Sexta, 29 de Março de 2024
Follow Us

Quinta, 19 Abril 2018 11:14

Bem-vindo quem vem por bem cuidado com os impostores

A falta de rigor na contratação de estrangeiros não é problema recente, embora se possa ter tornado mais visível com a crise económica, pelo que não é a primeira vez que refiro o assunto.

Por Luciano Rocha

O alerta, agora com “cunho governamental”, foi feito no dia 11, em Luanda, pelo ministro do Interior, na abertura numa reunião sobre acordos de supressão e facilitação de vistos, durante a qual pediu maior exigência no perfil técnico e profissional na contratação de trabalhadores estrangeiros.

Veiga Tavares sublinhou a importância de não se contratarem estrangeiros com especialidades para os quais temos técnicos em número suficiente, “alguns dos quais jovens formados em universidades de primeira linha de países desenvolvidos”. O ministro pôs, sem rebuço, “o dedo na ferida” - apetece escrever na “chaga do descaramento” - , quando mencionou o exemplo, por demais conhecido, dos vencimentos sobrevalorizados de expatriados, “como forma sub-reptícia” de saída de capitais do país.  

Angola, também não é novidade, precisa, há-de precisar por muito mais tempo, de técnicos estrangeiros de vários sectores. Como são os casos da saúde , engenharia, agricultura e nas várias especificações que encerram. E sobressaem, cada vez mais, num mundo em constante mutação. Não é motivo de vergonha admitir isso. Países muito mais antigos e desenvolvidos do que o nosso fazem o mesmo.  Da mesma forma, não é sinónimo de xenofobia ou de outra qualquer discriminação . Mesmo naqueles casos, é importante que quem vem de fora não se limite a fazer o trabalho. É indispensável que transmita conhecimentos, ensine, forme quadros. Para quando chegar a hora de regressar à terra de origem não ficar a sensação que veio apenas para ganhar dinheiro, antes pelo contrário deixar rasto de saudade, que deixa sempre um bom professor, quem nos ajuda a crescer. Que pode voltar, por ser  bem-vindo, como é sempre quem vier por bem.

A contratação de estrangeiros sem qualificações de qualquer espécie mais não é do que forma barata de arranjar “pombos correios”, isto é, como alertou o ministro Ângelo Tavares, ardil para fuga de capitais. O mais grave é que pode haver “empresários” angolanos a fomentar esta prática fraudulenta. Porquê e para quê, por exemplo, uma casa de modas contrata estrangeiros para balconistas, um restaurante empregados de mesa, um supermercado um gerente?! Ainda por cima, quando alguns deles nunca exerceram tais profissões nos países de origem, o que significa que, mesmo que queiram, não podem ensinar! O que quer dizer que quando se forem embora apenas levarão o dinheiro do patrão.  A tudo isto há  a juntar férias e viagens periódicas. Mencionei estes casos, mas podia referir muitos mais. Como técnicos de contabilidade, pedreiros, aprendizes de electricistas. E não precisei de me armar em “007”. Limitei-me a observar.  Como qualquer cidadão minimamente atento ao que se passa no local onde vive. Para não falar nos fiscais das  Finanças, do Trabalho, da Hotelaria.

A facilitação de vistos é importante como incentivo ao investimento estrangeiro, mas requer atenção redobrada quanto aos de trabalho. Para não corrermos riscos de continuarmos a ser enganados e a escancarar as portas das capoeiras às raposas. Sequer facilitar a vida aos lobos vestidos de cordeiros. De uns e outros, já temos cá que cheguem.  Angola é terra acolhedora. Sempre foi e há-de ser, mas não podemos ser ingénuos, muito menos pactuar, pela inactividade, com os que apenas se servem dela, a extorquem, a debilitam. JA

Rate this item
(0 votes)