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Domingo, 27 Mai 2018 14:11

O kutualismo e o Kulumbimbismo

Confesso que o meu regresso em 2003 em Kumba Ngundi foi um entrar em contacto com o mundo da política. Pois tive contacto com a política propriamente dita neste regresso ao Kumba Ngundi, através de quem eu considerado como o meu mestre na política. Ou a pessoa que alfabetizou-me sobre a política, pois na terra da Kianda onde vivi mais de uma década começando a contagem a partir de meses antes da realização do primeiro "campeonato" em Angola. Era um analfabeto político.

Por Manuel Tandu

Mas o regresso em Kumba Ngundi e o contacto como o meu mestre na política foi fundamental pois ele alfabetizou-me na política. Este meu mestre é o mbuta muntu Tandu, o meu progenitor, um político de gema, um político coerente. De lá, pra cá. Tenho observado, tenho interagido com muitas pessoas. Nessa observação e interacção, um trabalho que durou muitos anos... pude concluir que o estar em estado estático ou dinâmico da sociedade e das instituições tem a ver com duas correntes de pensamentos, nomeadamente: o Kulumbimbismo e o kutualismo.

1. O kutualismo

O termo kutualismo é uma fusão de kutuala e do sufixo ismo. O sufixo “ismo” vem do grego e indica uma ideologia, um sistema a ser seguido, algo consolidado como regra ou, que se acredita ser uma regra. Ex: positivismo, cristianismo, helenismo, jornalismo e etc. O "ismo", designa um conjunto de crenças ou doutrinas de um determinado grupo, ex: escolar, religioso, filosófico, teatral, político e musical.

Kutuala é um termo de origem kikongo, que traduzido para a língua portuguesa é "pra frente", ora pra frente implica um percurso que aponta pra o sentido progressivo. Pra frente implica também estar em movimento ou é a dinâmica.

O kutualismo é uma corrente de pensamento que defende a não estagnação da sociedade e das instituições. E entende que através da inovação, a criatividade, o inconformismo, o pragmatismo, o pensar diferente... a sociedade e as instituições caminham pra frente ou têm um percurso que as leva ao luvuatumuku. O kutualista é um seguidor do kutualismo.

2. O Kulumbimbismo

O termo Kulumbimbismo é uma fusão de kulumbimbi e do sufixo ismo. O kulumbimbi é uma estrutura "milenar". O kulumbimbi é a primeira igreja construída na África subsaariana, por missionários católicos que faziam parte da primeira expedição portuguesa liderada por Diogo Cão... Um dos monumentos históricos de Angola que se localiza em Mbanza Kongo (atenção, se dizer cidade de Mbanza Kongo, é uma tautologia, pois a palavra 'Mbanza' em português é cidade, logo o correcto é se dizer Mbanza Kongo que traduzido em português é cidade de Kongo). O kulumbimbi é uma mística estrutura física e é um dos monumentos do património mundial da humanidade.

O Kulumbimbismo é uma corrente de pensamento que defende a estagnação da sociedade e das instituições. Pois entende que de tal forma o místico kulumbimbi é estático ou não é dinâmico, também a sociedade e as instituições o devem ser. O kulumbimbista é um seguidor do Kulumbimbismo. Os kulumbimbistas negam que a sociedade e as instituições sejam dinâmicas, pois defendem a estagnação das mesmas. 

O kutualismo tal como o Kulumbimbismo são ideologias.

Se recuarmos até antes da chegada dos Europeus em África, notamos que existiam reinos muito bem organizados. Como o luvuatumuku (desenvolvimento) depende do contexto. Não seria errado afirmar que naquela altura, essa organização era um luvuatumuku. A inovação e a criatividade já era um facto naquela altura, havia inventores… naquela altura... quer dizer a África que os europeus encontraram não era uma África estática, era uma África kutualista, era uma África com um luvuatumuku em função daquele contexto. Já naquela altura existia o kutualismo...

O kutualismo gera o luvuatumuku, mas o Kulumbimbismo gera a estagnação.

A Universidade dá licença ao formando para que este diagnostique os problemas ou apresentem soluções. O universitário é um kutualista, e não um kulumbimbista. Pois o kutualista o seu foco não é a estagnação da sociedade e das instituições, mas é pra que a sociedade e as instituições sejam dinâmicas. Mas pra que elas sejam dinâmicas é essencial que a inovação, a criatividade, o pensar diferente, o pragmatismo, o fazer diferente, o inconformismo... seja um facto concreto.

Ora, o kulumbimbi por ser um monumento de grande importância e por ser um cartão postal de Angola, ela é estática, querendo dizer, ela continuara sendo o místico kulumbimbi em cada contexto, não necessita de ser adequada ao contexto. Mas a sociedade, as instituições são dinâmicas, e em cada momento urge o as adequar ao contexto, pois o não  as adequar retardara, e acaba por ser uma auto-exclusão.

O mais caricato é que até jovens com nível superior, reitero jovens com nível superior se tornaram em autênticos defensores do Kulumbimbismo, contrariando todo que aprenderam na academia! Os efeitos nefastos do Kulumbimbismo estão bem visíveis. Todo mundo a vê... mas depois se ouve por ai: kebe kutu zolanga ko... ". Como se pode falar: "kebe kutu zolanga ko... ". Quando qualquer observador atento sabe que os kulumbimbistas asfixiam a inovação, a criatividade, o pensar diferente, o pragmatismo, as soluções diferentes das suas, o fazer diferente, o inconformismo...

O problema está aqui em África, e não noutro lugar, está mesmo aqui nos nossos países em África. Por isso cabe a nós mudarmos a forma de agir, de pensar... ao combatermos a inovação, a criatividade, o pensar diferente, o pragmatismo, as soluções diferentes, o fazer diferente, o inconformismo... estamos a combater o tão desejado luvuatumuku, é um tiro que demos  nós nossos próprios pés.

O progresso tarda a chegar, porque nós a combatemos.

Quando a combatemos?

A combatemos quando combatemos a inovação, a criatividade, o pensar diferente, o pragmatismo, as soluções diferentes, o fazer diferente, o inconformismo... A sociedade não é estática, as instituições também não são estáticas, elas são dinâmicas, por isso urge o se adequar ao contexto.

A transição não é momentânea, mas sim continuo. Pois quando é momentânea a sociedade e as instituições se estagnam. O Kulumbimbismo está fazendo com que a sociedade e as instituições se estagnem. E isso é um impeditivo ao tão desejado luvuatumuku.

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