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Quarta, 30 Mai 2018 11:28

Estado angolano ainda tem de injetar US$ 134 milhões no capital social do BPC

O Estado angolano necessita de injetar 31.500 milhões de kwanzas (134 milhões de dólares) no Banco de Poupança e Crédito, para completar o capital social do maior banco nacional, em processo de reestruturação devido ao volume de crédito malparado.

A informação consta da análise da auditoria externa às contas de 2017 do BPC, totalmente detido pelo Estado, elaborada pela UHY - Auditores & Consultores, à qual a Lusa teve hoje acesso e que alerta desde logo que a "capacidade do banco para continuar as operações depende do sucesso das suas atividades futuras, da manutenção dos depósitos dos seus clientes e da continuação do suporte financeiro dos seus acionistas".

Os auditores recordam que já foram realizados aumentos do capital social do BPC nos montantes de 90.000 milhões de kwanzas (480 milhões de euros, à taxa de câmbio do período) em 2017, mais 90.000 milhões de kwanzas (480 milhões de euros, à taxa de câmbio do período) em 2016 e 36.000 milhões de kwanzas (190 milhões de euros, à taxa de câmbio do período) em 2015.

O Estado angolano é acionista do BPC, através do Ministério das Finanças (75%), do Instituto Nacional de Segurança Social (15%) e da Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas (10%), que suportaram, na proporção da sua participação, o financiamento do aumento de capital do banco, no âmbito do processo de reestruturação em curso, devido ao volume de crédito malparado.

"Não obstante, para além de o capital social não se encontrar integralmente realizado pelos acionistas no montante de 31.500 milhões de kwanzas, a sua realização tem ocorrido em grande parte através da emissão de Obrigações do Tesouro em moeda nacional (não indexadas à taxa de câmbio de qualquer moeda estrangeira), remuneradas a uma taxa de juro fixa de 5% e com maturidade de 24 anos", alerta a análise dos auditores.

Os acionistas do BPC aprovaram na sexta-feira, em assembleia-geral, o relatório e contas referente ao exercício de 2017 e o Plano Estratégico para o quinquénio 2018-2022. O banco registou um Produto Bancário positivo de 50.900 milhões de kwanzas em 2017, mas o resultado líquido do exercício foi negativo em 73.100 milhões de kwanzas (395 milhões de euros à data de 31 de dezembro último).

A Lusa tinha já noticiado este mês que o BPC registou em 2017 um buraco de 5.200 milhões de dólares (4.300 milhões de euros), de ativos com baixo desempenho e em incumprimento, essencialmente crédito malparado, o segundo pior registo da história da banca em Angola.

Os dados constam do prospeto da emissão de 'eurobonds' de 3.000 milhões de dólares (2.500 milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano - concretizada pelo Estado angolano este mês -, que foi enviado aos investidores e ao qual a Lusa teve acesso.

No mesmo mês - dezembro de 2017 -, o Estado angolano já tinha emitido títulos de dívida pública no valor de 231 mil milhões de kwanzas (1.080 milhões de euros) a favor da sociedade estatal Recredit, para compra de valor equivalente de crédito malparado do BPC, que tentará depois cobrar.

Segundo a informação do BPC, o processo de saneamento da carteira de crédito, iniciado em 2017 com a Recredit, deverá estar concluído até final deste ano.

Em 2014, um volume de crédito malparado superior a 5.700 milhões de dólares (4.755 milhões de euros) obrigou à intervenção do Estado no Banco Espírito Santo Angola (BESA), constituindo este o maior buraco da banca do país. Após o colapso do BES português, o BESA foi transformado, por decisão dos novos acionistas e conforme exigência do banco central angolano, em Banco Económico, a 29 de outubro de 2014, avançando também um aumento de capital e a entrada da petrolífera Sonangol no capital social (39,4%).

Em 2017, a administração do BPC constituiu 72,7 mil milhões de kwanzas (392,2 milhões de euros) para "imparidades e provisões" do exercício de 2016, refletindo nas contas uma perda potencial ou efetiva de quase 400 milhões de euros em créditos concedidos anteriormente.

Em 2015, o BPC tinha 406 agências em todo o país, com 5.354 trabalhadores, números que subiram, respetivamente, para 443 e 5.530 até final do ano seguinte. Entretanto, a instituição iniciou um processo de redução do número de agências em todo o país.

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