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Sábado, 08 Setembro 2018 14:05

Marcolino Moco diz que José Eduardo dos Santos reconheceu erros pela primeira vez

O antigo secretário-geral do MPLA, Marcolino Moco, enalteceu hoje o último discurso de José Eduardo dos Santos, como líder do partido, por "pela primeira vez" o presidente cessante ter "reconhecido os seus erros".

Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro angolano, falava à imprensa no final da sessão de abertura do VI congresso extraordinário do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que marca hoje a sucessão de José Eduardo dos Santos, após 39 anos à frente do partido, pelo, até agora, vice-presidente da organização política e Presidente da República, João Lourenço.

Na sua intervenção, José Eduardo dos Santos admitiu falhas na sua governação.

Segundo Marcolino Moco, profundo crítico da governação de José Eduardo dos Santos nos últimos anos, recorda que o presidente cessante sempre habituou a apresentar-se aos angolanos como "não homem".

"Mas hoje tem essa hombridade de nos dizer que afinal ele também é homem. É muito bom", admitiu Marcolino Moco.

O também antigo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) aproveitou o momento para uma crítica, que referiu se estende a todos os militantes do partido: o facto de nunca serem citados os fundadores do MPLA.

"Só são bonitos aqueles que estiveram no poder do MPLA até ao último dia da sua vida, aqueles que por exemplo fundaram o MPLA, que também foram homens, cometeram os seus erros, Viriato da Cruz, Mário Pinto de Andrade, nunca se diz nada sobre eles, parece que o MPLA começou em 1962, feio isso", salientou.

Marcolino Moco apontou como "muito boas" as expectativas do partido com a nova liderança, porquanto os sinais concretos dados em um ano de presidência: "João Lourenço, como foi sublinhado é uma pessoa introvertida, trabalhei com ele muitos anos, é muito eficiente, é um grande companheiro, mas às vezes é muito fechado e não sabemos - aliás característica do José Eduardo dos Santos também - o que é que ele vai fazer", frisou.

Contudo, João Lourenço, avançou Marcolino Moco - nomeado em 2017 como administrador não executivo da petrolífera Sonangol pelo chefe de Estado -, "deu sinais muito positivos de que é capaz de mudar, de corrigir, sobretudo capaz de criar".

"Espero que não tenha sido só para nos conquistar, que essa ação política deste ano que começou sobretudo com a abertura da comunicação social", salientou o político.

Segundo Marcolino Moco, João Lourenço poderá ter alguma dificuldade na sua ação devido à "linguagem eleitoralista, um tanto quanto 'mentirosa'", que faz "prometer coisas que são impossíveis", como "dar emprego".

"Isso para mim não interessa, o que interessa são os atos estratégicos que ele tomou, sobretudo a abertura da comunicação social, que permite que o país não ande às cegas", vincou.

Marcolino Moco chamou ainda atenção ao que considerou o "culto à personalidade daqueles que brilharam no poder".

"Isso é muito feio e perde-se muito tempo com os louvores, ao invés de se debruçar sobre os problemas perdemos tempo em auto louvar-nos", referiu.

Relativamente ao "louvor", Marcolino Moco disse que José Eduardo dos Santos distanciou-se disso, mas "deixou-se sempre rodear dos bajuladores", o que "sujou muito a [sua] imagem de grande estadista".

"Há quem diga que a culpa não é dele, mas a culpa é sempre de quem tem o poder de decisão, porque ele é que deixou-se cercar pelos bajuladores. É ele que deixou por exemplo que a justiça pudesse atuar sobre os prevaricadores e os que estavam a destruir o erário público, desviando para o exterior", concluiu.

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