Print this page
Domingo, 24 Setembro 2017 22:20

Crise económica angolana não é só culpa do petróleo

Autoridades erraram ao assumir preço do petróleo muito acima da média, diz analista

A ideia de que a crise económica e financeira em Angola está ligada apenas a queda da baixa do preço do petróleo no mercado internacional é uma falácia, disse o Director Executivo do MOSAIKO-Instituto para Cidadania, Frei Mário Rui.

Segundo Mário Rui as autoridades angolanas cometeram o erro de assumir “um preço exageradamente alto do petróleo como preço de referência”.

“O preço do petróleo neste momento é o médio dos últimos 40\50 anos” disse o analista que frisou que “desde o princípio dos anos 70 ter o preço do barril a 50 USD é preço médio”.

“Só que nós como apanhamos uns dez anos em que esteve a 100\120 e achamos que o normal seria aquele», defendeu o também docente universitário.

A quebra do preço do petróleo tem tido consequências indeléveis na economia angolana, sobretudo no PIB-Produto Interno Bruto.

O não crescimento da economia angolana, na visão do economista e docente universitário Alves da Rocha, condiciona o desenvolvimento de outros sectores da vida pública de Angola.

Alves da Rocha Director Geral do Centro de Estuidos e Investigação Científica, CEIC entende que a baixa do preço barril de petróleo devia ser uma oportunidade para obter outras fontes de financiamento da economia, porém há obstáculos como a corrupção e a burocracia que dificultam a inversão do ciclo;

«O essencial das oportunidades e os financiamentos continuam a ter uma componente política muito elevada, e isto não pode continuar assim», disse

O economista sublinhou por outro lado que «não podem a ser sempre os mesmos grupos a terem acesso aos financiamentos e a informação que dá conta de oportunidades que o próprio Estado pode criar», porque “para além de desincentivar o funcionamento das economias» é tremendamente injusto do ponto de vista social.

«A Constituição da República diz que o acesso as oportunidades é democrático, tem ser facilitado para toda gente”, disse o economista.

“ Portanto, não se pode continuar a concentrar a localização destas oportunidades e dos financiamentos num grupo de pessoas ligadas ao poder político», acrescentou.

Para o director do CEIC é importante que o sector público crie as necessárias condições para que o investimento privado flua e para que as iniciativas empresariais nacionais resultem na geração de rendimentos mas para isto acontecer tem que se ultrapassar dois problemas, nomeadamente «a burocracia e a corrupção».

Angola é signatária de acordos internacionais contra a má governação e possui no seu ordenamento jurídico leis contra corrupção, crimes como desvios de recursos e lavagem de dinheiro.

A Instauração de uma Alta Autoridade Contra Corrupção prevista na legislação angolana desde 1996, é umas das saídas para se pôr cobro ao “segundo mal de Angola”.

Viera Lopes apontou o sector da energia é uma componente fundamental para o sistema produtivo nacional.

O Director Geral do CEIC reconhece que poderosos investimentos têm sido feitos no sector energético, porém é na distribuição e na disponibilidade para a indústria onde reside o maior problema.

«O sistema produtivo nacional não pode continuar a viver de geradores”, disse.

“ O funcionamento de uma indústria, a disponibilidade de energia para agricultura em termos competitivos não pode depender de geradores», acrscentou

Filomeno Vieira Lopes é economista, político e quadro sénior reformado da Sonangol, a maior empresa pública de Angola, entende QUE a corrupção é um assunto sério no país pelo facto de afectar a estruturas políticas do Estado angolano.

«O Estado corrupto perde naturalmente legitimidade, é por isso que agora estamos contentes com o lema da credibilização, quando há instituição que não se fazem respeitar», disse o economista e membro da direcção do partido Bloco Democrático, para quem «por causa da corrupção temos situações terríveis perfeitamente elementares, criticadas por qualquer criança desde o estado do saneamento básico, Às mortes que se fazem nos hospitais e tudo isto….”

Vieira Lopes recordou que “um Estado que não cuida destas questões públicas simples é um Estado delinquente».

Frei Mário Rui, Director Executivo do MOSAIKO-Instituto para Cidadania recorre ao sector para saúde para exemplificar que investir grandes somas monetárias não é o mais importante. Onde e como o dinheiro é aplicado, é sim o elemento que vai determinar o desenvolvimento humano e social em Angola

«No caso de Angola, questões como o acesso à água potável e saneamento, supostamente não são competências do Ministério da Saúde, são eventualmente tão importante para o bem-estar da saúde dos angolanos como ter medicamentos nos hospitais», explicou o sacerdote formado em Gestão e Administração, que acrescenta a esta “questão-chave” a energia.

Para os próximos anos e, com a tomada de posse do novo Governo, o Economista Filomeno Vieira Lopes, augura o aumento da produção interna e o desenvolvimento de um mercado interno, o que poderá resultar num desenvolvimento sustentável que ultrapassa os limites do sector económico.

«Quando falamos no desenvolvimento sustentável estamos a falar numa articulação de instâncias desde a política, espacial, ecológica, económica... Portanto, o desenvolvimento sustentável não tem só a ver com a economia. É por isso é que a economia não pode desenvolver se não existir combate a corrupção, combate ao desperdício», disse

Uma administração com seriedade, transparência e rigor deverá ser um dos desafios para o novo governo, de modos que o sistema repousa em “caboucos” da corrupção”.

O antigo funcionário sénior da Sonangol pensa que a partidarização da sociedade, das instituições e da política é outro dos grandes desafios de Angola.

«É necessário que haja coragem política para que esta partidarização não se efectue», disse. (Voa)

Rate this item
(0 votes)

Latest from Angola 24 Horas

Template Design © Joomla Templates | GavickPro. All rights reserved.