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Segunda, 11 Setembro 2017 12:03

Ruptura do equilíbrio nas relações conjugais VS Igualdade de direitos entre géneros

Em Angola em tempos idos, as relações entre casais assumiam uma marcha de equilíbrio bastante coesa e sólida, num clima harmónico e fraterno, porém, pela ironia do destino, os tempos actuais fizeram das relações um desastre em virtude do mar de problema que mina a convivência entre cônjuges. 

Embora possa não parecer, o casamento ainda continua a ser o que era. As pessoas quando casam ainda acreditam no “Até que a morte os separe” e ainda têm como principal objectivo a busca continuada da felicidade.

Os primeiros sinais de desencanto surgem com as incompatibilidades de feitios que são acentuados pelo convívio entre os membros do casal; o desequilíbrio na divisão de tarefas; quando o casal começa a entrar na rotina e os problemas económicos surgem dá  - se lugar ao aparecimento da ruptura do equilíbrio na relação conjugal. Outro dos problemas muito frequentes e que podem minar a vida de um casal é a falta de diálogo e as constantes discussões, a falta de submissão da mulher, a falta de respeito do homem à sua esposa, a falta de humildade da mulher, ou seja, hoje, os casais vivem um desequilíbrio no âmbito do entendimento entre homem e mulher, todos querem ser iguais, todos querem gritar em uníssono, querem falar, têm os mesmos direitos. O desfalecimento do respeito ao homem, deu lugar a inúmeras razões que colocaram as relações sobre os píncaros das separações.

Há longos anos, citam antropologistas, que o papel da mulher, tinha sido resumido num acto humilde de servilismo à família e a sociedade por imposição de ordem histórica, que remonta ao tipo de organização e ao modo de subsistência das sociedades primitivas.

A vida primitiva, forçava os humanos, a uma vida em grupos. Os homens percorriam os grandes espaços para caçarem animais necessários à sua alimentação. As mulheres, entregues à sua actividade de procriação, limitavam-se a colher plantas selvagens na imediação do seu habitat. A caça era uma actividade nobre, implicava riscos, argúcia, destreza, força, manuseamento de arma de ataque.

A colheita de plantas não tinha qualquer valoração.

A partir desta diferença inicial de funções nascem todas as desigualdades do género.

A mulher depende do homem, fica confinada aos espaços restritos, cuida dos filhos e dos parentes.

Com base na organização deste quotidiano surgem extrapolações bem conhecidas: o homem caracteriza-se pelo rigor do pensamento, pela capacidade de raciocínio, pela força muscular, o que lhe dá autoridade e autonomia. À mulher resta-lhe a intuição, a paciência, a capacidade de dedicação aos outros e a submissão sólida.

Enraízam-se, assim, hábitos ancestrais e criam-se mentalidades apoiadas em códigos, interdições e proibições veiculadas pelas religiões, que influenciam o relacionamento entre homens e mulheres.

A evolução da condição feminina, que veio a verificar-se ao longo do tempo, é universal e resulta de um grande conjunto de factores, sobressaindo as mutações económicas, sociais e politicas que se reflectem no comportamento das mulheres.

Elas saem do mundo doméstico para a vida activa, põem à prova as suas capacidades intelectuais e físicas, revelam talentos, aprendem a viver no colectivo, afirmando a sua identidade e autonomia.

Vivemos num mundo complexo que muda constantemente e com ele muda a situação feminina, mas as mudanças não ocorrem de forma linear.

O trabalho realizado pelo homem, mesmo que seja penoso, é sempre uma alegria, e existe a melhor harmonia entre dirigentes e dirigidos. A mulher só é feliz se estiver à guarda do homem.

No interior do lar o homem detém a autoridade e a mulher deve receá-lo, servi-lo e obedecer-lhe.

Hoje, a situação tomou um peso da evidência contrária, as múltiplas lutas femininas têm vindo a fazer da mulher num outro ser perto de perder a sua identidade subalterna ao homem no lar, falando – se desde logo em direitos iguais, porém, os princípios tradicionais bantus, dizem que a mulher deve assegurar o futuro da espécie no lar e ser obediente ao marido.

A valoração do casamento baseado na igualdade de direitos e deveres dos conjugues é hoje um facto evidente, mas, esta igualdade de direito, trouxe consigo a falta de humildade em muitas mulheres, que passam a desrespeitam seus maridos sem qualquer escrúpulo, colocando até então, o lar no vale do desespero. 

A partilha, na família, do poder paterno entre o marido e a mulher tem vindo a causar desacatos em muitos dos lares onde os homens não aceitam a igualdade de tarefa, por acharem que são os mais fortes e não aceitam a divisão do papel no lar, negam categoricamente a lei dos direitos iguais em que todos podem: arrumar a casa, mudar fraldas dos bebes, lavar a louça, ir as compras, limpar o chão, cozinhar, ficar com o bebe que chora, arrumar a mesa.

Esses são dos direitos de igualdade que não encontram espaço algum na tradição bantum onde o homem é soberano e assume a responsabilidade excelsa de um lar, o cabeça de casa, nesta sorte, há tarefas que são proibidas que um homem o faça, porém, os direitos de igualdades não separam tarefas nem mesmo interesses, todos são iguais, ninguém existe acima do outro, nem abaixo do outro.

Esses direitos de igualdade é que têm vindo a colocar o ar de arrogância em muitas mulheres nos lares, como resultado suscitam casamentos completamente rotos em virtude da isenção da humildade da mulher, do respeito e da harmonia, nenhum homem queria ter a sua tarefa colocada num acto doméstico, os homens, gostam da masculinidade autêntica e de valentia, neste prisma, quando num lar se prima pela igualdade de direitos, virão problemas sem regressos que arruinarão de forma gradativa o casamento ou a união entre ambos.

Sem dúvida que, conquistada a liberdade e iniciada a vida democrática, o estatuto das mulheres angolanas na sociedade foi melhorando, mediante a concretização progressiva dos princípios e direitos.

Mas não basta a consagração na lei para que se verifiquem na prática os princípios enunciados e se evitem situações discriminatórias, que reflectem a influência da pesada herança do passado.

Tendo em consideração que no nosso meio persistem nas práticas correntes antigos preconceitos veiculados pela tradição cultural e pela educação informal ou formal, que actuam negativamente nas relações entre homens e mulheres, há que desenvolver uma política integrada da igualdade do género.

Bem – haja!

João Henrique Hungulo: Médico Generalista, Pesquisador de Ciências Médicas, Professor Universitário, Escritor, Poeta.

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