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Terça, 06 Março 2018 12:00

Os Salteadores da Banca Perdida

Depois de 38 anos de poder absoluto, o país está num buraco, cuja profundidade e diâmetro são épicos. Estamos a assistir ao vivo e a cores ao resultado do “brilhante” plano de criação de uma nova burguesia, conseguido, com sucesso, por via da Primitiva Acumulação de Riqueza, cuja consequência foi a derrota do progresso social e do desenvolvimento económico de Angola.

Por Alexandra Simeão

Hoje somos notícia, um pouco por todo o mundo, por termos dirigentes e empresários que são donos de fortunas obscenas em bancos estrangeiros, conseguidas em cima do sofrimento de milhões de angolanos, tendo em conta que a maioria deste dinheiro é tão sujo quanto uma fossa, mas a sua proveniência teve como base quer o erário, quer o malabarismo permitido pelo acesso à cozinha do poder, que foi conivente com toda a trama de corruptos e delinquentes económicos, que de forma predadora arruinaram o país.

Todos os dias novos e velhos episódios desfilam pela imprensa nacional e internacional; são notícia pelas piores razões e olhamos para estes “salteadores da banca perdida”, que se passeiam entre nós sem perder o sono, nem o descaramento, com total indignação, aguardando que a nossa Justiça se mexa e se cumpra, pois a corrupção quando afunda um País tem que ser considerada um Crime contra a Humanidade.

Por causa dos “salteadores da banca perdida” milhares de crianças perderam a vida, derrotadas pela pobreza de famílias que não podiam sequer comprar medicamentos para curar a malária que, há anos, é a principal causa de morte em Angola, porque a governação foi traiçoeira e comeu sempre o dinheiro do saneamento básico e da saúde pública. Milhões de jovens estão sem futuro, sem qualquer esperança e sem escolaridade, engrossando o drama de viver no desemprego e tendo pouca serventia para construir a pátria, pois durante décadas a Educação foi tratada como um assunto periférico e de somenos importância por gente que nunca se importou com o desenvolvimento do país e por isso nunca percebeu quão necessário era um financiamento realista que garantisse a qualidade e a universalidade da oferta educativa, porque só desta forma as nações se tornam prósperas.

"Não se podem esperar resultados diferentes que contribuam para a moralização da sociedade quando os principais responsáveis da nossa desgraça vivem de forma principesca com o dinheiro público e sem serem, sequer, incomodados pelas nossas autoridades. Que moral tem o Estado de nos cobrar impostos? "

O drama da maioria das famílias que lutam para sobreviver apenas com uma refeição por dia parece não incomodar as consciências de quem pode, mas não fez nada para garantir dignidade a estas pessoas. As mães que acordam às 4 horas da manhã para, na zunga, conseguirem parar a dor dos seus filhos, porque a fome dói, foram e são escorraçadas como criminosas, quando o crime sempre esteve na mão de quem nunca se importou em garantir um país para que os pobres deixassem de ser pobres e não se olhasse para eles apenas no dia do voto, num total descaramento de quem esqueceu os princípios pelos quais tantos milhões de angolanos se sacrificaram para garantirem que Angola fosse nossa.

Não contem com a minha solidariedade para com estas pessoas pequeninas e rastejantes que nunca acreditaram em Angola e por isso tudo o que têm de bom está fora daqui, família, dinheiro, médico, vinho e a falta de sentido de acharem que são patriotas. Não esperem que me cale quando vejo o descaramento das “fortunas da morte” a desfilar em Saint-Tropez, Lisboa, Paris, São Paulo, Londres ou noutro sítio e a serem colocadas nas redes sociais sem qualquer respeito por um povo que sofre todos os dias, há 42 anos, e depois quando são acusados fora de portas nos dizerem que se tratam de “assuntos de soberania nacional”.

Não se podem esperar resultados diferentes que contribuam para a moralização da sociedade quando os principais responsáveis da nossa desgraça vivem de forma principesca com o dinheiro público e sem serem, sequer, incomodados pelas nossas autoridades. Que moral tem o Estado de nos cobrar impostos? Que Moral? Quando o dinheiro público é desviado nas barbas das instituições que assobiam e olham para o lado? Dinheiro que a maioria das vezes teve que sacrificar mais conforto, mais pão, mais medicamentos na vida das famílias? É dinheiro público que estes comedores de serviço, filhos, netos, enteados, sobrinhos, pessoas com e sem patente, com e sem cargo público, usaram para nos ofender e afundar o nosso país, todos protegidos por um partido que deixou, de facto, de fazer sentido, quando os militantes de bem se calaram e deixaram que a afronta destas pessoas sem conteúdo efectivo fosse considerada normal e aceite sem resistência.

É lamentável, doloroso e criminoso, ver um povo inteiro a rastejar por pão no prato, por um paracetamol, uma escola primária decente, água potável, chuva que não mate mais um filho ou lhe roube o único tecto que tem, sem ninguém que o defenda. Os outros que podiam fazer a diferença e trazer para o discurso político algum impacto, tornaram-se reféns das mordomias institucionais e hoje são políticos empregados e não representantes do povo.

A Democracia em Angola está em perigo, refém dos lobbys, da corrupção, do compadrio e da militância. A nossa Constituição precisa de ser alterada com urgência. Precisamos de gente nova, criativa, empenhada, solidária, que nutra amor pelo próximo e que encare a salvação da Pátria como uma Missão. Porque sempre que isto acontece, sempre que se coloca amor na causa tudo flui, as pessoas sentem os afectos e com isso sentem-se protegidas e o país acontece, porque o fim de um Estado de Bem tem que estar assente na bondade, pois apenas esta permite a criação de todas as condições para que o Povo seja Feliz. CA

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