Sexta, 29 de Março de 2024
Follow Us

Segunda, 21 Mai 2018 12:59

Qualidade da assistência: quando é que havemos de tê – la presente no leito do hospital?

Não há bem algum, que sirva de apresentação exuberante que supere a saúde no mundo inteiro, que seja capaz de estrelar – se, a um ser superior à saúde, a saúde, é desde logo, sem sobra de dúvidas, o bem mais profundo e mais sumptuoso da vida humana, aliás, o único bem que paresse competir com este último: é a liberdade, porque um homem privado de liberdade, embora tenha saúde, ainda assim, é um ser doente e triste, a saúde, quando temos – la, em estado roto, a nossa vida na terra se torna numa viagem arriscada e perigosa para ser executada.

Os males que destroçavam, o bem-estar dos hospitais, têm uma altura titânica similar ao ribombar de um clarim, são males apadrinhados à uma série de circunstâncias que merecem medidas de variadíssimas naturezas, onde os recursos financeiros são o pilar central para o dispuser de tal cenário. Pela ironia do destino, mesmo antes do desabrochar da crise, face ao registo do progresso económico cimeiro que tomava conta do País, os hospitais já se viam às reles no contexto da qualidade dos serviços prestados, num paradoxo abismal, onde se registava o crescimento económico do País, porém, a saúde estava sempre num horizonte de crescimento imóvel no contexto de qualidade assistencial.

Embora Angola parecia ser o País que mais crescia na última década ao nível de África Austral, a saúde andava descalça e de rastos, até então, tem sido vista com uma qualidade assistencial nua e rota, deixada por um passado moribundo que robou – a primazia de ser feliz dentre as nações que banhão este África, em virtude deste fenómeno, o seu perfil vem a cada dia degradando mais no ângulo global, no que concerne a satisfaçãos dos interesses do paciente, no âmbito da salvaguarda de uma saúde, que vise não apenas no implementar de serviços em quantidade, mas também, na oferta de serviços de optima qualidade.

Tornando assim, o termo qualidade, num termo inóspito, incapaz de agir de facto, quando é chamado para tal efeito.  

Não nos assustemos quando nos depararmos com maternidades que ao invés de se tornarem recanto do bem-estar e satisfação do bem mais precioso da vida da parturiente, se tornaram em palco do desfile de profissionais emproados e gorados, que ao invés de darem saúde ao próximo, desumanizam de forma patente o termo, sem dar dignidade alguma a parturiente que se assiste neste lugar.

Não nos assustemos das violações dos direitos dos doentes primados no código de ética médica ao nível hospitalar, não nos assustemos de sermos assistidos por profissionais furibundos, cuja acção deles realizada no plano assistencial, visa mais fazer mal ao próximo do que salvar, servindo – se do uso de um verbo altaneiro e ardiloso que vilipendie e ab-rogue ao não mais poder ser o projecto humanização clamado pelas vozes hospitalares. Não nos assustemos por sermos submissos à uma prestação de serviço hospitalar de natureza ineficiente e completamente ronceira, que não dispõe e nem sequer dá soluções há tempo.

Não nos assustemos com a tardança da assistência hospitalar completamente extraordinária, similar a esperança que se dá a vinda do Messias, cujo teor, expressa – se num horizonte segundo o qual, a esperança nunca morre, mesmo sendo a última a morrer.  

A definição de saúde possui implicações legais, sociais e econômicas dos estados de saúde e doença; sem dúvida, a definição mais difundida é a encontrada no preâmbulo da Constituição da «Organização Mundial da Saúde»: saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.

Assim sendo, essa definição elucida um fenómeno cujo alcance está muito longe de ser efectivo, todavia, se nos revermos nesta definição, poucos entre nós angolanos serão capazes de terem saúde em plenitude.

A qualidade da assistência em saúde foi sequestrada por uma série de acasos, constituindo – se numa canoa à deriva, porque a qualidade da assistência hospitalar está ali presa numa esquina sem saída, desde que esse País se afirmava ser o que mais crescia no plano de África Austral até aos dias em que conheceu a visita da crise económico – financeira. Antes da chegada da crise, o País crescia em todas as esferas, construiam – se muitas escolas, hospitais, novas estradas, novos projectos habitacionais, novos aeroportos, Angola passava a ganhar de forma imparável e progressivamente novos contornos na sua geografia de fulgor singular que torna estupefacto o olhar da multidão, no âmbito urbano, porém, a qualidade da assistência hospitalar, continuava ali, completamente parada, intacta num solo que não lhe permitia andar, vinham todos os projectos hospitalares, humanização, biossegurança, etc… etc… porém, o termo qualidade assistencial era quase vago, ou inexpressivo pela variedade de projectos implementados, ou seja, a necessidade dos serviços hospitalares nunca observava a vontade de implementar a qualidade na assistência que se tem de transmitir ao ente enfermo.

Não será fácial ao Novo Executivo salvar um sistema completamente conturbado de enigmas, com todos os problemas que tem, problemas cuja origem é necessariamente antiga e caótica. Nos parece até que, a todas as promessas feitas no plano governamental, a saúde é a única promessa cuja acção morre sempre solteira no seu horizonte prático, ou seja, constroem – se hospitais de vária ordem, trazem – se bons equipamentos hospitalares, mas nunca nos lembramos de que as paredes, embora, lindas e atraentes jamais substituirão a assistência prestada nesse lugar, de então, a assistência ao paciente, constitui uma marca perdida no tempo, que nunca vê a qualidade a devolver – la a dignidade do termo, chegamos a nos questinar sempre, afinal, apesar de todos os avanços que o País já deu, «quando é que havemos de ter qualidade assistencial implicada no leito do hospital?»

O que nos parece é que apesar de todas as circunstâncias, o sector da saúde é vago nos termos da qualidade, porque a maioria da classe média ou mesmo alta, quando apavorada por problemas de saúde de variada natureza é no extrangeiro onde encontra o lugar de preferência para serem acudidos, invalidando assim a necessidade de melhoria do secto aqui frisado nos termos da qualidade.

Todavia, apesar da existência de vários desafios apontados sobre o sistema de saúde angolano, a crise económica que assola o país, é o pior obstáculo para a marcha dos acontecimentos de maneira rectilínea e eficiente, num sistema como o nosso que nada produz e somente depende do OGE do estado, tornando desde então, difícil as circunstâncias porque passa o actual Sistema de Saúde Angolano. A crise económica, gera novos problemas sociais e de saúde com elevada ênfase na acessibilidade a serviços de saúde, na incapacidade agravada com o isolamento (com a consequente dependência de estruturas de apoio), no número de famílias com recursos económicos escassos, na diminuta capacidade do sistema de Saúde de dar resposta às demandas quotidianas decorrentes da escassez de quase todos os recursos.

Neste prisma, há que adoptar medidas que visam apaziguar este drama, e que permitam a construção de soluções aos desafios que se impõem sobre o ramo da saúde, independentemente das circunstâncias que da crise económica advêm, construir linhas de acção que sobrevivam de maneira capaz face ao actual contexto porque passa o País, será de então, o maior desafio a ser enfrentado.

Nos últimos 15 anos, a saúde em Angola, foi o sector que mais beneficiou de crescimento ao longo da sua rede pública em quase todas as paradas do País, crescimento este caracterizado pelo aumento do número de Hospitais, Escolas de Saúde e Faculdades de vária ordem, porém, o sonho de ter um sistema de saúde completamente salutar no que concerne a assistência médico – medicamentosa com qualidade, mora nos segredos dos deuses, todavia, para tal realização é necessário um conjunto de reformas e mudanças que venham dar ao sector de saúde sobre tudo no tocante à assistência hospitalar um novo contexto, um novo horizonte que venha pôr fim a negligência e ao descaso hospitalar, centrando sua total atenção à pessoa do doente num olhar biopsicossocial que encontre na esfera assistencial um prisma expresso na qualidade.

Por vezes, tem-se mesmo a sensação de que as mudanças de política são demasiado rápidas para serem acompanhadas pelo sistema de saúde em Angola, e que este acaba por evoluir de forma independente e ao seu ritmo.

A evolução do sistema de saúde Angolano tem sido marcado, nos últimos anos, por um conjunto de factores que poderão ser analisados em cinco planos distintos: a questão da responsabilidade social e individual no financiamento; dos cuidados de saúde; a possibilidade de se evoluir para um Estado Garantia (que para além de regular, seja prestador de cuidados e exigente na saúde); a aposta na centralidade do cidadão, no contexto da sociedade do conhecimento e da inovação; e, por último, a gestão instituição e mudança nos sistemas de saúde Angolano; a resistência à mudança e aos novos paradigmas por parte dos funcionários do ramo da saúde.

Nesta sorte, para que o sistema de saúde encontre um horizonte à luz de um futuro risonho, é necessário adoptar novas medidas de gestão que façam da qualidade nos termos assistenciais num pilar central, que tenha de colocar – se em posse à mudanças e as reformas emergentes que este sistema requer, todavia, é desde logo necessário, um conjunto de acções a curto, médio e longo prazo que plasmem não apenas pela oferta em quantidade, mas sobretudo na qualidade da oferta.

O sector da saúde angolano há - de conhecer melhorias nos termos assistenciais quando ouvirmos dizer que personalidades de elite, personalidades de alta relevância social foram assistidas no Hospital Maria Pia, no Américo Boa Vida, no Neves Bendinha, nos Kajoeiros, no Sanatório, no Hospital Central do Golfo, no Kapalanga, até lá, teremos um sistema de saúde efectivo, capaz de responder a todas as vozes quando chamado. Porque é a necessidade de assistir personalidades que requeram rigor e exigência no servir, que faz da prestação dos serviços instaurados numa enérgica vontade de mudança na rotina do assistir ao doente, com a necessidade de progresso permanente, exigindo a qualidade do meio em que se assiste tais personalidades de elite, tornando assim os serviços hospitalares prestados quer sejam os prestados por recepcionistas, servidores de protecção hospitalar (segurança hospitalar), maqueiros, auxiliares de acção médica, técnicos de enfermagem, catalogadoras, profissionais de limpeza, profissionais da área administrativa, motoristas de ambulâncias, profissionais da área de apoio hospitalar (área do oxigênio, área de reparação de energia eléctrica e máquinas), nutricionistas, médicos, profissionais da lavandaria, enfermeiros, fisioterapêutas, osteopatas, educadores físicos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, dentistas, terapeutas ocupacionais, psicólogos clínicos, biomédicos, assistentes em hotelaria, farmacêuticos, profissionais de análises clínicas,  profissionais da engenharia médica, técnicos em tecnologia de imagem e radiologia, acs - agentes comunitários de saúde, entre outros, num serviço com qualidade e menos mecânico, mais humano e mais atento às necessidades de melhoria da assistência prestada aos doentes.

«BEM – HAJA!»

João Hungulo: Médico, Pesquisador, Escritor, Poeta

“Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades, lembremo – nos de que, as grandes proezas da história, foram conquistadas naquilo que parecia impossível!”

Rate this item
(0 votes)