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Quinta, 11 Janeiro 2018 12:47

Industriais angolanos preocupados com especulação provocada por depreciação do kwanza

O presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, criticou hoje a forma como está a ser conduzida a depreciação em curso do kwanza angolano, receando os efeitos da especulação da cotação do mercado de rua na inflação.

O kwanza angolano fechou na terça-feira com uma depreciação total de 16% face ao euro, passando a moeda europeia a ser a referência para o mercado de câmbios de Angola, no âmbito do novo regime flutuante cambial em vigor, enquanto a quebra face ao dólar rondou os 10%.

"Era previsível, mas também é apenas um tatear para o problema grave que nós vivemos", começou por apontar José Severino, em declarações à Lusa.

"Nós tínhamos recomendado medidas, mas o Governo é muito passivo. Sabemos, por experiência de outras desvalorizações antigas, que a tendência é haver uma aceleração da especulação no mercado de rua e não estão a ser tomadas medidas preventivas para os produtos da cesta básica, que são importados em boa parte", acrescentou.

Angola fechou o ano de 2016 com uma inflação acumulada superior a 40%, prevendo para 2017 uma descida para cerca de 25% e desde o primeiro trimestre de 2016 que a taxa de câmbio oficial definida pelo BNA estava fixa nos 166 kwanzas por cada dólar norte-americano e nos 186 kwanzas por cada euro.

Contudo, face à falta de divisas aos balcões dos bancos comerciais, o mercado de rua, que para muitos constitui a única alternativa para aceder a moeda estrangeira, desde as eleições gerais de agosto que antecipa uma desvalorização da moeda angolana, transacionando nos últimos dias cada dólar a praticamente 450 kwanzas e o euro acima dos 510 kwanzas.

Para José Severino, sem medidas de proteção definidas pelo Governo, alguns dos produtos da cesta básica "vão ter custos maiores", face à depreciação agora em curso.

"Corresponde a dizer que as bolsas das famílias vão ter dificuldades", observou, admitindo a redução das margens comerciais como uma alternativa que deveria ser equacionada pelo Governo face ao agravamento dos custos com as importações, face à depreciação do kwanza.

"Infelizmente o executivo é muito passivo perante aquilo que a sociedade civil diz. O Presidente da República está a pedir cada vez mais concertação social, mas não está a ser possível nesta fase inicial, há uma espécie de inércia na maioria do executivo, talvez porque se espera pelo que diz o Presidente da República", criticou José Severino.

No final do dia de terça-feira, já com os efeitos da indexação do kwanza angolano ao euro, a cotação oficial apurada pelo BNA para comprar um dólar norte-americano e um euro ficou-se, respetivamente, nos 185,5 kwanzas e 221,2 kwanzas.

No sentido contrário, o euro valorizou 19% e o dólar norte-americano quase 12%, face ao kwanza angolana, respetivamente.

Trata-se da primeira desvalorização real da moeda angolana em quase dois anos e que resultou do novo regime flutuante cambial em vigor, aplicado quando as Reservas Internacionais Líquidas do país estão em mínimos históricos, de 14.000 milhões de dólares, devido à crise da cotação do petróleo.

A Lusa noticiou a 04 de janeiro que os preços indicativos propostos pelos bancos comerciais angolanos vão passar a definir o novo regime flutuante cambial no país, conforme informação do banco central, que já definiu o intervalo de cotação deste modelo.

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