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Sexta, 31 Agosto 2018 21:36

A transição política no MPLA e o desafio da modernização

Setembro é já amanhã e as atenções estão viradas para o dia 8.

O MPLA vai a congresso - é o seu sexto a realizar extraordinariamente - para, à semelhança do que já aconteceu a nível da condução dos destinos do Estado, com a eleição de João Lourenço como Presidente da República, consagrar a transição política na liderança daquela que é a maior força política angolana e que, desde a independência, a 11 de Novembro de 1975, tem estado no comando do país.

Por Filomeno Manaças

José Eduardo dos Santos sucedeu a Agostinho Neto na presidência do MPLA e da República em Setembro de 1979, em virtude do falecimento deste por motivo de doença.

Ao fim de 38 anos à frente do partido dos “camaradas”, José Eduardo dos Santos passa o testemunho a João Lourenço, que, ao cargo de Presidente da República, junta o de presidente do MPLA.

Momento de fazer história, este, para o partido e para o país, pois a transição ocorre de forma pacífica, apesar das diferenças de opinião e dos debates internos, ultimamente marcados por uma particular intensidade, em que saíram reforçadas a maturidade e a democracia no seio da formação política.

Uma transição que acontece de acordo com a vontade expressa da maioria, não só dos dirigentes como da militância, e em consonância com o desejo do líder cessante de dizer adeus à vida política activa, encerrando assim, em definitivo, um ciclo, e dando lugar ao nascimento de outro.

Razão pois, para, nestes novos tempos, se olhar para esta sucessão e desenvolvimentos ulteriores com particular interesse.

Esta mudança de timoneiro no MPLA vai acontecer a poucos dias de se completar um ano da investidura de João Lourenço nas funções de Presidente da República, a 26 de Setembro de 2017, na sequência das eleições gerais de 23 de Agosto do mesmo ano.

De lá para cá o novo inquilino do Palácio Presidencial da Cidade Alta cuidou de dar um novo formato à gestão da coisa pública. Não se tratou de uma mera mudança de estilo, mas, sim, de imprimir uma reforma profunda em toda a linha - quer em matéria de política interna como externa -, que tem subjacente um novo pensamento político em relação à maneira de revelar o Estado.

As medidas tomadas até agora no plano político, económico e legislativo não deixaram margens para dúvidas quanto à isso.  As acções no âmbito do combate à corrupção e à impunidade, o novo impulso dado à Justiça no sentido de desempenhar um papel de relevo no resgate do sentimento de confiança nas instituições do Estado, a reforma da administração pública por forma a simplificar procedimentos e ter como foco central da sua actividade servir o cidadão, entre outros passos que deverão ser concretizados ao longo deste mandato, criaram a envolvente, que era indispensável transmitir à sociedade, do início de uma nova era.

E é sob esse manto que se vai realizar o VI congresso extraordinário do MPLA e a transição política na sua liderança. Está, assim, portanto, aberto também um ciclo de expectativas em relação às transformações que o MPLA pode vir a sofrer, tendo em conta os desafios imediatos que tem pela frente, e que não são poucos, entre os quais pontifica a participação nas primeiras eleições autárquicas, a realizarem-se no país em 2020. De imediato, o partido precisa de “acertar o passo e estar no compasso” do líder.

Com efeito, a mudança de liderança vai marcar o início de um processo de renovação do partido, tal como está a acontecer no Estado em geral. O MPLA precisa de se renovar internamente, de se modernizar, se quiser reverter as perdas eleitorais que tem tido desde 2008 e continuar a ser a força dominante da sociedade.

A modernização da máquina partidária é assunto incontornável, tendo em conta que ela tornou-se pesada, a ponto de assumir-se, em determinadas circunstâncias, mais como força de bloqueio do que mola impulsionadora das transformações, reclamadas a nível local e não só.

Essa modernização passa, como é óbvio, pelo exercício de mais democracia, mais diálogo com a oposição, a sociedade e as forças vivas, em especial os jovens, mulheres e empresários.

O MPLA que se exige para estes novos tempos deve ser um partido proactivo, que não deve esperar que sejam outros a descobrir as falhas e a propor soluções, que não deve jogar na defensiva, que não deve esperar que as coisas aconteçam, mas que deve fazer a história acontecer, deve fazer com que as mudanças aconteçam.

A urgência dessas mudanças é sentida no dia-a-dia. É claro que, sendo reconhecido que o MPLA tem uma máquina capaz de imprimir essa dinâmica de mudanças, não faz sentido que o Presidente João Lourenço esteja a caminhar a uma certa velocidade e a força política que o sustenta ser o empecilho à navegação a todo o vapor.A transição política na liderança do MPLA marca, pois, na plenitude, o início de uma nova era.

* Director Nacional de Publicidade. A sua opinião não engaja o Ministério da Comunicação Socialamado” por documentos do terreno em litígio  JA

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