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Terça, 24 Outubro 2017 19:11

O perigo de João Lourenço que muitos ainda não perceberam

Neste artigo, quero raciocinar convosco a forma gradual em que estamos aceitando o absurdo em troca de ilusões vendidas por políticos da situação e da oposição.

Por Pedrowski Teca

Todos acompanhamos os vícios do processo eleitoral que culminou com a legalização do candidato escolhido pelo ex-presidente da República de Angola, o ditador José Eduardo dos Santos, à Presidência da República.

Recordo-vos da lei do registo eleitoral oficioso imposto pelo MPLA, sob proposta do actual vice-presidente Bornito de Sousa Baltazar Diogo, que ilegitimamente, na qualidade de ministro da Administração e do Território (MAT), organizou o registo eleitoral de todos os cidadãos que votaram a 23 de Agosto de 2017, qual árbitro e jogador na mesma partida.

Ressalvo também a manutenção da lei orgânica sobre as eleições gerais, que devia ser emendada, mas que com a cumplicidade da maioria dos partidos da oposição, votou-se na utilização da mesma lei, com todos os seus vícios, que orientou as eleições gerais de 2012.

Adicionalmente, chegado o ano eleitoral, vimos a persistência da ilegalidade na manutenção das empresas Sinfic e Indra, que manusearam a parte física (material eleitoral) e abstrata (dados computarizados) do processo.

O surgimento do general João Lourenço (JLo) como candidato à presidente pelo MPLA, enfraqueceu os partidos políticos da oposição, que estavam despreparados e contando com a continuidade do ditador José Eduardo dos Santos. A oposição ficou sem um discurso que se enquadra no confronto contra este novo figurino, que contrário do seu antecessor, enveredou na humildade e reconhecimento de problemas, prometendo soluções com o lema: "Corrigir o que está mal, e melhorar o que está bem".

O golpe final, surgiu nas falcatruas da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) concretamente no processamento e anúncio dos resultados eleitorais, e na incapacidade e cumplicidade do Tribunal Constitucional (TC) julgar os contenciosos eleitorais, validando o processo sem antes seguir a regra básica da averiguação da contestação, que é a obrigação da recontagem dos votos.

Covardemente, os partidos políticos, tal como em 2012, optaram pelo caminho fácil da estomagocracia e financeiramente conveniente, que é a legitimação da eleições outrora consideradas fraudulentas, pela tomada de posse dos assentos na Assembleia Nacional.

Consequentemente, para o frustrado povo usado e abusado pelos políticos da situação e da oposição, restou a obrigação de se conformar para mais 5 anos de Mudança adiada.

Os perigos de JLo

O discurso do general João Manuel Gonçalves Lourenço começou a ser contemplado até pelas massas mais críticas do regime do MPLA, a partir da sua apresentação na província da Huíla.

JLo conseguiu baralhar ainda mais a oposição e críticos do MPLA no seu discurso de tomada de posse, onde a única falha notou-se pelo facto dos serviços de segurança do mesmo me terem considerado um atentado contra a segurança do Estado, retendo-me no local, apesar de ter estado devidamente credenciado.

Parece mentira mas é verdade, desde a tomada de posse do general João Lourenço, os angolanos e mundo mergulharam numa amnésia coletiva, esquecendo a contestação da justeza e legitimidade do processo eleitoral decorrido.

Tudo indica que estamos todos conformados com o que aconteceu, aceitando gradualmente a traição da oposição e a manipulação da situação, que garante a perpetuação do poder do MPLA.

Com os mesmos defeitos, o carro que nos carrega há mais de 40 anos, mudou de motorista, mas o seu título de propriedade continua em nome de José Eduardo dos Santos.

Dos Santos institucionalmente colocou uma coleira em João Lourenço, seu indicado, manietando as coisas nos bastidores.

O grande perigo que as pessoas ainda não perceberam, é o actual processo de concentração de poderes, que está sendo realizado por João Lourenço.

Lembrem-se que José Eduardo dos Santos fez o mesmo quando foi nomeado em 1979, afastou do MPLA, todos os que não lhe bajulavam, transformando-se num deus em Angola.

É natural que João Lourenço tem de trabalhar com pessoas da sua escolha e confiança, mas essas constantes exonerações, que estão a servir de distração aos angolanos, dando a ilusão da Mudança, é perigosamente um processo de concentração de poderes e afirmação política, do qual devemos perceber que "nada está melhor que não possa piorar".

O poder é para ser exercido, assim diz a máxima, e João Lourenço está somente a se ajeitar ao cadeirão máximo da Nação Angola, sendo precoce a exaltação actual, que pode ser decepcionante porque o carro que ele dirige, o MPLA, não é novo e continua com os defeitos de sempre.

Eu ainda dou o benefício da dúvida ao João Lourenço, mas com este processo acelerado de concentração de poderes em si, temo que ele cometa aquilo que tem criticado: o MONOPÓLIO do poder Executivo, Legislativo, e Judicial da República de Angola.

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