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Sábado, 19 Janeiro 2019 11:02

Valores morais: enterrados no túmulo do esquecimento — há crise de valores na família angolana

Em Mon oncle d”Amérique, de Alain Resnais (1980), o cientista Henri Laborit compara seres humanos em crise a ratos agredindo – se em laboratório. Lembramo – nos deste cenário ao ver na Internet a multidão mal-educada que se apressa em verter o peso do seu veneno pelo verbo fácil, à colocar inferior à todos com termos nauseabundos e abjectos. Para quem não quer buscar a memória, sem os grandes sacrifícios do passado, Angola estaria no topo do icebergue, um zero à esquerda da vírgula, engolida por todas as catástrofes que por cá passaram no seu passado, onde. Os homens do passado moveram – se à sacrifícios pesados, de elevado custo, tendo resgatado uma nação dividida entre os interesses da guerra civil, da guerra fria e da miséria que se espalhava à dimensão de sua geografia como uma serpente venenosa pronta à devorá – la.

O que hoje assistimos na Internet, tratou – se de um escândalo público nacional, um herói remetido por pessoas com crise de valores à esfera de uma personalidade inválida. O egoísmo dos novos cidadãos desta Angola está a corroer – nos a compleição moral. Tal como a inquisição foi minando o nosso velho amor à liberdade. A inversão de valores, motivada pela anti – ética do sucesso à todo custo [ou, para os pobres, a sobrevivência dê por onde der, mesmo que se tenha de apagar a imagem de heróis que deram e consagraram a vida à pátria angolana], a nova era em Angola, está a matar as defesas imunitárias da moral e das maneiras.

Os novos angolanos, traumatizados pelo passado, olham para heróis que deram tudo à pátria, com desprezo, ódio, inveja [quem diria?], e sempre com enorme incompreensão dos ideais do passado, leiam – se os seus escritos na Internet, são memória de uma personalidade perdida entre a intriga e o desdém, a crise de valores, tornou – se moda de luxo nesta esfera.

A nova geração não reconhece a autoridade do Estado. Os novos cidadão estão magnetizados pelos poderes, rastejam – se diante deles. Mas a autoridade [autoritas, não potestas], não suportam. E la é sempre a sombra perturbadora de uma débil legitimidade. É terrível haver destas testemunhas em Angola. São muito incómodas […]. Representam um fumus da própria consciência embotada, taxista ou cauterizada.

Não concebem compostura e dignidade sem dinheiro. O herói em geral, menosprezado por homens que decidiram venerar a matéria e depreciar a memória da história, mas um cidadão sem história, este não tem pátria. Tal prova que se pode viver de cabeça levantada, e camisa lavada, sem se ser um serial killer profissional. Não admitem quem saiba, a nova geração, acha que sabe tudo. Para quê heróis? Se estes são do passado? — diz a nova geração, — o passado para os quais está há muito morto, e sepultado no túmulo da história. Na sua imensa petulância os ignorantes jamais reconhecem que não sabem. Pois se até agora denigrem patriotas, é claro que estes são seus lacaios, impostos pela história, ou forçados pelo tempo.

Esta nova geração tem um fardo pesado às costas à ser carregado para diante. Independentemente dos bens materiais que hoje possuem — uma ideologia os sabe unir: utilitarismo, cretinismo, consumismo, cinismo e materialismo […]. Veneram o deus mentira, e puxam da pistola quando ouvem falar de cultura ou ciência. Terão acaso cultura ou ciência os mais bem-sucedidos materialmente na sociedade moderna? — Dinheiro e poder, isso sim.

Arriscamo – nos à perder a sensibilidade pelos outros, a caridade e o amor foram trocados pelo dinheiro, não há dúvida que o namoro hoje signifique interesses materiais, brandos costumes, hostilidade, convivência ideológica foram sepultados no abismo.

Somos todos culpados:

Acobardamo – nos de dar uma reprimenda exemplar as cenas diárias de dureza que assistimos na internet ou mesmo no mundo hodierno, no tax, no autocarro, na escola, na igreja, na paragem de tax ou de autocarro, nos lugares de laser, em casa, no trabalho, na rua, no mercado, na praça, no bairro, na cidade, etc, etc, etc… a má educação, falta de solidariedade, que presenciamos no quotidianos que todos mergulhamos não é reprimida por ninguém, ainda temos o saldo do aplauso de atribuir aos seus actores de estarem na moda ou serem modernos, e os educados atrasados e ultrapassados.

Não enfrentamos os “novos pais” quando, à nossa frente, mimam e se deleitam com os seus adoráveis miúdos, mal-educados, que insultam, empurram, cospem, agridem, disparatam ao não mais poder ser os adultos, batem nos próprios pais, até ferem.

Damos sempre razão ao novo conceito de família — presas de idílica concepção de família de contos de fadas, e, até os guindamos à algo como co – gestores das escolas e avaliadores dos professores; novos pais que acham que se as crianças não se tornarem guerrilheiros urbanos sociais, sem escrúpulo, ainda acabam nessa sarjeta social, que é o de: ir dar aulas […].

Os novos pais, não educam, não têm vocação, têm ou paciência ou tolerância exacerbada, põem os filhos às redes sociais às 24 horas do dia, dão I Pad min, I phon multi – desenvolvido ou Note Book especial, dão tudo até de dinheiro às sobras, os novos pais, desconhecem do papel da moral na sociedade humana. Cobrem crianças e jovens de presentes, enchem – lhes os bolsos de dinheiro, e depositam – nos na escola para não os aturarem [os meninos permanecem solitários nas aulas matinais, vão ao ATL e somente regressam quando o dia perde o seu rosto, e, a noite mostra – se alegra –se conveniente]. Querem que saiam educados e doutores, sem que se lhes possa exigir nada, como jamais lhes exigiram. De há já muito, depois que a era da democracia deu o seu primeiro passo, as nossas escolas entraram no plano inclinado do facilitismo, rumo ao reino da balbúrdia. Muitos professores, por medo, por vergonha, calam – se, os mal – educados tomaram as escolas e superaram a honra dos professores com a sua hiper - petulância que há muito lhes é incutida em casa dos pais. Se os professores abrissem o livro, e contassem as verdade [como fazem os psiquiatras] — será que seria um inferno que iriam pagar para as suas vidas como preço da ousadia?

Os professores, não são imunes ao vírus dos novos cidadãos. E lá vão aceitando os enxovalhos, porque precisam do ordenado, aceitam viver num mundo do desprazer onde o aluno é mais digno que eles, é mais valioso que eles, desrespeitam os professores, ainda assim, têm a exaltação e a honra às sobras, palmas para a nova geração, exaltada pelos homens modernos e depreciada pela história, por menosprezarem os mestres do saber, enterrando a história dos heróis, para somente venerarem os prazeres da matéria e da carne, que passam, destroem, apanham ferrugem, queimam, ou acabam, “a nova geração está num eclipse total de valores morais.”

Os professores, sabem que os colegas e a sociedade apontarão sempre o dedo acusador a sua direcção, não ficam os directores só, verdadeiros advogados do diabo, que protegem a indisciplina como se perpetua o mal na terra, com medo de lhes tirarem os lugares pelos pais dos estudantes, ficam os professores na melancolia do fado da mudança dos tempos e das vontades que perdeu o mérito de mudar o curso natural das coisas. O pior inimigo de um professor é o seu caro colega, — diz – se em Paris [França].

Com ignorantes petulantes, que negam serem educados ou formados, iremos naturalmente ter o que merecemos em Angola. Incompetência gritante nas profissões, enfermeiros violentos, arrogantes, mal – educados, incompetentes e agressivos, doutores arrogantes e negligentes totais, engenheiros incompetentes ou altamente incapazes de agir, perdidos na honra de doutores, cujo a mente há muito que se fez num palácio degradado pela desgraça da incompetência e pela habilidade da ignorância total.

Trânsito caótico, onde quando haja um acidente de viação, é o tumulto, a surra, a chapada e o soco as incógnitas que pagam as despesas do acidente. Relações humanas de cortar a faca, a intriga tornou – se mestre da verdade, a criminalidade que cresce há uma velocidade furiosa, são sinais marcantes de uma geração perdida na crise de valores.

A seguir será parafraseando Hobbes, a guerra de todos contra todos, em que — o homem é o lobo do homem. Não se sabe pôr um travão à falta de educação […].

O filhos perderam o medo dos pais, já não mais os respeitam, aliás, em casa quem manda são eles, os pais recebem berros de seus filhos de toda a dimensão. Pedir desculpa passou a ser um mistério, ninguém respeita os mais velhos, crianças completamente mal – educadas. As faculdades criaram relações de atractividade com os seus compromissos de má – fé. Falsos artistas de todo tipo defraudam o público incauto, os jornais estão fartos de notícias vãs que não moralizam a sociedade, a televisão se tornou num aparelho do laser e de muitos actos lascivos e anti – morais, a Internet é o espectáculo da moldura animal do novo homem. A mercadoria comprada para ser entregue à posteriori, nunca chega. Emprestar tornou – se em oferta, apresentam desculpas para não se devolverem coisas emprestadas. As assinaturas nos bancos, são forjadas, a chantagem e destruição de imagem alheia impera a sociedade angolana. Os exageros da publicidade roçam a pura mentira. As insolvências sociais e o défice social aumentam aos milhares. As coisas nas empresas fazem – se aos gritos ao à exaltação exagerada sem escrúpulo nem respeito à pessoa do trabalhador. Os chamados produtos de qualidade foram substituídos por aquilo que o mundo vulgar o apela de ser “Mayuya”. Com falsos pretextos de doença, os trabalhadores chegam tardem ao trabalho ou então nem sequer aparecem, os mecânicos dos automóveis brincam com a ignorância como se fosse um verdadeiro brinquedo, ao invés de reparar os automóveis aumentam milhares de problemas sem soluções. Mães abandonam os maridos em troca de jovens amantes. Não se pode namorar sem dinheiro, o namoro significa necessariamente dinheiro em mão. Profissionais sobrevalorizam o dinheiro, e recomendam serviços que não são necessário somente para elevar as facturas da clientela. A infidelidade conjugal em Angola fez – se completamente vulgar, — e a família aos poucos vai – se desfazendo.

Perante esse diagnóstico, — que tem obviamente o preço de uma mundividência, tudo o que se disser sobre a crise de valores em Angola, será certamente suave.

Mais do que a crise económica que muito ecoa a atmosfera angolana, vivemos uma verdadeira crise social. E mais funda que uma crise social está uma crise que corrói as estranhas da angolanidade: que é uma crise espiritual. Nunca a expressão pobre de espírito teve tanta pertinência, certamente, não no sentido sacro, religioso, ou divino. Há profunda pobreza espiritual no nosso tempo em Angola. E não é falta de uma frequência religiosa, que o fenómeno sectário tem vindo a incutir essa pobreza de espírito, pois que nos muito religiosos, também se assiste a elevação desta desgraça. É mesmo um vazio interior e de transcendência que se vive em Angola.

Esse vazio tem manifestações práticas de laxismo e indiferentismo sociais. Além de oportunismos e falta de valores. Um dos efeitos dessa crise é, antes de mais, macular a imagem dos desvalidos, que outrora tinha uma aura de dignidade. O envilecimento ataca, vai até aos extremos da escala social: uns, julgando que tudo lhes é permitido, por tudo terem; outros, pensando que nada mais podem temer, por não terem absolutamente nada, […]. Com honrosas excepções como é evidente.

Parece que a falta de dignidade, de boa – fé, de formação moral, de sentido de responsabilidade bem entendido, como qualidades que se deviam incorporar no sentido de cada cidadão angolano, e o acompanhar com naturalidade quotidiana para a construção de uma personalidade e identidade plasmadas em virtude (pois a virtude é um habitus), parece que isso se está a degradar progressivamente por toda parte em Angola. A homossexualidade uma doença aberrante, hoje merece aplausos por muitos, algo que conta – se aos dedos, mereceria ser seriamente repreendida pela igreja, e pelos homens do bem, pois o desnatural nunca será natural, — tal é imoral, é contra o bem, é heresia, é aberração dos valores humanos.

Muitos exemplos e sinais de perigo, Angola vive hoje. Por aqui, e por ali, se assiste a lei do tudo ou nada, os contratos são calcados aos pés, os prazos não se cumprem, as pessoas querem subir na vida material, mas não querem ser antes de ter, — querem apenas receber dinheiro, receber sempre, não importa a quantidade à receber, apenas receber. Quando muito se namora, começa os “coros” a substituírem o amor do casal. A mentira passa a substituir a verdade no círculo conjugal, e já se mente pelo vício de “cornear” ou enganar o próximo, sem sequer querer tirar proveito disso, está – se fazer um plano inclinado. E não é exagero o que aqui afirmamos, — é a verdade que corre como água na barragem do Lauca. O dedo na ferida não é conveniente, não é educado: mas é o único que aponta e pode salvar a nação perdida numa crise de valores.

Concomitantemente, há uma espécie de paranóia do já e agora: puro materialismo. E a ironia, que não é mentira, mas um tipo superior de formulação da verdade, está em perigo: não só pelo facto de muitos angolanos já não a entenderem, pura e simplesmente, como ainda na medida em que há quem queira perseguir os que a usam. O filme Ridicule deveria ser obrigatória para todas as famílias angolanas: pois que a família é o epicentro de qualquer sociedade, quando essa se destrói, a sociedade acaba.

O que vivemos hoje em Angola, é o topo do icebergue da crise de valores, em que se menospreza o passado e se exalta o dinheiro como se este fosse o único meio da vida, a única coisa mais valiosa para que o homem exista, mas antes o homem, depois a natureza, os patriotas são convertidos à nada, ou perderam a sua expressão de valor nessa sociedade, precisamos reaver a missão da família que é a de educar e formar um homem novo, mas não um homem material.

Bem – haja! 

João H.R. Hungulo: O Médico E Jurista — Pesquisador De Ciências Humanas, Ciências Políticas, Ciências Sociais, Ciências Jurídicas E Medicina.

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