA - Pepetela

O escritor angolano Pepetela considerou que o 25 de Abril aconteceu na pior altura para o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que em 1974 enfrentava uma processo de reestruturação e de divisões internas.

"Para nós, MPLA, essa altura não foi a melhor porque estávamos num processo, por um lado, de reestruturação, mas também de muitas divisões internas, que depois do 25 de Abril se agravaram", disse à agência Lusa Pepetela, que na altura era responsável pelo maior centro escolar dos guerrilheiros angolanos, na frente leste.

As divisões, explicou, tinham uma razão de ser: "começa a aparecer um espetro no horizonte que antes não nos preocupava e que é o poder. A possibilidade de haver uma independência e quem vai ficar com o poder".

"Nesse aspeto, agravou as rivalidades, as lutas internas", frisou.

Nascido em 1941, em Benguela, litoral centro de Angola, Pepetela recebeu em 1997 o Prémio Camões, o mais importante galardão literário para escritores de língua portuguesa, e tornou-se, com a independência da Angola em 1975, vice-ministro da Educação no governo do Presidente Agostinho Neto.

Manteve-se no cargo ao longo de sete anos, e aposentou-se em 1982, para se dedicar só à escrita.

Colocado na frente leste desde 1971, Pepetela testemunhou as contradições no seio do MPLA, os efeitos que o 25 de Abril e a proximidade do exercício de poder tiveram nas estruturas do movimento guerrilheiro e, sobretudo, a desconfiança relativamente ao que estava a acontecer em Portugal.

"Quando cheguei à frente leste, ainda nós estávamos na fase boa. Eu apanhei o princípio da fase má", recordou.

E a fase má, referiu, foi marcada pela introdução pelo exército colonial de helicópteros e agentes químicos.

"Tinha havido uma introdução maciça de helicópteros, também de exfoliantes, e a mandioca morria. Sem mandioca, a população fugia para onde havia comida e se a população fugia, os guerrilheiros também não se aguentavam muito tempo", explicou.

O reforço do apoio sul-africano às operações militares portuguesas, com cobertura aérea, foi determinante, segundo Pepetela.

Esse foi o começo da "fase má", a que se juntou a divisão entre os nacionalistas angolanos: "Dos três movimentos, havia dois que não se entendiam mesmo e que eram a Frente Nacional de Libertação de Angola [FNLA] e o MPLA".

"Quando as coisas não correm bem há sempre problemas. E num país em que há enormes diferenciações geográficas, culturais, de estatuto, é óbvio que se as coisas não correm bem têm que se encontrar culpados, que podem ser, na sociedade tradicional, um mais velho que faz feitiço, e começam as divisões e isso corresponde a 1971", destacou.

Um ano depois, as divisões cristalizam no que virá a ser conhecida como a Revolta do Leste, posteriormente liderada por Daniel Chipenda, um dos "grandes dirigentes do MPLA", como o caracterizou Pepetela.

A divisão no seio do MPLA teve como resultado que esse movimento tenha sido o último a assinar o cessar-fogo com as novas autoridades portuguesas.

"Porque estávamos divididos. Primeiro, foi preciso fazer um congresso, tentar minimamente arrumar a casa", explicou.

Entretanto, surgiu uma nova linha de divisão dentro do MPLA, a chamada Revolta Ativa.

"É uma situação muito complicada. Nós até queríamos assinar um cessar-fogo, mas não podíamos garantir que todos os grupos cessariam fogo. Era uma situação perigosa", acrescentou.

Apenas quando foi possível garantir que, do ponto de vista militar, a situação estava controlada, quer no leste quer em Cabinda, é que foi possível assinar o cessar-fogo, quase seis meses depois do 25 de Abril.

Angola tornou-se independente a 11 de novembro de 1975, mas sofreu uma guerra civil que só terminou em 2002, com dois curtos períodos de paz resultantes dos acordos de Bicesse (1991) e de Lusaca (1994).

LUSA

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