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Quinta, 12 Abril 2018 16:45

Professores angolanos em greve devolvem apelos ao patriotismo ao MPLA

Guilherme Silva Guilherme Silva

O Sindicato Nacional de Professores (Sinprof) angolanos considerou hoje que o apelo ao patriotismo feito aos professores em greve pelo MPLA, partido no poder, deve antes direcionar-se aos cidadãos "que surripiaram o erário público".

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Sinprof, Guilherme Silva, que reagia ao apelo feito, quarta-feira, pelo MPLA, questionou o que entende o partido no Governo por patriotismo.

"Eu não sei o que é que eles consideram sentido patriótico. Mas o professor que trabalha lá na aldeia, gasta do seu dinheiro, não tem subsídio de transporte. Não é como os governantes, os parlamentares. Ele não tem subsídio de transporte, não tem meio próprio, esse não é patriota, ainda vêm apelar ao patriotismo", questionou.

Guilherme Silva pediu que os professores sejam tratados "com respeito", porque "não é com 49.000 kwanzas [182 euros, de salário], alguém a morrer de fome, você vai lhe apelar ao patriotismo".

"Falam de patriotismo, porque estão todos garbosos, bem nutridos, têm tudo à sua volta, claro que apelam ao patriotismo, depois do almoço a palitar, nós não, a sorte é comer uma mandioca", lamentou.

O sindicalista exorta o partido no poder para que lance o apelo ao patriotismo "àqueles que surripiaram o erário público", levando para o exterior "milhões e milhões".

"Eles que apelem a estes cidadãos angolanos, à consciência de eles repatriarem esses valores para o país, no sentido de capitalizar a nossa economia. Este apelo deve ser direcionado àqueles lá, não a nós", reiterou.

Segundo Guilherme Silva, o apelo também deve ser dirigido ao executivo, para resolver essa questão, no sentido de os professores serem bem remunerados, terem atualizações de categorias e ser primeiro a atualização de categorias e apenas depois a contratação de novos docentes.

"Que não cometam o erro de contratar primeiro. Atualizem primeiro e no final do ano podem contratar novos professores", disse.

O apelo do MPLA, partido no poder desde 1975, consta do comunicado final da segunda reunião extraordinária do secretariado do Bureau Político, que decorreu quarta-feira, em Luanda, sob orientação de João Lourenço, vice-presidente do MPLA e chefe de Estado angolano, na ausência de José Eduardo dos Santos, líder do partido.

Na mesma declaração, o secretariado do partido manifesta-se "preocupado face à greve de professores", do ensino geral iniciada na segunda-feira, e que se prolonga até 27 de abril, tendo "exortado o executivo a envidar todos os esforços para que se encontrem consensos".

Foi feito ainda o apelo "para que, da parte dos docentes, prevaleça uma atitude patriótica, em prol das crianças angolanas e do seu direito à educação e ensino".

Em causa, a motivar esta paralisação, segundo o Sinprof, está a falta de resposta do Governo ao caderno reivindicativo apresentado ao Ministério da Educação em 2013.

Naquele caderno reivindicativo, os professores reclamam a aprovação do novo Estatuto da Carreira Docente, sendo atualmente também motivo de insatisfação a estratégia governamental de priorizar o concurso público de admissão de 20 mil novos professores em detrimento da atualização de categoria dos docentes em serviço.

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Last modified on Quinta, 12 Abril 2018 19:33