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Terça, 14 Junho 2016 16:36

FMI pede a BNA para injetar mais divisas para travar crise cambial

O chefe da missão do FMI que está em Luanda a negociar um programa de assistência solicitada pelo Governo angolano defendeu hoje o recurso às reservas internacionais face à crise cambial no país, admitindo novas desvalorizações da moeda nacional.

A posição foi transmitida por Ricardo Velloso na conferência de imprensa final desta missão técnica do Fundo Monetário Internacional (FMI), que iniciou as reuniões com o Governo e outras entidades angolanas, a 01 de junho, em Luanda.

Começando por salientar que Angola "tem que aprender a viver com menos disponibilidade" de divisas, também tendo em conta a crise provocada pela quebra da cotação do barril de crude no mercado internacional, o economista brasileiro recordou que a inflação a um ano, que atingiu em maio os 29,2%, refletiu-se num kwanza "fraco".

Assim, só desde setembro de 2014, a moeda nacional angolana desvalorizou-se, recordou, em mais de 40%, face ao dólar norte-americano, para 166 kwanzas para um dólar, à taxa oficial. No mercado paralelo - a única alternativa face à falta de divisas nos bancos - essa cotação está acima dos 500 kwanzas.

"Não olhamos a taxa de câmbio no mercado paralelo como uma indicação do que deve ser a taxa de câmbio oficial, ainda há muita especulação e pressão pontual nesse mercado, que é muito limitado. Mas há espaço, do ponto de vista da taxa oficial, para mais ação por parte do Banco Nacional de Angola [BNA], para diminuir a pressão que existe", apontou Ricardo Velloso.

Admitiu igualmente que as "restrições administrativas existentes para aceder a divisas à taxa oficial", tendo em conta que os bancos não disponibilizam e os leilões do BNA são reduzidos face à procura, "constituem um constrangimento à atividade e diversificação económicas" e "precisarão de ser levantadas gradualmente".

As Reservas Internacionais Líquidas (RIL) angolanas - moeda estrangeira que permite nomeadamente a aquisição ao exterior de matéria-prima para as indústrias e produtos alimentares - caíram cerca de seis mil milhões de euros desde 2014.

Cifravam-se em maio, segundo um relatório do BNA que Lusa divulgou hoje, em 24.408 milhões de dólares (21,6 mil milhões de euros), uma quebra face aos 24.774 milhões de dólares (21,9 mil milhões de euros) de abril.

"A nossa recomendação também é que o BNA use um pouco mais das suas reservas internacionais para diminuir a pressão que existe a curto prazo. E também aumentar a remuneração dos ativos em kwanzas, que estão por exemplo com taxas de juro negativas [tendo em conta a taxa de inflação face aos juros pagos] para depósitos, para cativar ativos das famílias e empresas", apontou Velloso.

Questionado pelos jornalistas, o chefe da missão do FMI disse ainda que dívida pública angolana - a governamental, fora o setor empresarial, deverá chegar ao final do ano próximo dos 50% do Produto Interno Bruto - "ainda está num cenário de sustentabilidade".

"Não é um tema que no momento nos preocupa", admitiu Ricardo Velloso.

O Governo angolano e o FMI estão a negociar um Programa de Financiamento Ampliado (EFF, na sigla em inglês) com vista à diversificação da economia angolana além do petróleo, que, admitiu hoje o chefe da missão, poderá envolver um envelope financeiro de até 4,5 mil milhões de dólares, disponibilizado ao longo de três anos e com reembolso num prazo máximo de 10 anos.

As conversões, disse Ricardo Velloso, vão prolongar-se durante o segundo semestre deste ano, com mais "uma ou duas missões". Acrescentou no entanto que o Governo angolano ainda terá de clarificar se mantém o pedido de assistência, apresentando ao FMI numa altura em que o barril de crude estava próximo de metade do valor atual, acima dos 50 dólares.

© Lusa

 

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