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Segunda, 04 Junho 2018 15:16

Candidato às eleições congolesas pede a Angola para manter Kabila sob pressão

O líder do partido congolês ORDC, candidato a Presidente da República Democrática do Congo (RDCongo), Eminate Tedi Bernard, apelou hoje a Angola para manter pressão sobre Kabila, que, avisa, a bem ou a mal tem de deixar o poder.

Em entrevista à agência Lusa, em Luanda, onde se encontra para reuniões com autoridades políticas angolanas, Tedi Bernard responsabiliza Joseph Kabila pela instabilidade e "ausência de governação" em que a RDCongo vive.

"Kabila é um Presidente ilegal", acusa o líder e fundador da Organização para a Revolução e a Democracia no Congo (ORDC, na sigla em francês), recordando que o chefe de Estado já deveria ter deixado o poder em 2016, após cumprir o limite dos dois mandatos previstos na Constituição.

"A nossa Constituição não reconhece o senhor Kabila, está a exercer o poder em violação da nossa Constituição. O artigo 64 estabelece que qualquer congolês tem o dever de se opor a qualquer indivíduo que tome o poder à força ou que o exerça em violação da Constituição, e neste momento Kabila está a exercer o seu poder em violação da Constituição e se insiste num terceiro mandato, não vai passar. Temos de o tirar à força", afirma Tedi Bernard, politólogo que fundou em 2012 a ORDC.

Aos 37 anos, Tedi Bernard será um dos mais novos candidatos às eleições presidenciais congolesas previstas para 23 de dezembro de 2018, descrevendo um país em suspenso, que aguarda por saber se Kabila força um novo mandato.

"Neste momento o país está paralisado, há guerra em todo o lado, violência, levantamentos. O país não está em paz e na origem de todos os problemas encontramos Joseph Kabila. É ele o ator principal", acusa ainda.

Formado numa universidade do Havai, o político afirma sem rodeios que Angola deve ser o principal aliado do povo da RDCongo e que já hoje "joga um papel importante pela estabilidade".

"Porque somos países vizinhos e o Presidente de Angola tem essa responsabilidade, deve ter essa boa vontade, de contribuir para que as eleições se realizem este ano e Kabila não seja candidato", afirma Bernard, apelando a que o chefe de Estado angolano mantenha a pressão sobre o regime do país vizinho.

Joseph Kabila é esperado ainda este mês em Luanda, para um encontro no âmbito da mediação que os países da região, nomeadamente Angola, têm feito da instabilidade na RDCongo.

As eleições presidenciais deveriam ter-se realizado inicialmente em dezembro de 2016, mas, depois de um acordo entre Governo e oposição, decidiu-se adiá-las por 12 meses, para dezembro de 2017.

Kabila acabou por adiar unilateralmente a data das eleições, que foram agora marcadas para 23 de dezembro deste ano, o que desencadeou viva contestação política e social.

"É uma obrigação. Kabila deve, obrigatoriamente, sair. E nós recorreremos a todas as formas possíveis para ele deixar o poder. Se insistir, devemos aplicar o artigo 64 e fazê-lo sair à força", garante Tedi Bernard, apontando o dedo ao "tráfico de influências" que gira em torno do regime congolês atual e que diz fomentar a corrupção e a pobreza.

O presidente da ORDC explica que começou por Angola uma ronda de contactos com partidos dos países "vizinhos e irmãos", para consultas, vendo a transição no poder angolano como "uma inspiração" para nova governação congolesa.

Assume que após os anos da governação de Kabila, "há muito para fazer" no país, desde logo tratar da fome e miséria em que vive a generalidade da população congolesa, apesar dos valiosos recursos.

"Basta só chegar ao poder, temos a missão de voltar a colocar o país no rumo certo, porque o Presidente Kabila nunca resolveu os problemas do povo. Um povo que não tem o que comer".

Convicto que pode vencer as eleições, conta que o objetivo é "trabalhar com todos os congoleses": "Porque temos uma maioria e uma oposição, na RDCongo, mas ao ver de perto é tudo o mesmo. É o mesmo produto, em embalagens diferentes".

A oposição acusa o Governo de atrasar propositadamente as eleições presidenciais para manter Kabila no poder, embora o regime o negue, argumentando ser necessário mais tempo para as organizar.

Nesta altura, segundo informação de maio da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI), estão inscritos para as eleições presidenciais 599 partidos e 77 coligações de partidos.

"Esses [599 partidos] são partidos políticos aliados à maioria. São partidos-satélite que apoiam Kabila, é a sua estratégia para continuar no poder", afirma, explicando que a ORDC se assume como um partido do centro.

"O meu partido político é independente. Não está nem com a maioria, nem com a oposição. Porque no nosso país não há uma oposição, são pessoas que alimentam Joseph Kabila no poder", acusa.

Admite que a seis meses da data anunciada, as condições para a realização de eleições presidenciais livres e justas "ainda não estão garantidas", embora acredite no papel que será assumido até dezembro pela CENI.

Questionado sobre o futuro de Kabila após as eleições, prefere uma abordagem diplomática: "Não sou eu a decidir o destino do Presidente Kabila, terá de ser um assunto da Justiça congolesa".

Por entre garantias de proteção aos investimentos do estrangeiro na RDCongo, Tedi Bernard também assume que após as eleições, quase tudo terá de mudar no país.

"Depois de 2018, o Congo será um novo país, com novos dirigentes, com um novo modelo de governação que pretendo instaurar no país", concluiu.

A RDCongo é liderada pelo clã Kabila desde 1997, primeiro com Laurent-Desiré Kabila, pai, e por Joseph Kabila desde 2001.

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