Ficou claro que a actual cúpula dirigente do país é sensível as pressões internacionais, que tem manifestamente dificuldades de conviver em democracia no plano interno e com Estados democráticos de direito, como é o caso de Portugal.
O partido que sustenta o governo em Angola esquece-se que as verdadeiras democracias, sobretudo ocidentais, não são democracias de faz de contas, como é o caso angolano, cujo sistema político em vigor não respeita a sua própria Constituição da República. Ficou claro nesta entrevista que a cúpula angolana gostaria de estabelecer um " arranjo político" com dirigentes portugueses. Dito por outras palavras, dirigentes angolanos enviariam para Portugal dinheiros desviados, e o governo português faria olhos de mercador.
Portugal ficaria, assim, conivente com a corrupção, fazendo do território luso um paraíso fiscal, para os dirigentes angolanos pavonearem-se impunemente com milhões de dólares desviados, como aconteceu recentemente com Bento Kangamba.
Vivendo num mundo global, e sendo o Estado angolano parte do sistema das relações internacionais, a justiça portuguesa deve fazer o seu trabalho sem pressões, nem compadrios, tranquilamente, para se apurarem as responsabilidades. Não vale a pena procurarem-se bodes expiatórios. É do interesse de todos os angolanos e portugueses promover uma cooperação sadia, que paute pela transparência.
Alcides Sakala