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Quarta, 11 Julho 2018 21:17

Governo angolano prepara cronograma de pagamentos às empresas portuguesas

O Governo angolano vai preparar até setembro um cronograma para regularização dos pagamentos em atraso às empresas portuguesas, essencialmente de construção, de centenas de milhões de euros, anunciou hoje o secretário de Estado da Internacionalização de Portugal.

Eurico Brilhante Dias falava hoje aos jornalistas no balanço dos dois dias de visita oficial a Angola, em que participou na 34.ª edição da Feira Internacional de Luanda, tendo mantido reuniões de trabalho ainda com membros do Governo angolano e no Banco Nacional de Angola (BNA), além de contactos com empresários portugueses.

Em cima da mesa das reuniões esteve a preparação da visita a Luanda do primeiro-ministro português, António Costa, a 17 e 18 de setembro, bem como as preocupações de empresários e trabalhadores expatriados com os atrasos no recebimento de pagamentos e na transferência de divisas ou salários para o exterior, devido à crise financeira, económica e cambial angolana, que se arrasta desde 2014.

Questionado pela agência Lusa sobre a possibilidade de as empresas terem de negociar, reduzindo os valores em dívida ao Estado angolano, Eurico Brilhante Dias sublinhou que o Governo português não se coloca "no meio" das negociações da República de Angola com as empresas privadas.

"As empresas portuguesas têm legitimamente a vontade, a necessidade e a expectativa de receber uma parte substantiva daquilo que foi a sua emissão de fatura. Agora, compreendemos que cada caso é um caso e nós não vamos impor, e muito menos estaremos a ir para além das nossas competências, uma solução única para todas as empresas. Umas aceitarão determinadas condições, outras não", disse o secretário de Estado.

Sem quantificar, admitiu que em causa estão pagamentos em atraso "na casa das várias dezenas de mil milhões de kwanzas", equivalente a centenas de milhões de euros, tendo em conta que, além da regularização, ainda é necessária a disponibilização de divisas, para transferência para o exterior.

Eurico Brilhante Dias acrescentou que existe o compromisso do BNA, nos valores de maior montante a transferir para Portugal, de um "acompanhamento personalizado de cada caso" e empresa, bem como a proposta de um cronograma de regularização", por parte das autoridades angolanas.

"Compreendendo as circunstâncias difíceis por que passou a economia angolana em 2015, 2016 e 2017, que há uma prioridade fundamental, que é a manter a atividade económica a funcionar e que até à vinda do senhor primeiro-ministro a Luanda vamos ter a possibilidade de ter um quadro fiel, mas acima de tudo um cronograma, uma metodologia de regularização. Esse foi o pedido que fizemos junto das autoridades angolanas e que tivemos, eu diria, bastante aceitação e uma anuência", anunciou o governante português.

Em paralelo, explicou, vai decorrer um processo de certificação da dívida entre os ministérios setoriais de Angola, que contrataram as empresas portuguesas, e o Ministério das Finanças angolano.

"É um processo que, devo dizer, até excedeu as nossas perspetivas iniciais. O valor certificado já vai além do valor com que eu parti de Lisboa. Esperamos que nos próximos dois meses [visita do primeiro-ministro], e para futuro, esse processo possa ser acelerado e termos de facto uma certificação da larga maioria da dívida. Hoje, eu diria que estaremos entre 20 a 25% de certificação, e portanto temos um caminho a fazer e é esse caminho que as autoridades angolanas se propõem fazer com as empresas portuguesas", disse.

Sobre transferências de pequenas e médias empresas, bem como de salários de trabalhadores portugueses expatriados para Portugal, reconheceu que "apesar de tudo há uma regularização dos atrasados, que já começou".

"Um processo que gostaríamos todos que fosse mais rápido, mas que está em execução", sublinhou Eurico Brilhante Dias.

Sem quantificar, anunciou que nas transferências em atraso referentes ao período entre 2013 e 2017, "os dados que foram reportados pela banca comercial ao BNA foram sujeitos à avaliação e autorização de transferência".

Os valores de divisas a transferir este ano já passam a ser feitos com recurso ao modelo de leilões, realizados pelo banco central, aos quais concorrem os bancos comerciais.

"Trago a expectativa de que o ano de 2018 seja um ano melhor para os portugueses, do ponto de visto do acesso a divisas para eles próprios, também junto da economia portuguesa, muitos deles regularizarem as suas dívidas junto da banca portuguesa e de fornecedores", concluiu.

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