O alerta da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) consta de um relatório produzido por deputados daquele partido que visitaram o município diamantífero do Cuango, na província da Lunda Norte, para “constatar, no terreno, denúncias sobre uma epidemia” que alegadamente se faz sentir há mais de 90 dias, atingindo essencialmente a vila de Cafunfo.
No relatório, divulgado pelo grupo parlamentar da UNITA, liderado pelo deputado Adalberto da Costa Júnior, é referido que “há efectivamente uma doença com sintomas de malária a matar cinco a 12 crianças por dia” no Cuango, a qual “se torna estranha na medida em que ela actua de maneira muito rápida levando à morte as suas vítimas”.
Entre 1 de Setembro e 29 de Novembro de 2017, “terão perecido 1.080 crianças”, com idades até 17 anos, afirma a UNITA, cujos deputados se reuniram com famílias das vítimas, administradores locais, clínicos e autoridades tradicionais e religiosas.
“A situação actual vivida no município do Cuango é o resultado de uma governação irresponsável, uma governação sem norte e sem projectos sociais coerentes e, até, o sinal evidente de que as Autarquias em Angola devem ser implementadas com alguma urgência. As populações consomem água imprópria”, acusa a UNITA no relatório a que a Lusa teve hoje acesso.
O governador da província da Lunda Norte, Ernesto Muangala, negou estas acusações, garantindo que no hospital de Cafunfo, entre 1 de Janeiro e 30 de Novembro, registaram-se 74 óbitos de crianças por malária, com “maioritariamente” até cinco anos de idade.
Contudo, explicou, devido a um alegado surto de malária em Cafunfo, município do Cuango, foi criada uma equipa multissetorial para avaliar a situação e reforçar meios. O próprio governador, médico e antigo director em vários hospitais angolanos, foi reforçar o número de profissionais clínicos que atenderam os pacientes no hospital local.
“Não se trata de uma doença estranha ou desconhecida. Trata-se de malária”, afirmou Ernesto Muangala, reconhecendo que a situação foi agravada pelo actual período chuvoso, que propicia a reprodução do mosquito transmissor da doença.
Já a UNITA, no seu relatório, diz que a situação tem também origem na falta de saneamento básico, “já que não existe até uma simples rede de esgotos” e acrescenta que o encerramento da morgue local “faz com que os cadáveres sejam levados para casa”.
“Assim, os familiares reúnem-se em volta do morto, expondo-se a riscos de contágio”, denuncia a UNITA, criticando a falta de uma “acção governativa”, sobretudo tratando-se de uma área de grande produção de diamantes, ao longo das margens do rio Cuango.
“O modo afastado da racionalidade, os níveis e o alcance das actividades de exploração diamantífera indicam que as consequências, quer ecológicas, quer sociais e de outras esferas serão impiedosas no futuro”, acusam.
Nesse sentido, a UNITA recomendou, além da requalificação da vila de Cafunfo, a “alocação de meios à administração municipal do Cuango”, para garantir a recolha do lixo e saneamento básico, bem como a “reabilitação urgente do hospital regional”, entre outras medidas.