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Sábado, 04 Novembro 2017 22:12

Polícia nacional reconhece que faltam esquadras em bairros de Luanda

A falta de esquadras em alguns bairros de Luanda resulta da "incapacidade técnica e infraestrutural" da polícia, segundo o segundo comandante da Polícia Nacional angolana, Paulo de Almeida.

Cidadãos de Luanda queixam-se de falta de policiamento e de iluminação pública

A falta de esquadras em alguns bairros de Luanda resulta da “incapacidade técnica e infraestrutural” da polícia, disse este sábado o segundo comandante da Polícia Nacional angolana, Paulo de Almeida, recordando que a “corporação tem homens, mas não tem essas condições”.

“Claro que nós temos de zelar primeiro pela organização policial. Nós temos bairros que não têm esquadras policiais, porque não temos capacidade de pôr infraestruturas, não temos capacidades técnicas”, disse o oficial da polícia, em declarações à imprensa, em Luanda.

O comissário-chefe falava à margem do encontro de auscultação e concertação com a sociedade civil sobre a segurança pública na província de Luanda, tendo negado que a atual situação de segurança pública em Angola seja preocupante.

Não estamos a realizar isso [encontro] porque a situação está preocupante, nós é que temos de saber organizar-nos. Qualquer país deve saber organizar-se e não podemos esperar que a situação deva estar bastante preocupante para reagirmos, e é isso que estamos a fazer”, precisou.

Durante o encontro promovido pelo Ministério do Interior e pelo Governo Provincial de Luanda, o ministro do Interior de Angola, Ângelo de Veiga Tavares, exortou os efetivos da polícia a trabalharem mais durante a noite por verificar a existência de “fraco policiamento”, nesse período.

O segundo comandante da Polícia Nacional de Angola considerou a pretensão do ministro do Interior como uma “vontade política”, fundamentando que “em qualquer parte do mundo, de noite, há menos polícia“, porque o policiamento nesse período “é mais oneroso”, em comparação com o período diurno.

Os esforços de policiamento de noite são três vezes maiores do que o policiamento de dia, claro, nós hoje necessitamos de meios técnicos suscetíveis para se poder garantir um trabalho eficiente noturno”, sustentou.

“Comunidade Participativa, Segurança Garantida” foi o lema deste encontro de auscultação da sociedade civil de Luanda, em que aquele oficial da polícia defendeu a necessidade de desenvolver em Angola um policiamento de proximidade.

“Nós temos as brigadas escolares, é um policiamento de proximidade, temos contacto com as autoridades tradicionais, é um policiamento de proximidade. Enfim, há várias formas de se realizar o policiamento de proximidade. Agora o que nós queremos fazer é que toda a sociedade esteja envolvida”, justificou.

De acordo com o segundo comandante da polícia angolana, a modalidade de instalação das unidades da polícia “deve ser revista”, com intuito de “facilitar o cidadão a acorrer de forma célere aos serviços policiais, sem percorrer longas distâncias“.

Para um policiamento eficaz, observou ainda, é indispensável o concurso da sociedade: “Hoje o mundo moderno não faz policiamento, não faz segurança, sem a participação da sociedade, e qualquer Estado que efetivamente se quer defender tem de contar com sua sociedade”.

“É um exercício para mobilizar a sociedade nas suas obrigações para que possam velar pela sua segurança”, rematou.

Cidadãos de Luanda apontaram hoje a falta de policiamento de proximidade, a inoperância dos terminais telefónicos para emergências, o débil fornecimento da energia elétrica e a carência de transportes públicos, como fatores que levam ao "aumento da criminalidade".

As inquietações foram hoje apresentadas ao ministro do Interior de Angola, Ângelo de Veiga Tavares e ao governador de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, durante o encontro de auscultação e concertação com a sociedade civil sobre a segurança pública na capital angolana.

"Seria bom que as ruas principais e secundárias estivessem sinalizadas. Necessitamos igualmente de expansão de transportes públicos, sobretudo nas vias secundárias, e os delinquentes fazem mais assaltos nos táxis", disse António Silva, do município de Belas.

Igualmente preocupado com a insegurança dos cidadãos em Luanda, sobretudo nos estabelecimentos escolares, mostrou-se Hélder Silva, da Associação dos Estudantes de Luanda.

"A situação da segurança nas escolas é preocupante devido ao número reduzido [de vigilância]. Temos apenas um segurança para controlar mais de 300 alunos (...) tendo em conta que o aluno aprende várias práticas anormais e necessárias, as forças de ordem nas escolas são indispensáveis", afirmou, durante o encontro de hoje.

"Comunidade Participativa, Segurança Garantida" foi o lema do encontro que juntou no Cine Atlântico, centro de Luanda, diversos atores da sociedade civil, entre membros das comissões de moradores, administradores municipais e distritais, efetivos dos órgãos centrais e locais da polícia.

Por sua vez, o presidente da Comissão de Moradores do bairro Cipal, distrito urbano do Rangel, arredores de Luanda, denunciou a "inoperância dos serviços de emergência" e mesmo dos terminais telefónicos dos comandantes municipais.

"Eles fornecem os seus contactos dizendo que estão disponíveis 24 horas, mas quando temos uma emergência eles não atendem os telefones", disse José Kazola, lamentando os assaltos que continuam a acorrer naquela circunscrição.

"Não vemos a polícia a rondar com frequência, uns aparecem para cinco ou dez minutos e depois desaparecem, e como se não bastasse as falhas na iluminação pública fazem com que os assaltos aumentem", desabafou.

Situação semelhante também vive o bairro Cassequel Terra Vermelha, no distrito Urbano da Maianga, conforme fez saber no encontro um dos moradores da localidade, João Dala, que fala mesmo na falta de efetivos para controlar cerca de 9.000 habitantes.

"Deparamos que há dificuldade de policiamento, apenas com 16 efetivos, e não há um carro de patrulha nesta posto policial (...). Os acessos também dificultam a mobilidade da polícia e os marginais aproveitam-se disso", apontou.

Segundo ainda João Dala, a falta de espaços de lazer para juventude e a existência de apenas uma escola pública são fatores que também concorrem para o aumento da criminalidade naquela área central de Luanda, porque os jovens não têm qualquer ocupação.

"São já na sua maioria desempregados, sem um espaço para se divertirem e escolas públicas na zona. A situação é preocupante, por isso pedimos encarecidamente ao senhor governador e ao senhor ministro que olhem para isto com urgência", referiu.

Na abertura do encontro, o governador de Luanda, Adriano Mendes de Carvalho, apontou "o rápido crescimento demográfico e o surgimento de novos aglomerados populacionais, sem as correspondentes infraestruturas técnicas e de serviços", como fatores que concorrem para a "carência dos serviços básicos" à população.

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Last modified on Sábado, 04 Novembro 2017 22:28