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Quinta, 13 Setembro 2018 08:45

Isabel dos Santos questiona “estratégia” da política econômica do governo de João Lourenço

Isabel dos Santos questiona qual a estratégia que está a ser seguida em Angola pelo governo de João Lourenço, tendo em conta que o crude está acima dos 80 dólares há quase um ano e o país continua em recessão.

A empresária Isabel dos Santos, afastada pelo Presidente de Angola João Lourenço da liderança da Sonangol, questiona as opções económicas do Chefe de Estado. Na rede social Twitter, a filha de José Eduardo do Santos questiona como é possível o país continuar mergulhado numa “profunda crise económica”, quando o barril de crude — a base da economia angolana — está há mais de um ano acima dos 80 dólares.

A empresária questiona “qual a estratégia” que está a ser seguida, já que são inúmeras as empresas angolanas que registam perdas financeiras enormes.

Angola está a negociar com o Fundo Monetário Internacional um um programa de assistência financeira para viabilizar o crescimento económico e reduzir o rácio da dívida. Segundo o ministro angolano da Economia, Pedro da Fonseca, as receitas fiscais não são suficientes para pagar a dívida pública este ano, que vai superar os 70% do PIB, este ano. Mas o rácio da dívida face às receitas fiscais é de 114%, segundo o responsável.

Em causa está um empréstimo do FMI de 3,9 mil milhões de euros, mas que virá trazer condicionantes. No entanto, o próprio Chefe de Estado já tentou desdramatizar o pedido de ajuda sublinhando que os programas do FMI “não são todos iguais”, realçando que o pedido de financiamento angolano não tem a gravidade do português. No final da visita oficial à Alemanha, a 23 de agosto, João Lourenço disse que Angola vai beneficiar do financiamento do Fundo “em condições melhores que o crédito de outros bancos, bancos comerciais”. “Vamos ganhar com isso, não temos receio, sabemos que quando se fala de FMI se tem a ideia de que é um bicho papão de que é preciso ter cuidado. Depende. Os programas do FMI não são todos iguais. Não estamos a falar de um resgate como o que aconteceu noutros países europeus, como Portugal ou a Grécia. Não é disso que se trata, é um outro tipo de ajuda financeira, que não tem a gravidade que tem um programa de resgate”, esclareceu.

O Presidente angolano vai reunir-se com o FMI em outubro e está prevista uma visitar da diretora geral do FMI a Angola em dezembro.

Há muito que economistas, instituições internacionais e agências de rating apontam a dependência de Angola das receitas petrolíferas como uma fragilidade, já que o país fica exposto à forte volatilidade nos preços desta matéria-prima. O programa do FMI ajudará a diminuir a dependência do petróleo e a diversificar a economia e a fiscalidade. Uma das novidades na calha é introduzir o IVA, uma mudança que deverá acontecer em 2019.

A queda dos preços do petróleo que se registou nos últimos anos levou a uma escassez de divisas e a uma quebra nas importações, o que acaba por afetar a atividade das empresas, nomeadamente as portuguesas. Não só têm falta de matéria-prima como se veem impedidas de repatriar os lucros dada a falta de moeda estrangeira.

Este ponto já foi também alvo de crítica por parte de Isabel dos Santos a João Lourenço. Depois do Chefe de Estado ter ido a Bruxelas, em junho, para apelar ao investimento estrangeiro em Angola, prometendo condições iguais para todos no processo de privatizações que o Governo pretende lançar brevemente e que vai incluir empresas públicas do setor petrolífero, Isabel questionou no Twitter “qual o investidor que vai entrar se não se dá autorização aos atuais investidores estrangeiros para levarem os lucros em dólares?”.

Esta posição da empresária mereceu resposta de João Lourenço que lamentou que “desencoraje o investimento para o seu próprio país”. “Eu não queria entrar em mesquinhices deste tipo para uma cidadã nacional que desencoraja o investimento para o seu próprio país. É o único comentário que tenho a fazer”, sublinhou quase dois meses depois.

A empresária foi bem mais célere na resposta a João Lourenço. No dia seguinte, novamente nas redes sociais ironizou frisando que continua a investir em Angola e a acreditar no povo angolano. “Há uns que tapam o sol com a peneira, há outros que constroem abrigo para se por à sombra… e trabalham para comprar ar condicionado. Faço parte da segunda categoria”, escreveu a filha do ex-Chefe de Estado angolano.

Esta quinta-feira, o West Texas Intermediate (WTI), negociado em Nova Iorque, está a cair 1,52%, para cotar nos 69,3 dólares por barril, e o Brent, que serve de referência para as importações de Portugal, também cai 0,97% para os 78,97 dólares, depois de ontem ter superado a barreira dos 80 dólares. ECO

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