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Quinta, 03 Janeiro 2019 18:45

Mário Pinto de Andrade: não há arma alguma neste mundo capaz de calar para sempre a voz desse herói

O nacionalismo angolano partiu de longe, através de homens sacrificado, presos num tempo do luto do estatuto e prestígio social, amarrados no desprezo colonial, não resistiram na vida plasmada no conformismo deformante de então.

Por João Henrique Hungulo

Desde logo, começaram à desenvolver actividades clandestinas visadas em acções de protestos e na defesa da identidade puramente angolana, plasmada numa consciência nacional que exaltasse a cultura do povo dos subúrbios colonial antes abandonado pelo Estado Novo de Portugal que os dava cartão vermelho em nome da segregação social e racial. No último quartel o século XIX, nomes como Joaquim Dias Cordeiro da Mata (1857-1894), José de Fontes Pereira (1823-1891), António José do Nascimento (1838-1902). No seio desses homens havia aqueles que dispunham de atitudes fortes e virulentas, completamente radicais e nacionalistas absolutos vozes como de José de Fontes Pereira, Arantes Braga, João Inácio de Pinho e Mamede Sant'Ana e Palma, formaram uma corrente de nacionalistas marcados por uma consciência crítica adversária da situação vivida de então. Advogavam eles a transformação do status quo colonial, uma vez que a prosperidade das colónias só principia quando instituída a nação independente.

  1. A lenda e a história do nacionalismo angolano

Lançaram – se no mar das raízes africanas, dando desde então um olhar as condições do angolano d”aquela época, este acto de coragem, mais tarde, desenvolveu sentido de coragem e inspiração na alma da consciência de nacionalistas como Mário Pinto de Andrade, Gentil Viana e outros tantos que se debruçaram na fundação de movimentos que fizeram face às atrocidades impostas pelas hostes coloniais. Tendo desde logo o nacionalismo angolano à ser desenvolvido desde os anos 40, 50, 60 e anos à posteriori.

Considerando a construção do MPLA como o processo que deu azo ao longo percurso de busca da independência em Angola, e, cuja génese se encontra na década de 1960, ainda que as origens mais remotas possam ser localizadas em uma produção intelectual de 1956 com o PLUA, não há dúvida alguma de que os intelectuais que deram origem ao MPLA são os primeiros e maiores nacionalistas da história angolana, construíram e alimentaram um sentimento nacional angolano, que serviu de base para a fundação do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola). Esses intelectuais, António Jacinto, Agostinho Neto, Mário Pinto de Andrade, Viriato da Cruz, Ilídio Machado, José Eduardo Macedo dos Santos e outros tantos, foram a chave para a base da criação do MPLA, desde a sua estrutura basilar até a total afirmação, não resta dúvidas, que sem estes a criação do MPLA estariam longe de ser efectiva, porque não é no vazio que se fazem nascer partidos fortes e poderosos como o MPLA, é necessário domínio pensante e intelectual para que tal fenómeno seja um facto, o MPLA foi o partido que mais intelectuais teve e tem aos dias actuais. Apesar das figuras supra – citadas marcarem a criação e fundação do MPLA, José Eduardo dos Santos pertence a geração que deu o último sopro de vida ao MPLA, recebendo o Movimento num momento também crucial carente de cuidados e sacrifícios exaltados.

Estes intelectuais, com suas faculdades mentais já iluminadas conseguiram edificar os alicerces do MPLA e, lutaram e procuraram sempre que Angola se situasse ao pé da independência, com a força do saber, inteligência e coragem, sem os sacrifícios desses nacionalistas, a independência que nos toma conta jamais seria nossa. Esses nacionalistas contornaram as catástrofes impostas pelo colonialismo e criaram um amplo movimento de libertação nacional. Nesta esfera, as essências ideológicas, isolaram a ideia segundo a qual o PCA, PLUA e o MINA garantiram a independência de Angola, colocando unida uma Angola do Norte ao Sul e do Mar ao Leste, apesar dessas facetas políticas responderem aos desejos de independência de Angola, eram pequenas e incapazes de tornarem uma Angola livre de um leão perigoso como o império de Salazar, era necessário unir forças de todas as vertentes sociais de Angola, desde então, o surgimento do MPLA era uma necessidade com prioridade eminente.

  1. Mário Pinto De Andrade: uma viagem marcada pela luta em busca da liberdade de Angola e dos angolanos

Filho de José Cristino Pinto de Andrade e de Ana Rodrigues Coelho, veio ao mundo ao 21 de Agosto de 1928, e, abandonou o mesmo mundo no mesmo mês em que chegou à nascer, 4 (quatro) dias depois de ter vindo ao mundo ao 26 de Agosto de 1990 em Londres. Marcou a sua vida de viagens em busca da liberdade do povo Angola, pela causa angolana lutou e morreu, parafraseando Rodrigues:

A viagem é um fecundo motivo literário que permite, entre outras coisas, explorar a identidade de um indivíduo e de uma comunidade, estabelecer o contacto entre o Eu e o Outro, confrontar diversas visões do mundo e expandir o horizonte de conhecimento do viajante.”

  1. O único angolano cujo sacrifício heroico em prol da independência de África chegou aos demais países de África portuguesa – mais do que um verdadeiro patriota

O homem Pai da negritude luso – africana, foi ele que introduziu a teoria panafricana no CEA (Centro de Estudos Africanos), um dos fundadores do Centro de Estudos Africanos, no qual incutiu a árdua tarefa de preparação política dos africanos não – brancos, dispondo – os às lutas contra o colonialismo Português, na companhia de seus coetâneos, através da constituição de uma organização conjuntural chamada MAC (Movimento Anticolonial), seria um dos ideólogos da FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência das Colónias Portuguesas). Instalou neste centro a teoria do panafricanismo inspirando seus confrades, sem perder pistas, Pinto de Andrade, era um nacionalista angolano incomum, que transpôs fronteiras, chegando mesmo à ajudar a independência da Guiné e de Cabo – Verde.

  1. Um guerreiro de memórias exaltadas

Mário Pinto de Andrade, cujo antropónimo militar foi "Buanga Fele", foi um militar de memórias exaltadas, cujas marcas ficam lembradas como o cidadão nacionalista do Golungo Alto. O filho querido angolano de Cuanza Norte. Não parou por aqui, daqui veio à embarcar para Lisboa, quando a sua idade já carregava 20 anos de pesos e o resto dos seus dias, cujo fim, visava estudar Filosofia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Em 1948, Lisboa devia ser infeliz. O regime fascista sufocava, os ecos de um pós-guerra atracavam, predizendo, ainda num sussurro surdo, o início de uma era que mudaria a interdependência de poderes até então erguidos. A maquilhagem imperial principiava a borratar na cara da velha cidade-madrasta.

Nas ruas da capital da metrópole, os estudantes das colónias, entre os quais um recém-chegado, jovem, doutíssimo, eloquente, Mário Pinto de Andrade atravessava as ruas de Lisboa numa marcha fascinante que denotava homem de seriedade rara e de casta sacrificada.

Na Casa dos Estudantes do Império, Mário, “O PENSADOR NEGRO” era uma fera do saber, que a todos até brancos, dava – lhes inveja pelo som que de Mário, soltava, lhes parecia um ser extra-terreno a habitar o espaço de Lisboa. Teve desde então, o encontro com confrades como Amílcar Cabral, que lhe marcou a trajectória toda, assim como Agostinho Neto que conheceu ao lume de palhas acesas na noite de luar crispado sobre o rosto de Luanda.

  1. Mário: o intelectual angolano que vencia em Lisboa todos os debates até brancos colonialistas se ajoelhavam e fugiam

Os debates e tertúlias corriam à uma velocidade furiosa. Pinto de Andrade, era capaz de tornar – se mudo e ávido na audição para ouvir uma pessoa durante uma hora de fala ininterrupta, sem que fosse dizer uma vírgula apenas ao longo do diálogo, sem causar qualquer tropeço na oratória alheia. Tinha uma memória de esponja, que filtrava e captava até as palavras mais mesquinhas e tortuosas que fossem ser cuspidas para o ar pelos confrades, quando tomava a palavra, serenamente, dava pausa ao falar, com a razão no lugar acertado, não se emocionava, comentava com educação e civilização, ponto à ponto, as questões exaltadas pelo emissor, num tom de voz bastante calmo e humilde, os vários argumentos, sem nunca se deixar perder. Ao contrário de outros políticos de movimentos nacionalistas que pareciam usar uma dupla linguagem — a linguagem política e a linguagem pessoal […]., — quando se falasse com Pinto Coelho de Andrade, a aura intelectual que deste nacionalista suscitava, permitia – se afirmar que se estava perante um homem de integridade moral cívica de facto, tal como recorda Carlos Moore, etnólogo cubano – jamaicano, que conheceu o nacionalista Pinto de Andrade nos anos 80:

“Sempre que não estava de acordo com alguma ideia, sorria, mas não de forma irónica, ele era muito aberto e fraterno, com ele a conversa era possível”.

  1. Pinto de Andrade foi o político angolano mais respeitado no panorama internacional

Pinto de Andrade é um dos políticos angolanos com maior valor no panorama internacional até hoje, sua voz ficou cintilada no firmamento africano até então, marcando povos e nações pela verdade por ele espalhada. Pertence à primeira geração de nacionalistas angolanos e, como tal, o seu nome ombreia com o de outros nacionalistas que, de uma forma ou de outra, ganharam notoriedade internacional. Para além de político e dinamizador de massas, prerrogativas expectáveis em tais líderes políticos, Pinto de Andrade posicionou-se ainda, e nessa qualidade tem sido lembrado, como um dos grandes intelectuais africano que angola já possuiu um dia.

Recorda a grandeza de Mário Pinto de Andrade o escritor João Sá da Costa:

“Foi em Lisboa que o conheci, no final da década de 40, estudante brilhante da mesma escola que a minha, que tentava fazer jornalismo para se poder manter em pé, cá em Lisboa, procurava transmitir os testemunhos culturais dos africanos que nas colónias viviam, a dos disseminados pela Europa e América. Rematou o escritor João Sá da Costa”, condiscípulo do ícone do nacionalismo luso – africano, Mário Pinto de Andrade, cujo relevo do nacionalismo em seu nome, neste longo processo de defender os interesses de África Luso - negra, apenas a sombra de Amílcar Cabral cruzou – lhe o caminho no espaço dos grandes de África – Lusa, também chamada portuguesa.

  1. Pinto de Andrade: perseguido e maltratado pela pide por defender os interesses angolanos

Mário Pinto de Andrade via a sucumbir a sua liberdade em virtude das perseguições engendradas pela PIDE, Andrade perpetrou o plano da fuga à clandestinidade, tendo desde 1954 exilado – se em Paris onde se relaciona com o restante círculo africano de nacionalistas e do movimento negritude, tomado contacto com Senghor ou Mandela. O nacionalista não ficou só, a história não lhe poupou esforço, nisto veio – lhe o acaso à impor – lhe à servir em 1955 como redactor da revista Présence Africaine, tornando – se também o responsável pela organização do Iº Congresso de Escritores e Artistas Negros.

  1. Mário Pinto de Andrade é considerado o pai da sociologia negra

É considerado como o primeiro africano a formar – se em sociologia, e o pai da sociologia negra, Pinto de Andrade, acabará por se licenciar em sociologia na Sorbonne, não tendo terminado Filosofia Clássica em Lisboa por opressão da PIDE, tornou – se, desde logo, num evidente sociólogo, Andrade se tornou numa voz mais rara da sociologia luso – africana nos seus últimos anos de vida. Após anos de viagens, de contacto com muitos revolucionários e com leituras, muitas delas de influência marxista e pan-africanista, Pinto de Andrade faz parte activa do processo de criação do MPLA como um dos fundadores.

  1. Foi o primeiro presidente do MPLA e também co – fundador do partido MPLA

Desde a fase embrionária do MPLA, Andrade assumia a presidência do Partido (tendo permanecido como Presidente do MPLA durante dois anos), enquanto isso, Neto era nomeado Presidente honorário do Partido, todavia. Neste mesmo ano, ambos o Presidente do Partido [Pinto de Andrade] e seu primeiro Secretário - Geral Viriato da Cruz [Alfred Sylla ou Kibungo] transferiram a Direcção Geral do MPLA de Luanda à Conakry. Em 1961, após a independência do Congo Belga, Mário e Viriato transferem a direcção do MPLA para Leopoldville.

  1. Pinto de Andrade reconheceu Drº Agostinho Neto como o mais capaz a conduzir os destinos do MPLA

Em 1962, voluntariamente Pinto de Andrade foi ao encontro do Drº Agostinho Neto em Rabat (Marrocos), após sua fuga da prisão, depositou – lhe às mãos a presidência do MPLA, todavia, Drº Agostinho Neto, foi assim conduzido à eleição numa Conferência Nacional desse mesmo ano, por entender que o mesmo era o candidato natural: «Neto era, internamente, o homem capaz de reunir as organizações que deviam exprimir-se em nome do MPLA».

  1. Mário Pinto De Andrade: o homem morreu, mas seu legado ficou para sempre

Não obstante, em 1973, foi indicado pelo Comité de Coordenação Político-Militar do MPLA, a desempenhar o papel de organizador dos textos políticos escritos por Amílcar Cabral. Pinto de Andrade, teria - se tornado um dos intelectuais mais emblemáticos da esfera africana portuguesa, até aos nossos dias. Divulgador da cultura negra, ideólogo do panafricanismo, Mário Pinto de Andrade foi também um incansável lutador pela independência do seu povo, pelos direitos humanos e pelas causas africana. Forçado ao exílio, em 1974, por ruptura do equilíbrio político no MPLA, partido que ele e Viriato fundaram, na companhia dos restantes, desde então, Pinto de Andrade inicia um périplo pelo mundo que só termina com a sua morte 15 anos mais tarde, homem imortal, que mesmo que morreu – lhe o corpo, as suas marcas jamais morrerão, mesmo que se calem as vozes humanas, a história e o tempo jamais se calarão. O homem morreu, mas seu legado ficou para sempre!

O grupo do MAC (Movimento Anticolonial) esteve presente em Túnis onde assistiu a segunda conferência dos Povos Africanos que tomou espaço em 1960 d”aquele distante tempo colonial, desde então como era de esperar, após a realização da Conferência, a cúpula do MAC chamou – se ao fim de uma reunião de emergência, onde juntaram – se figuras na pessoa de Lúcio Lara, Pinto de Andrade, Viriato da Cruz e Hugo Azancot de Menezes, a meta para tal encontro visava discutir os programas e estatutos do MPLA que já tinham sido criados por Viriato da Cruz.

Não obstante, desde então a cúpula do MPLA desenvolveu acções que visavam à busca de apoio internacional, logo, em Março de 1960, Pinto de Andrade e seus correlegionários lançaram – se nas questões de procura de ajuda para o MPLA, começando pela criação de um comité de amigos para o apoio internacional de Angola. N”aquele mesmo ano, o MPLA apelou para o império colonial Português, por meio de cartas (cujas datas eram de 13 e 30 de Junho), buscando opções por instituir conversações.

Estas cartas são consideradas os primeiros documentos oficiais que Mário de Andrade assinou na qualidade de presidente do MPLA. A tentativa de conversação com o Estado Novo português foi recusada e, nessa altura, João César Correia, membro da UPA, contactou com o cónego Manuel das Neves.

Nesta época os esforços do MPLA estavam voltados à expansão de medidas diplomáticas desde 1960, visando através destas reunião de condições internacionais para fazer face ao colonialismo Português, foi também prioridade do MPLA procurar com todos os recursos diplomáticos soluções para a libertação dos presos políticos. Lúcio Lara teria enviado uma carta na altura à Viriato da Cruz expressando descontentamento pela isenção de representação diplomática do MPLA naquele lugar, desde então, a cúpula do MPLA desenvolveu actividades diplomáticas com os dirigentes do Congo permitindo desde logo a edificação de estruturas provisórias em nome do Departamento de Relações Exteriores dirigido por Mário Pinto de Andrade até 1963 de que também, Américo Boa Vida, Hugo de Meneses e Luís de Almeida eram partes constituintes. O primeiro comité central do MPLA foi formado em Conacri em 9 de Julho de 1960. Neste comité Agostinho Neto assumia a lista de vice – presidente do MPLA e Presidente de honra, juntamente com outros angolanos que se encontravam presos por pertencerem ao MIA, MLNA e ao MLA.

Na esfera política, João Cabral, membro da Convenção Política de Goa, preparou uma conferência de imprensa que presidiu na Câmara dos Comuns, em Londres, em Dezembro de 1960, realizada em nome do MPLA, do Partido Africano de Independência (PAI), de duas outras organizações nacionalistas da Guiné e da Convenção Política de Goa, órgão coordenador de várias organizações nacionalistas goesas.

Foi este membro da Convenção Política de Goa que, com o comunicado de 10 de Fevereiro de 1961, reconheceu, em Londres, que a situação em Angola era grave. No dia anterior, na capital britânica, emitiu outro comunicado com o título “Angola. Massacre racial Lúcio Lara, de Conacri, na ausência de Viriato da Cruz, escreveu uma carta, em Junho de 1961, para a União Democrática Nacional de Moçambique (UDENAMO), relativamente à semana de solidariedade para com Angola, organizada pelo secretariado afro-asiático, referindo os esforços políticos daquele movimento no combate “para liquidação do colonialismo português.

Honra e glória aos nossos heróis, porque sem os quais, jamais nos seria possível chegarmos até a estrada da liberdade. Os homens partem, mas seu legado se torna imortal!

«João Hungulo: Médico & Jurista, Livre Pesquisador de Ciências, Poeta e Escritor»

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