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Quinta, 06 Setembro 2018 12:27

Ascensão de João Lourenço encerra "bicefalia" no poder em Angola

João Lourenço vai ascender no sábado a presidente do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, acabando com praticamente um ano de "bicefalia" na liderança do país, reforçando a margem para aprofundar reformas económicas e políticas.

Atual chefe de Estado, vencedor das eleições gerais de agosto de 2017, João Lourenço estará como vice-presidente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) até sábado, dia do VI Congresso Extraordinário do partido, que certificará o fim da era José Eduardo dos Santos, líder do partido desde 1979.

Mentor de muitas e inesperadas mudanças políticas e económicas em 11 meses, João Lourenço ainda não falou sobre o que será o futuro, mas alguns observadores angolanos admitem que ao assumir os dois cargos - líder do partido e chefe de Estado -, as reformas em Angola irão mais longe.

A dois dias do congresso, desconhece-se, ainda, quem irá assumir o seu lugar de vice-líder do partido e de secretário-geral, atualmente ocupado por Paulo Kassoma.

Reformador, João Lourenço tem tentado de várias formas mostrar-se diferente de José Eduardo dos Santos - Presidente de Angola entre 1979 e 2017 - e tem recorrido a alterações na nomenclatura do Estado sem a aparente consulta ao ainda líder do MPLA, esperando-se, agora, mudanças profundas no aparelho de um partido que esteve sempre no poder desde a independência do país, em 1975.

Empossado a 26 de setembro de 2017 como terceiro Presidente de Angola (Agostinho Neto foi o primeiro, entre 1975 e 1979, e José Eduardo dos Santos o segundo), João Lourenço segue os mesmos passos que os seus antecessores também no MPLA, tornando-se o terceiro líder, quase nas mesmas datas.

João Lourenço tem vindo a desafiar a liderança no partido do ex-Presidente da República, ao retirar vários negócios e cargos aos filhos daquele, nomeadamente Isabel do Santos e José Filomeno dos Santos, mas também a outras figuras próximas a José Eduardo dos Santos.

Primeiro Presidente angolano a chegar ao cargo sem ter combatido na guerra colonial, o general, de 64 anos, nasceu a 05 de março de 1954 no Lobito (província de Benguela). João Manuel Gonçalves Lourenço, popularmente conhecido por "JLo", construiu, porém, uma parte do seu percurso no MPLA de arma na mão.

Apesar de não ter chegado a combater diretamente o regime português - acabara de completar 20 anos quando se dá a "Revolução dos Cravos" em Portugal (25 de abril de 1974) -, viveu a oposição ao colonialismo ainda criança, ao ver o pai detido na cadeia São Paulo, em Luanda, entre 1958 e 1960, acusado de atividade política clandestina, enquanto enfermeiro do porto do Lobito.

Pouco antes da proclamação da independência angolana, feita em Luanda, pelo MPLA, a 11 de novembro de 1975, João Lourenço inicia a carreira militar na República do Congo, tendo feito a sua primeira instrução político-militar no Centro de Instrução Revolucionária de Kalunga.

Hoje general na reforma, e até julho de 2017 ministro da Defesa Nacional, João Lourenço integrou o primeiro grupo de combatentes do MPLA que entraram em território nacional via Miconge, em direção à cidade de Cabinda, após a queda do regime ditatorial português.

Depois de participar em vários combates na fronteira norte, no período de guerra civil que se seguiu à proclamação da independência, João Lourenço ainda fez formação em artilharia pesada e exerceu funções de comissário político em diversos escalões, antes de partir para a então União Soviética.

É nesse processo de qualificação das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA) que, entre 1978 e 1982, reforça a sua formação militar, além de obter o título de mestre em Ciências Históricas, pela Academia Político-Militar V.I. Lenine.

De novo em Angola, assume, entre 1982 e 1990, vários cargos militares, envolvendo-se em diversos combates contra as forças da União Nacional para a Independência de Angola (UNITA), sobretudo no centro do país, até ascender a general das FAPLA.

Começa então um percurso político dentro do MPLA que o levaria até secretário-geral do partido, entre 1998 a 2003.

Com José Eduardo dos Santos a anunciar a intenção de deixar o poder com o fim do conflito armado (2002), João Lourenço posicionou-se na corrida à sucessão, o que lhe valeu uma longa travessia no deserto, depois de o então Presidente decidir manter-se no poder.

A reabilitação política aconteceu em abril de 2014, quando é nomeado José Eduardo dos Santos para ministro da Defesa Nacional, culminado com a eleição, em congresso, em agosto de 2016, como vice-presidente do MPLA, antecedendo a sua entrada na corrida eleitoral para chefe de Estado angolano.

João Manuel Gonçalves Lourenço é casado e pai de seis filhos, tendo como passatempo a leitura, o xadrez, e a equitação e é apaixonado pelas novas tecnologias de informação.

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