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Segunda, 26 Fevereiro 2018 12:00

Libertadas mais de 70 pessoas detidas em protesto na província da Lunda Norte

As autoridades policiais angolanas libertaram hoje mais de 70 das 101 pessoas detidas no sábado, na província da Lunda Norte, durante um protesto para reivindicar a autonomia do Reino Lunda, no qual morreu um jovem de 26 anos.

A informação foi confirmada hoje à Lusa pelo presidente do Movimento Protetorado Lunda Tchokwe, promotor da manifestação de sábado, que segundo José Mateus Zecamutchima tinha sido comunicada às autoridades angolanas a 15 de janeiro.

"Não esperávamos esta reação brutal sobre o nosso povo. A manifestação foi completamente violentada, detiveram ao todo 101 pessoas e 19 ficaram feridas, após a intervenção da polícia. Um jovem foi ainda baleado e acabou por morrer em casa, no Cafunfo", explicou o presidente daquele movimento.

De acordo com José Mateus Zecamutchima, após a libertação, esta manhã, de grande parte dos manifestantes, seis ainda permanecem detidos no município do Cuango e 24 em Capenda Camulemba.

"Muitos refugiaram-se nas matas porque a polícia está a fazer rusgas às casas dos elementos do nosso movimento. Mas nós não estamos a fazer nada que não esteja dentro da legalidade", sublinhou, recordando que o protesto surge depois de uma carta enviada pelo Protetorado ao Presidente angolano, João Lourenço, a pedir diálogo para "restabelecer a autonomia das Lundas como um direito natural".

Aquele movimento reivindica a autonomia de uma vasta região no leste de Angola e anunciou em 2015 o reforço da "mobilização e consciencialização" da população para o tema, depois de a Assembleia Nacional ter emitido um parecer desfavorável à pretensão.

A posição constava então do comunicado final sobre a reunião metodológica dos secretariados regionais daquele movimento, que teve lugar em Lucapa, na Lunda Norte, entre 09 e 11 de abril, durante a qual foi reforçada, pelos presentes, a pretensão "do direito à autonomia da Nação Lunda Tchokwe".

A Assembleia Nacional de Angola, através da Comissão de Relações Exteriores, Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas no Estrangeiro, deu parecer desfavorável à revindicação de autonomia do denominado Reino Lunda, no interior do país, em reunião de 30 de março de 2015.

O Reino Lunda abrange um vasto território no interior de Angola, do norte a sul, envolvendo as províncias da Lunda Norte, Lunda Sul, Moxico e Cuando Cubango.

Na área norte deste território (Lundas), está concentrada a produção angolana de diamantes, a segunda principal fonte de receitas em Angola, depois do petróleo.

Os promotores desta reivindicação baseiam-se num acordo celebrado entre os representantes de Portugal e da Bélgica, antigas potências coloniais na região, antes da Conferência de Berlim (1884-1885), que delimitou as fronteiras das colónias africanas.

Já a Assembleia Nacional recordou que o referido acordo "não respeitou a história, as relações étnicas e os laços de consanguinidade existentes entre os seus povos". Contudo, para "prevenir potenciais conflitos armados", devido a disputas territoriais, a Carta da Organização da Unidade Africana e da União Africana estabelecem a "intangibilidade das fronteiras herdadas das potências coloniais, como norma imperativa".

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